18 fevereiro 2014

VÍCIO

(by Anja Buhrer)
                                                                   
                                                               
Esperava, dentro do carro, minha irmã retornar da padaria, quando comecei a ouvir uma voz de homem, em tom elevado, falando sobre uma antiga novela. Virei-me para olhar e o vi, acomodado na calçada, com uma latinha de cerveja na mão. Sua conversa era um monólogo e percebia-se, de pronto, que estava embriagado. 

Observei-o, atentamente. Devia ter uns sessenta anos, pele lisa e sem rugas, cabelos grisalhos, rosto bonito. Usava jeans, uma camiseta polo preta e tênis da mesma tonalidade. Terminando de tomar aquela cerveja, levantou-se (era bem alto), entrou na padaria e saiu com outra na mão, retornando ao mesmo lugar. Começou, então, a cantar uma das músicas de Roberto Carlos. Não incomodava as pessoas que passavam e brincou, umas duas vezes, com uma criança que segurava a mão da mãe, visivelmente assustada.

Já o havia encontrado, anteriormente, naquela rua, do outro lado da calçada, perto da locadora que frequento. E nas mesmas condições. Comentei o fato, na ocasião, com o dono da locadora, e soube que se trata de alguém de família de classe média, residente no bairro. É um homem culto e irreconhecível quando sóbrio, o que raramente acontece. Sua família já fez inúmeras tentativas para que se submetesse a um tratamento, todas infrutíferas, me disse ele.

Olhando-o, hoje, fiquei questionando o que o teria levado a esse tipo de vida, se tinha momentos de violência, se maltratava familiares. A expressão de seu rosto não o indicava. Parecia ser tranquilo . Como já é conhecido na região, não assustava os pedestres, o que, de certa forma, mostrava não ser provocador de confusões.  Mas existe o outro lado, o sentimento de sua família ao vê-lo ou sabê-lo ali, naquela situação. É doloroso não se conseguir ajudar uma pessoa querida. Sabemos que viciados não se curam se o desejo do tratamento não partir deles.

Voltei-me, então, para os jovens que o  Brasil está perdendo para as drogas e o tráfico. Aqueles que "habitam" as cracolândias e assaltam para manter o vício. Meninas grávidas que, certamente, terão filhos com sérios problemas. É calorosa a discussão sobre internação involuntária, que merece repúdio por parte de psicólogos e psicanalistas. Mas eu me coloco a favor dela. Acredito que muitos, entre eles, poderiam vir a perceber os benefícios do tratamento, ainda que, em princípio, lutassem contra ele. Não vejo solução diferente para a questão. Aquelas "comunidades" aumentam a cada dia, provocando medo em quem tem que passar por elas, reside ou trabalha em locais próximos. Talvez fosse essa, embora controvertida, uma tentativa louvável para se salvar muitas crianças, pois são elas que formam a maioria daqueles viciados, crianças.


                                                                   Marilene


22 comentários:

  1. Marilene, não é raro, nas grandes cidades nos depararmos com o que eu chamo, figura da cidade. Estou a lembrar do grande pintor da Lisboa noturna, Arnaldo. Arnaldo percorria apeado, as grandes artérias. Impecavelmente vestido e no seu discurso, Todo ele era respeito, não se metia com alguém e ninguém o incomodava.
    Deixou obra notável.
    Beijos

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  2. Mari, esse é um dos problemas que enfrentamos nessa mundo caótico, em que as pessoas perderam um pouco dos valores de família, de casamento, de se ter um caminho de fé. Entendo que o ser humano está se degradado a si próprio assim como já fez e (faz) com a natureza.
    Não há mais amor nem respeito com a vida, nosso bem mais precioso.

    Ótimo texto Mari, e perfeita tua observação em ir mais a fundo sobre o que levaria um homem daqueles a decidir caminhar por estradas obscuras.

    bj e meu afeto pra ti querida amiga

    LU C.

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  3. Boa tarde Marilene, infelizmente essa é uma realidade presente na nossa vida, cabe a nós orientar nossos filhos para evitar esse caminho... bjks que sua semana seja iluminada.

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  4. Infelizmente nem todos podem seguir o mesmo caminho, aquele que achamos nós o mais correto, para seu infortúnio e para o da família.
    Devemos é agradecer a sorte que temos, não só pela vida que traçamos, mas pela vida que nos foi proporcionada, não só a nossa mas como a de quem nos rodeia. Adorei o tema, um problema "comum" atualmente, talvez até tabú por tão complexo.

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  5. Que triste essa ralidade,Marilene.As drogas estão estragando ,destruindo famílias, deixando filhos sem pais, pequeninhos que gostariam de tê-los presentes, somem de casa, nada mais fazem, Muito triste mesmo!!! Pena! bjs,chica

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  6. Uma problemática deveras complexa. Sabendo-se que existem personalidades com tendências mais aditivas que outras, o que de certa forma explica que algumas pessoas tenham contacto com alguns drogas e decidam abandoná-las de vez, existem outros que sem darem por isso ficarão reféns do vício, o mais importante será sempre a atenção que se deve ter em relação aos mais jovens, principalmente quando inseridos num meio
    familiar propício ao consumo.
    Em relação aos jovens, concordo que uma saída forçada do seu meio ambiente pudesse trazer vantagens, porque caso contrário, embora se diga que se está sempre a tempo de uma recuperação, quanto mais tempo o vício dura mais difícil será essa recuperação.
    Um excelente assunto, Marilene, do qual eu não "pesco" muito...:-)
    xx

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  7. Marilene, apesar do tema triste...tive que rir da sua perspicácia em descrever o vestuário do dito cujo...rs.
    Infelizmente sei bem o que é ter um familiar nessas condições, meu pai querido morreu decorrente ao alcoolismo...fazer o que quando eles não querem se ajudar,né?
    Bjks!

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  8. Boa tarde Marilene!
    É um assunto polêmico, mas também sou a favor da internação involuntária, afinal quando a pessoa não tem condições de tomar essa decisão, é necessário que alguém decida por ela.
    Muitos dependentes químicos nem tem como escolher pois estão comprometidos pelo uso constante das drogas.
    Gostei muito do texto.
    Bjs!

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  9. Olá Marilene!!
    Você disse tudo..infelizmente pessoas dependentes precisam decidir sair do vício, e é necessário politicas públicas para melhorar o tratamento dessa classe vulnerável.
    Abraços,
    Sandra

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  10. Marilene,
    é tanta gente se perdendo em razão das drogas..., lamentável.
    Um assunto delicado. Muitos são os motivos para que alguém se entregue assim, mas tenho para mim que o maior deles é a falta de amor próprio, pois com tanta divulgação, impossível alguém que está começando como usuário, não perceber o início de seu fim.

    Beijos! Excelente texto!

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  11. Marilene, que pena que as drogas estão cada vez mais destruindo pessoas, famílias, é triste muito triste!
    Abraços amiga, tenhas uma boa noite!

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  12. Boa Noite Marilene !

    Depois de um tempinho ausente, aqui estou.
    Parabéns pela bonita postagem!
    Muito triste as pessoas entrar nesse caminho.das drogas. Quantas família estão sendo destruída devido a esse mal. Vi uma reportagem de um garoto de 11 anos que dizia que era usuário desde aos 6 anos. Ele foi pego roubando um carro, e quando entrevistado se achou importante dizendo que era usuário e gostava de roubar, e se tivesse que matar ela matava. Fiquei arrepiada com a fala dele.
    Lamentável tudo isso!

    Um abraço com carinho, e ótima semana!
    Beijos grande!(•~?•~)? ? ?

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  13. Olá, querida Marilene
    Fico tão penalizada com a situação que crianças, jovens e adultos tomam por causa da droga de um modo em geral... todos temos dependências mas a que vc se refere no post é estonteante...
    Ao mesmo tempo que queremos ser humanos, corremos risco de sermos atingidos pela violência das pessoas que estão à mercê delas...
    Aí em MG fiz um trabalho voluntário durante 4 anos numa fazenda de recuperação que me foi uma verdadeira lição de vida...
    Nem sei o que te dizer, amiga...
    Me sinto impotente diante dessa cruel realidade...
    Bjm fraterno

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  14. Ah nem me fale desses problemas com as drogas, que coisa mais triste do mundo né? Com tantos impostos a segurança e saúde do povo deveria estar mais do que bem tratada...
    Fiquei com saudades! Eu me lembro vagamente, estavas de férias então? Bem-vinda de volta! Que maravilha.
    Uma ótima semana querida!

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  15. Bom dia Marilene!
    Todo e qualquer vício é muito triste e sabemos o quanto raro é se livrar dele, depende de muita força de vontade e determinação.
    Belo texto amiga, beijinhos no coração.

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  16. Oi mana,

    Todo quadro de drogas é triste, mas, sem dúvida, mais triste ainda é quando diz respeito ao jovens, que cada vez entram mais cedo neste mundo escuro e destruidor. É certo que a condição primordial para se livrar do vício é a vontade, mas muitos não detém força nem condições para tal. Assim, também acredito que a internação involuntária poderia trazer saldo positivo.

    Beijo.

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  17. Hello, MARILENE.

    Good feeling works.
    Thank you for your visiting always.

    Best week is coming.
    Greeting
    From Japan, ruma ❃

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  18. Passando pra deixar um beijão e desejar um super domingão "prócê"!!!

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  19. Bom dia, Marilene
    Tinha começado a escrever um comentário e, de repente, sumiu!
    A informática prega-nos cada peça!
    Bom, o que eu tinha dito... tinha começado por agradecer o prazer da sua presença e parabéns ao aniversariante.

    O problema das drogas cresce a cada dia, tomando proporções deveras assustadoras. E o mais grave é que são cada vez mais jovens, quase crianças, que se deixam envolver por esse cancro da sociedade.
    Eu sou contra a violência, mas, no caso desta maldita adição, sou a favor do internamento coercivo. Até porque, quem está sob o efeito dessas substâncias, não tem discernimento para poder tomar decisões.
    Talvez eu esteja a ser maldosa... mas penso que, em parte, não haverá muita vontade política de resolver, ou tentar, pelo menos, este grave problema, porque há grandes capitais envolvidos no mesmo...

    Desejo uma excelente semana.
    Beijinhos

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  20. Espinhoso assunto, Marilene.. necessário é abordá-lo, entretanto; muitas são as vidas perdidas pelos meandros do vício... infelizmente! :( Boa semana.

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  21. Infelizmente um assunto difícil mas é nossa realidade hoje em dia...
    Beijo Lisette.

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  22. Pertinente seu texto, Marilene. É um tema complicado e nada simples. Muitos questionamentos vêm em nossas cabeças e quase todos sem respostas. É muito triste isso. Bjs

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