(Portrait Photography by David Talley) |
Dizem que a pior saudade tem relação com o que se recusou a viver, porque a imaginação cria lindos cenários e eles permanecem na mente como se a opção não acatada fosse recheada de felicidade. Assim pensando, e sem conhecer o que era, realmente, o amor, ela permitiu que aquelas mãos firmes segurassem as suas e a levassem para o mundo dele. Era tão gentil, atencioso, do tipo que manda flores e abre a porta do carro para a mulher sair ou entrar ... um príncipe. Prometia realizar seus desejos e descortinava horizontes que ela jamais imaginara existirem. Entrou em seu barco, mesmo sabendo que navegaria para longe do aconchego até então vivenciado no seio de sua família.
Tudo lhe pareceu estranho na nova casa, eis que a encontrara já mobiliada e não lhe era permitido mudar qualquer objeto de lugar. As decisões cabiam a ele, que não lhe possibilitava optar. Que sensação estranha! Passou, de princesa, a prisioneira.
Seu jeito de ser já não provocava elogios e até seu modo de se expressar, antes tido como charmoso, passou a incomodá-lo. Aquele sotaque regional deveria acabar, afirmava, pois contrastava com o utilizado em seu círculo de amigos. E ela sequer percebia que pronunciava as palavras de um jeito peculiar. Passou a gostar mais do tempo que permanecia no trabalho do que no que se encontrava em "sua" casa, convivendo com o autoritarismo dele.
Para que ela perdesse o emprego, que ele menosprezava, costumava ligar no meio da tarde, ordenando que fosse encontrá-lo. A chefe, que se tornara sua amiga, acobertava essas fugidas para que não a prejudicassem. A menina tímida, do interior, despertara seu lado maternal, e passou a protegê-la.
Ela sabia que sua independência morava no lado profissional e desenvolvia suas atividades de forma primorosa, o que lhe resultou, após seis meses, a primeira promoção. Conquistara a família e os amigos dele, pois precisava de aliados e só com eles convivia. Não lhe era permitido envolver as pessoas que conhecia no trabalho em sua vida pessoal.
O príncipe virou sapo em pouquíssimo tempo. Ela não reclamava e ninguém tinha ciência da arrogância e da possessividade dele. Como fizera a opção de permitir que ele a conduzisse, só ela poderia cortar as amarras. A cada dia se fortalecia mais, observando, aprendendo, guardando seu salário e se encorajando para mudar de caminho.
Certa tarde, relembrando suas ordens comuns (nenê, traga a bandeja com o jantar; nenê, muda o canal da televisão; nenê, troca essa roupa, pois não me agrada; nenê, se sair dirigindo vai se acabar no primeiro poste...), concluiu que não precisava mais refletir e pegou as rédeas de sua vida. Colocou todos os seus pertences no carro e partiu, deixando para trás o sapo. Nem a aliança levou. Ficou sobre a mesa da sala de jantar, com um bilhete: procure outra pessoa, pois não sou adequada para você.
Desapareceu da vida dele e foi, finalmente, viver a sua, sem deixar rastros. Queimou, com prazer, todos os laços. Nunca mais ele a encontrou. As cicatrizes moravam na alma e não seriam visíveis. Outros horizontes se lhe apresentaram, chamando-a. O passado, largou em seu devido lugar, bem enterrado.
... e não carregou no peito aquela poética saudade do que não foi, por medo, vivenciado.
Quando se faz uma escolha é preciso estar preparado
para eventuais consequências negativas que dela possam advir.
Quando se faz uma escolha é preciso estar preparado
para eventuais consequências negativas que dela possam advir.
E agir.
Marilene
Puxa, que forte isso! Que triste quem se deixa levar por sentimentos apenas, se entrega de olhos fechados e se esquece que é dona de sua própria vida e por isso, não tem necessidade de nenhum "dono" a servir. Que bom que ela se deu conta a tempo de sua vida refazer! Lindamente escrita essa triste realidade pra tantas! beijos,tudo de bom,chica e lindo dia!
ResponderExcluirCara Marilene
ResponderExcluirO que diz aqui neste texto deveria ser lido por todas nós. Ler e reflectir nas verdades aqui narradas, coisa real, que não tem nada a ver com ficção. São situações que traduzem a vida de muitas mulheres, que passam a vida amarradas e pensam que não existe solução para elas. E enquanto isso, os homens que as manietam vão ganhando força e atrevimento nas suas exigências até chegar a um ponto de não retorno.
Contudo, o que se vê aqui é que temos de procurar a nossa valorização pessoal e encontrar o nosso caminho.
Bela a sua reflexão.
Bj
Olinda
Cara Marilene
ResponderExcluirO que diz aqui neste texto deveria ser lido por todas nós. Ler e reflectir nas verdades aqui narradas, coisa real, que não tem nada a ver com ficção. São situações que traduzem a vida de muitas mulheres, que passam a vida amarradas e pensam que não existe solução para elas. E enquanto isso, os homens que as manietam vão ganhando força e atrevimento nas suas exigências até chegar a um ponto de não retorno.
Contudo, o que se vê aqui é que temos de procurar a nossa valorização pessoal e encontrar o nosso caminho.
Bela a sua reflexão.
Bj
Olinda
Amiga Marilene, retratou de forma perfeita a vida de tantas mulheres, mulheres que na ilusão da sua ingenuidade embarcam numa vida que se torna madrasta.
ResponderExcluirEsta mulher teve a coragem e a força que e tomou as rédeas do seu destino.
Nem sempre há na vida real, finais assim.
Um beijinho
Fê
As escolhas nem sempre são acertadas !...
ResponderExcluirFelicidades
MANUEL
Boa tarde Marilene,
ResponderExcluirCada escolha traz inúmeras consequências,
umas são agradáveis, outras, nem tanto...
É uma pena que nem toda mulher possui ousadia
e coragem para sair de cena, sem deixar rastros
e recomeçar...
Em algumas situações, viver significa
desfazer laços que mais se parecem com
algemas.
Beijos!
Oi Marilene,como vai querida, tudo bem?
ResponderExcluirSim, já faz um tempinho que aqui não venho, mas digo que não foi por falta de vontade!
Neste tempo, notei que perdi tanta coisa linda por aqui, mas ainda a tempo de recuperar e colocar a leitura em dia!
Que texto incrível, você realmente se aperfeiçoa na escrita cada vez mais!
A história tinha todo o trejeito de ser um belo e lindo conto de fadas moderno, onde o príncipe, a princípio, se encaixava no típico gentleman...
Por isso que devemos desconfiar de homens perfeitos, eles realmente não existem...rsrs
A vida tão amorosa que possuía na família tornou-se, paulatinamente, uma prisão...
Mas ainda bem que ela teve forças para tomar as rédeas da situação e notar ser a verdadeira dona de si, da verdade e de sua vida!
Um exemplo que muitas deveriam seguir e não ficar acorrentados em vão a uma relação que nada traz de bom, apenas sofrimento...
Mas muitas não possuem essa coragem evidente ou algo em seu íntimo as prende ou as impedem de tomar uma atitude mais enérgica e libertadora...
Mas ainda bem que aqui teve um fenal feliz, chega de tristezas....
Perfeito Marilene, adorei, estava há muito querendo vir aqui e encontrei o que mais queria ouvir!
Obrigada e desejo um maravilhoso fim de semana!
Beijinhos!! ♥♥
Marilene, contas que terás ficção, o pior é haver casos reais muito idênticos, de mim conhecidos. Antes do enlance, um esmero total que não faria prever o insucesso absoluto. Porém, à aparência sucede-se a realidade.
ResponderExcluirBeijos
Olá, Marilene. excelente texto. a Nene cresceu, e ele não percebeu...
ResponderExcluirConheci um casal assim. Ele se gabava porque resolvia tudo sozinho, e ela não podia dar opinião em nada. Nem na decoração da casa. Ele dizia: "Tudo aqui foi escolhido por mim, ela não deu opinião em nada!" Como se isso fosse motivo de orgulho (a casa era bem feia, aliás, brega mesmo). Ele a xingava e humilhava na frenre dos outros, inclusive, dos filhos, que nada faziam para defendê-la. Era totalmente estúpido e grosseiro, além de machista. Em restaurantes, ele fazia o pedido para ela, ela não escolhia o que desejava comer.
Final da história: ele ficou doente, totalmente dependente dela, que cuidou dele até o final, lidando com os humores terríveis dele, agravados pela doença que durou dez anos. Hoje, já bem idosa, ela está sozinha. Todo mundo ficou com medo de que ela não tivesse expediente, ou ficasse deprimida, mas ela tomou conta da vida dela e mostrou-se muito esperta. Mora sozinha, e é feliz, aos 82 anos.
Olá mana,
ResponderExcluirQuando se faz uma opção que traz consequências negativas é preciso ter coragem para fazer outras que possam recolocar o 'trem nos trilhos'. Vale a experiência. Vale também viver o sonho, ainda que ele se torne um pesadelo. Melhor do que passar a vida imaginando o quanto poderia ter tido uma vida diferente se tivesse seguido com o príncipe/sapo. Arrepender-se do que não se fez deve ser frustrante. No caso, o príncipe/sapo deve ter pensado que estava diante de uma moça interiorana frágil e fácil de manipular. Ainda bem que ela sabia o que não queria para si e partiu em busca de novos horizontes. Essa de "nenê faz isso...nenê faz aquilo..." é abusivo e desrespeitoso por demais.Se o relacionamento persistisse ela provavelmente perderia toda a sua autoestima.
Infelizmente, há muitos ditos 'príncipes' assim e muitas mulheres que se acomodam à infelicidade, talvez por insegurança, medo ou dependência. Ainda bem que não foi o caso da protagonista do seu conto.
Linda a imagem.
Beijão.
Olá, querida Marilene
ResponderExcluirGostei do desfecho do seu conto e ela fez muito bem...
Coitadas das que não ousam se rebelar contra pesadelos vividos com rótulos de 'amor'!!!
Bjm fraterno
http://sobretudoumpoucosandrasofia.blogspot.pt/2015/06/tag-espelho-meu.html venho responder-te ao comentário que me fizeste aqui nesta minha postagem,pois,eu sei que ainda sou jovem,mas preferia,na mesma,ter vinte anos,acho os vinte anos a época mais bonita de sempre!! Tenho medo de envelhecer e à medida que a idade passa por mim,vou ficando com menos tempo de vida e eu detesto isso,tenho muito medo da morte!! Beijinhos fofinhos!!
ResponderExcluirSandra, você tem 29 aninhos (rss). Preocupe-se em viver, apenas. Lembre-se que a morte ignora o fator idade e nosso tempo na terra, desconhecemos. Bjs.
ExcluirObrigada pela tua opinião querida amiga Marilene,sim,eu preocupo-me imenso com a minha vida,viver faz parte de mim!! Beijinhos e obrigada!!
ExcluirOlá Marilene! Belo conto! Ótimo desfecho! Acho que já acabou o tempo do faça isso, faça aquilo. As coisas mudaram e hoje deve ser façamos isso, façamos aquilo. A felicidade está no partilhar, tanto nos bons, quanto nos maus momentos.
ResponderExcluirAbraços,
Furtado.
m belo conto reflexivo e com um desfecho excelente, no qual o amor próprio prevalece. bjs
ResponderExcluirBom dia de domingo, vim te visitar e deixar
ResponderExcluirum salmo pra vc, tenha um bom começo de semana
Nem olhos viram ,nem ouvidos ouviram ,nem jamais chegou ao entendimento humano ,o que Deus tem preparado para aqueles que o amam.
( I Coríntios 2:7-9)
Bjuss com carinho
└──●► *Rita!!
Excelente, Marilene! Oxalá possa inspirar as (muitas!) que vivem situações semelhantes e não têm coragem para traçar um novo futuro! Boa semana, amiga.
ResponderExcluirOpções, são isso mesmo. Se feitas correctamente, tudo bem. Se a escolha não for feliz, tudo estará mal. O discernimento e a força para recorrer dos próprios erros é que torna saudável essa "coragem".
ResponderExcluirMuito bom, Marilene.
Beijos
SOL
... e assim cresce uma Mulher.
ResponderExcluirbelo texto.
beijo
Marilene querida,
ResponderExcluirsomos responsáveis pelas nossas escolhas,
e não há como nos esconder do que escolhemos,
muitas vezes tentamos não acrditar,
mas nada acontece por acaso,
construímos um caminho e o seguimos,
o resultado a vida nos mostrará!
Bjus e uma semana de muita luz!
http://www.elianedelacerda.com
Realmente, como o velho ditado "toda escolha trás consequências", ainda que o caminho pareça muito florido, às vezes não é o certo a seguir.
ResponderExcluirUm ótimo texto para reflexão.
Grande abraço.
Identidade Aleatória
O Identidade Aleatória está no facebook!
Excelente crônica, uma história que poderia ser história de muitas outras mulheres.
ResponderExcluirA protagonista apesar de sofrer calada, também se fortaleceu internamente,
não se alienando da sua própria realidade (história), com capacidade de criar
uma reserva de força criativa para transformar a sua vida e sair muito bem
acompanhada dela mesma. Uma mulher fortalecida pela vitória sobre si mesma...
Adorei, Marilene!
Beijinhos.
Oi Marilene! Passando para agradecer a tua visita e amável comentário, assim como desejar um ótimo São João para ti e para os teus.
ResponderExcluirAbraços,
Furtado.
Uma bom texto que infelizmente se torna muitas vezes real, e nada melhor que cortar as amarras e partir para outra.
ResponderExcluirUm abraço e continuação de uma boa semana.
Gostei imenso deste "conto" que imagino ficcionado, mas é bem representativo da realidade.
ResponderExcluirFelizmente que, aqui, ela conseguiu soltar as amarras e procurar outra vida. Infelizmente, nem sempre isso acontece; muitas vezes a mulher mantém-se refém desses déspotas por anos intermináveis.
Continuação de boa semana.
Um beijo
MIGUEL / ÉS A MINHA DEUSA
Marilene, e como se vê isso ainda hoje!! Não é vida, é escravidão. Sentir saudades de quê? De uma vida tolida, de sonhos desfeitos e da sensação de incapacidade? Só poderia dar nisso, um sumiço! Se eu fosse ela, também gostaria de ver o sujeito pelas costas. Não há como alguém evoluir, crescer tendo um companheiro desses. Você relatou muito bem uma realidade. Assustadora, sem dúvidas.
ResponderExcluirBeijão, amiga!
Desculpe, ler... de uma vida "tolhida".
ExcluirBJ
Muy reflexivo tu cuento, felicitaciones.
ResponderExcluirSoltar as amarras ! Ah, se todos tivessem essa coragem ! Evitaria muita convivência frustrante ! Ainda há quem prefira conviver com uma situação já conhecida do que enfrentar o desconhecido. Abcs e bom final de semana .
ResponderExcluirPois fez muito bem. Mas é claro que fica a ferida, a dor, enfim. E toda ação tem uma consequência mesmo, sendo boa ou ruim, ou as duas. Texto forte e muito reflexivo, Marilene. bjs
ResponderExcluirInfelizmente conheço uma pessoa que vive assim, totalmente submissa a um falso amor, por que o verdadeiro amor liberta e fico pasma de ver que não faz questão de se libertar, falta amor próprio, não é ?
ResponderExcluirGostei muito do seu texto Marilene.
Um abraço.
Sou dono dos abraços que eu
ResponderExcluirtrago para te dar.
Um beijo.
.