30 julho 2015

DINHEIRO E PODER = FELICIDADE?

(Photo Manipulations by Joel Robison)

                 
                                         
                                                   
O dinheiro domina o mundo. Alguns contestam essa afirmativa, mas ele é visto como alicerce para o poder, como trampolim para se escapar da subida escalonada dos degraus que antecedem o topo. Um topo que nem constitui objetivo de vida para os mais sábios.

Haveria um "quantum" para satisfazer alguém e o tornar feliz? O convívio com as pessoas, independente de seu nível social, mostra que não. Em casas simples, onde são ínfimos os recursos, podemos encontrar sorrisos, alegria e esperança. Há sempre uma reunião de amigos, um churrasquinho, uma comemoração de aniversário. Não se importam se a bebida é de qualidade ou se há sofisticação.  Estão ligados pelo calor humano. Conversam, riem, brincam, jogam fora a ansiedade e os aborrecimentos diários. Libertam-se e quando voltam ao trabalho estão bem mais leves e felizes. Em outras dessas casas simples, é visível a revolta, a insatisfação, a certeza de que a vida com nada vai presentear os que ali residem. Ficam estagnados esperando que tudo venha gratuitamente, e ainda alimentam a inveja, a impressão de que o mundo não é bom para todos, uma sensação de inferioridade que os leva a atribuir a culpa aos que obtém sucesso. Quem não batalha para conseguir o que almeja costuma concluir que os demais tiveram facilidades, receberam ajuda da família, conseguiram seus bens "de mão beijada". Ledo engano. Até os que nascem em famílias de posses só conseguirão manter essa condição se trabalharem, se se instruírem, se forem capazes.

Na outra margem, onde se encontram os mais abastados, o mesmo se constata. Para alguns, ter uma imóvel, poder manter os filhos em boas escolas , não ver faltar o necessário, é o bastante. Aproveitam as conquistas sem estender em demasia as expectativas. Não jogam a felicidade para o futuro nem a atribuem a posses. Para outros, nada é suficiente. Querem mais, mais e mais. A casa poderia ser maior, o carro melhor... e assim por diante. Todo o bem estar, que parece nunca chegar, está fundado no "ter". Um verbo ao qual não atribuem limites. E um dos mais conjugados na atualidade. Se vão fazer uma comemoração, há que ser grande, exibidora, trazendo para o convívio falsos amigos e interesses nem sempre louváveis. Todos precisam demonstrar, a começar pela aparência, o quanto estão bem, o quanto possuem. Ostentar faz parte da vida.

Não somos o que temos e o que exibimos. Somos muito mais que isso. Não devemos mascarar nossa imagem, fazendo com que quem nos olha perceba apenas nossa condição financeira. E não devemos deixar passar a oportunidade de diversão, de lazer, em nome da ambição, da busca de querer mais. Há um tempo certo na vida para tudo e o que realmente temos é o agora. Não se trabalha para acumular riquezas, mas para ter o que nos faz feliz. E não necessitamos ter tudo ao mesmo tempo. Pequenos momentos, pequenas aquisições, pequenos momentos de prazer podem representar uma eternidade.

Reclamam seres humanos do governo, do mundo, da sociedade, dos empregos, dos salários, da falta de tempo... e até de suas próprias famílias. Por certo, há mesmo razões para ficarmos indignados diante de certas posturas, da ausência de atitudes eficazes por parte do poder público, dos ônus que nos são impostos ... Mas não é esse o foco. Estamos, cada vez mais, despreparados para a convivência sem atropelos, para assumirmos que somos responsáveis pelas nossas quedas, pelo nosso comodismo, pelo falar de mais e agir de menos, pela constante atribuição de culpa a terceiros, como se cada indivíduo fosse isento de dar sua contribuição para a melhoria de tudo que o cerca, sem pensar apenas em si mesmo. 

E a vida fica fundada no desejo, não nos ideais, como compensação ou projeto existencial. Um desejo exacerbado que turva a visão e a direciona para o que não proporciona tranquilidade e bem estar. Um desejo capaz de transformar os seres humanos em verdadeiras feras.

Nesse contexto, voltamos à associação de felicidade ao poder, "supostamente" conferido pelo dinheiro. E cada vez mais nos decepcionamos com as falcatruas, com os abusos, com as apropriações indébitas, com o distanciamento entre as pessoas, com a alimentação da desconfiança... e o pior, com a incredulidade na existência da honradez.  


Que triste!




                                                              Marilene



15 comentários:

  1. Que texto verdadeiro e precioso amiga.! Sabedoria é dizer que dinheiro não proporciona felicidade. Felicidade envolve bem mais que isto. Gostei demais. Aliás você sempre me surpreende e encanta. Bjs. Eloah

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  2. Muito lindo e bem colocadas tuas palavras,Marilene! A grande maioria, infelizmente, acredita que apenas com o dinheiro a felicidade tem lugar... Não é assim! Vemos, como disseste, pobres e felizes, despidos de preconceitos, de frescurites e necessidades supérfluas, vivendo a simplicidade. Essa sim, acredito, ajuda!!
    Claro que o dinheiro proporciona coisas boas, mas se pensarmos bem passageiras...

    Adorei te ler! bjs praianos,chica

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  3. A felicidade é interior (para mim), sedimentada pelo o que se é de verdade e diante disso
    as escolhas refletem a consciência e a inconsciência deste autoconhecimento.
    Tantas pessoas angustiadas pelo vazio interior viajam para lugares lindos,
    luxuosos e não conseguem transcender o lixo interior, contaminam tudo...
    Excelente a tua narrativa nos caminhos dos questionamentos, Marilene!
    Beijo grande.

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  4. E a ser feliz é tão fácil e simples, não é?
    Lindo texto querida Marilene.
    Um abraço e tudo de lindo sempre em sua vida.

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  5. Olá mana,

    Infelizmente, a ambição é motivo da derrocada de muitos. Dinheiro é bom na medida em que proporciona conforto e é empregado com sabedoria. Há pessoas, contudo, que fazem dele meta de vida, esquecendo-se de viver ou retendo-o a bem de si próprio e da própria família, e para isso são capazes de passarem como um trator por cima dos interesses e das necessidades alheias. Dinheiro e Poder, de forma alguma, são sinônimos de felicidade. Vejo muitas pessoas simples, sorridentes e felizes, com muito pouco. O pequeno salário lhes rende grandes momentos de alegria e bem-estar. É certo, por outro lado, que o poder econômico tem seu lado positivo, pois gera indústrias, resguarda o comércio, produz empregos, etc...etc.... Também é certo que há abuso do poder econômico, em detrimento dos menos favorecidos. Isto é motivo de desalento e frustração. Enfim, o dinheiro tanto pode trazer tranquilidade quando pode levar à perdição, dependendo sempre da maneira como é buscado e utilizado. Felizes daqueles que não se deixam corromper pelo dinheiro e que sabem ser felizes com o que conseguem com o produto de um trabalho digno. Felicidade está muito além de dinheiro e poder.

    Ótima crônica.

    Gostei da imagem.

    Beijo.

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  6. Um belo texto em que é muito bem analisado o dinheiro/poder versos felicidade.
    Um abraço e bom Domingo.

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  7. Oi, Marilene, rico esse seu texto. A felicidade depende do tamanho das ambições das pessoas. Você falou das várias classes sociais e vejo que mais feliz pode ser o que tem menos. Pode sim. Acho que as pessoas quanto mais têm, mais querem, mais precisam. Não faz muito que li sobre as redes sociais, a inveja que elas geram por pessoas voltarem de suas viagens e exibirem 200 fotos por onde passaram, o que fizeram, onde ficaram. Isso dá inveja a muitos, dá bronca. E fiquei pensando... O homem é exibido por natureza, por isso vive das aparências, de ter e não o ser. Tá na cara, né? Olhe para o Brasil agora, veja o que está acontecendo com os “bilionários”!! A ambição não tem limites.

    Beijão, esse assunto daria páginas de tão polêmico e ainda mais agora que estamos raivosos até à medula!

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  8. O dinheiro pode ajudar, mas por si só, não trás felicidade.

    Isabel Sá
    http://brilhos-da-moda.blogspot.pt

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  9. na "Sociedade do Espectáculo" em estamos mergulhados no mundo dito civilizado, já não importa apenas "ter", (mais que "ser") - mais que tudo é fundamental "parecer"...

    beijo

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  10. Pois é, Merilene, quando entra o dinheiro nas relações entre as pessoas, estas se revelam, mostram-se ávidas e desumanas. Nesse caso, o dinheiro é uma espécie de RX, que revela o mau caráter das pessoas, no trato com o vil metal, onde se escasseiam as exceções..
    Um abraço.

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  11. Belíssima imagem, muitos acha que dinheiro é a unica forma de prazer e felicidade e esquecem de pequenos detalhes que realmente trazem felicidade.

    www.studiocriativoarteemeva.blogspot.com

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  12. Que texto incrível, Marilene. Uma reflexão importantíssima e um verdadeiro tapa na cara. É pra ler mais de uma vez, inclusive. No final das contas iremos todos pro mesmo lugar... Bjs!

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  13. Um texto para ler e reflectir. Dá até para dar chapada em muita gente. Adorei. Beijos com carinho

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  14. Sim, é isso mesmo, Marilene. e que triste. Não me parece possível sem preocupações com assuntos de dinheiro, mas posso, e faço isso, não viver orientado para o dinheiro, que afinal não é em si o que espero e quero nesta vida. Ponho-o em seu devido lugar na minha vida. Nela, ele existe e é importante, sim, não tem chance ser o protagonista. Talvez por isso mesmo nunca tive muito. Ao preço de minha consciência, nem quero.

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