19 outubro 2020

VIOLÊNCIA PSICOLÓGICA

                       

                                                                                                   ( Christine-Comyn )


O desrespeito e a violência contra as mulheres não começaram agora, mas vêm sendo intensificados de forma assustadora. E tudo às claras. É aviltante. Não há um dia sequer em que os noticiários deixam de nos apresentar novas vítimas. Os homens que assim agem estão colocando suas mães, por consequência, no mesmo pacote de indignidade que atribuem às demais mulheres. Devem ser simpatizantes da república de Gilead, onde predomina o escravizamento e o cerceamento à liberdade das mulheres, objeto do romance "O Conto da Aia", de Margaret Atwood.

A violência física é inegável, por deixar visíveis marcas. Mas existe outra que não se percebe com facilidade, diante da qual as próprias vítimas buscam, por vezes, justificativas para o comportamento masculino, sentindo-se provocadoras de suas reações. Uma culpa que não deveriam carregar.

Há alguns anos escrevi versos sobre essa violência, dada minha inconformidade com a situação. E tenho a sensação de que foi hoje que os tirei do íntimo. Muitas mulheres passam por ela e nem têm como comprovar sua existência. Subjugam-se, culpam-se, anulam-se. 

Esse meu espaço não é para poemas rss, mas me permito transcrevê-lo aqui:


                                    O CRIME

                             Não foi acusado...

                             Não tinha uma arma 
                             e os braços nem levantou.
                             Não havia provas,
                             não havia ferimentos,
                             não bateu, nem empurrou

                             Mas...

                             Impôs fraqueza na autoestima,
                             tirou dos olhos o brilho,
                             cortou, pouco a pouco, a coragem.
                             Com suas palavras,
                             minou sonhos,
                             destruiu ilusões,
                             impediu que fortes se tornassem as raízes
                             e que pudessem abandonar a terra árida
                             para florescer em outro caminho

                            Portanto,
                            de forma ignóbil,
                            maquiavélica, imperdoável...
                            Matou!!!


                                                                           Marilene



22 comentários:

  1. Triste realidade. Assim se morre a pouco e pouco, um bocado a cada dia, a cada vez. Tantas vezes sem coragem de se defender, de se rebelar. A cada dia se vai fazendo tarde.

    Beijos.

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  2. A violência de género para com as mulheres, é uma praga dos tempos modernos.
    Parece que a engrenagem do tempo voltou para trás e emprestou selvajaria em vez de racionalidade.
    É tão triste

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    1. É a sensação de posse, terrível. E a pandemia tem contribuído para o aumento da violência contra a mulher. Obrigada pela leitura e comentário.

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  3. A violência psicologica é muito pior, pois essa não deixa marcas fisicas.
    E há tanta por aí.
    Triste realidade, tristes tempos.
    Beijinhos
    :)

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    1. Realmente, Piedade. As marcas ficam todas por dentro, consumindo as vítimas dela. Bjs.

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  4. Uma realidade que nos dá indignação, mas que precisamos alertar as mulheres que são dependentes destes vínculos maquiavélicos. Este que retrata muito bem com seu poema também destrói. Eu vi a série que cita. bjs

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    1. Norma, eu soube que a série é bem diferente do livro, que me impressionou bastante. A violência física é percebida por terceiros e pode ser denunciada de forma anônima. A psicológica, nem sempre as vítimas a assumem, o que torna mais difícil oferecer ajuda. Obrigada pelo comentário. Bjs.

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  5. É um excelente 'post' de denúncia desses assassinos impunes...
    Só não concordo quando diz que não existe arma. Ela existe, é poderosa e está sempre pronta a atuar, como se lapidasse com palavras ou omissões.
    Estes crimes são muito difíceis de comprovar, porque os criminosos são capazes de grandes cenas teatrais em que se definem como vítimas, conseguindo ludibriar advogados e juízes.
    Foi um prazer passar por este espaço em que cultiva a verdade. Beijos
    ~~~~~~~~

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    1. Majo, a arma está nas palavras e no comportamento, sem visibilidade, quando a violência é psicológica. Daí a dificuldade de constituir prova, salvo se a vítima, já consciente do que acontece, grava/filma. Muito obrigada por estar aqui. Bjs.

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  6. Fantástico texto e que todas as mulheres deveriam ler para ver onde está uma das piores armas, também destroça, arrasa e por fim mata a alma! A palavra! A chantagem, a humilhação, o ódio contido.
    Dizer o quê, querida amiga? Fecho contigo, lamento que ainda exista isso, e cada dia mais no Brasil. Estamos no caminho errado...
    Beijo, um ótimo fim de semana que está chegando.

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    1. Tais, gostaria tanto que essa violência tivesse um fim. Quando percebemos que alguém a está sofrendo, nem sempre podemos fazer algo para ajudar. Muitas vezes, as próprias mulheres se sentem responsáveis por todo o sofrimento que lhes é imposto. A falta de autoestima, o medo de recomeçar... e um fim a tudo que poderiam realizar. Obrigada, querida. Lindo final de semana para você e para o Pedro. Bjs.

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  7. Esse texto estás mais atual do que nunca, Marilene. Infelizmente. Importante demais!

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    1. Sergio, é uma forma muito triste de destruição de vidas. Abraço.

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  8. Boa tarde de domingo, querida amiga Lena!
    Tão cruel não respeitarem sequer a lei.
    Tantos abusos em palavras, gestos e realidades que Natan mais que punhais bem afiados.
    Tão profundo seu poema de empatia às vítimas de violência!
    É preciso termos essa sensibilidade que você demonstra. Um grito poético pertinente.
    Aqui no ES, os crimes assim tem aumentado acentuadamente.
    Tenha uma nova semana abençoada!
    Bjm carinhoso e fraterno de paz e bem

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    1. Em Minas também, Rosélia. E isso é assustador. Muito obrigada, amiga, por estar sempre presente. Bjs.

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  9. Triste verdade, Marilene! E, embora esses ataques sejam muito mais comuns contra as mulheres, a verdade é que fazem vítimas de ambos os sexos... muitas vezes, os próprios filhos! Devemos estar sempre atentos a esta realidade. Excelente post, amiga; meu abraço, boa semana!

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    1. Os filhos são sempre atingidos já que a violência psicológica vai tirando tudo de bom que as mães possuem. E eles ouvem, atentamente, tudo que dito. Obrigada pela presença e comentário. Abraço.

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  10. As palavras realmente ferem, e quando pronunciadas não podem ser retiradas. Daí, o pagamento deve ser feito com a mesma moeda, acrescido de juros e correção monetária. No caso de revide com agressão física, a denúncia deverá ser feita.

    Abraços,

    Furtado

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    1. Meu amigo, mais difícil que o pagamento é a recuperação da sanidade emocional. Abraço.

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  11. O que choca nisso tudo é que no mais das vezes as atingidas, por medo deperder o parceiro, tanto negam qto retiram a queixa. E ai vem a isenção de culpa e repetição da cena violenta, eles, o agressor se fortalece com isso.
    Muto boa sua prosa.

    Bjs e boa sexta-feira.

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  12. A violência doméstica, principalmente dos homens sobre as mulheres, infelizmente tem aumentado, mesmo com as ajudas que há, que embora poucas nunca foram tantas.
    Excelente post, o seu poema é excelente.
    Bom fim de semana, querida amiga Marilene.
    Beijo.

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