27 maio 2013

TARDE DE SÁBADO

(Vino Moraes)
                                                   
                                                     
Na tarde de sábado, quando me dirigia à locadora,  estacionei em uma rua arborizada, pertinho de lá. Há muitas no bairro, o que o torna encantador aos meus olhos. Ao descer do carro senti o frio vento de outono, que balançava as folhas das árvores, contrastando com o céu limpo e a luz agonizante do sol. 

Ao atravessá-la, vi um homem deitado sobre uma colcha fina e suja, bem encolhido. Quando me aproximava, sua voz ecoou, me assustando. Mas não se dirigia a mim. Percebi seus olhos fechados e o que ouvi me deixou surpresa. Falava sozinho, não sei se reminiscências, mas o assunto era "seu encanto com a melodia e com a harmonia entre os músicos". Essas palavras soltas não condiziam com a cena que se me apresentava. Passei por ele e não pude deixar de pensar que suas palavras eram bem articuladas e que se referia a um belo espetáculo. O que o levara às ruas? Porque não tinha abrigo, passava suas noites ao relento, com frio e, provavelmente, fome? Alguém que se refere a um espetáculo musical, daquela forma, é dotado de sensibilidade e já esteve presente a um deles. Como músico? Como apreciador? Creio que nem seus eventuais companheiros de infortúnio saberiam as respostas. 

Cada indivíduo que encontramos nos cantos das calçadas têm sua história de vida. Salvo os que se envolvem com as drogas, os demais não optaram por estar ali. Empregos perdidos, abandono familiar, falta de recursos para sobreviver com dignidade. Passamos por eles, frequentemente. Nem sempre pedem alguma coisa. Alguns nos olham, simplesmente.

No campo espiritual existem muitas explicações para isso. Será que alguns, na quebra dos ovos que lhes dão vida, nascem para resgatar o passado, destinados a essa cruel existência? Ou as têm para que possamos melhorar, buscando ajudar os necessitados e acabando com a indiferença que tanto mal cria entre os seres humanos? Não sei as respostas, mas é impossível não presenciar uma cena como a que vi sem refletir sobre as escolhas ou a falta delas, para muitos de nós.

                                                                           Marilene

27 comentários:

  1. Amiga Marilene

    Da tua crónica ressalta seres boa observadora de "tipos" humanos. Desse encontro e posterior meditação, há uma conclusão a tirar: a da humildade que quem terá sido gente de algo. De qualquer modo, aos poderes públicos caberia fazer criar legislação, tendente a pensar nos casos de efetivos de carência humana.
    Beijos de amizade

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  2. Olá, Marilene. Teu texto está bonito e reflexivo. Acho que a pior coisa do mundo deve ser não ter ninguém que se preocupe se a gente está vivo ou morto.

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  3. Olá mana,

    Já vi noticiados alguns fatos de ex-famosos que foram parar nas ruas e alguns até foram resgatados devido a reportagens. Creio que parte destes que vivem ao relento foram empurrados para a esta vida devido às suas escolhas equivocadas, outra parte por falta de escolha e alguns outros por opção mesmo, como no caso das drogas. Alguns outros ainda em decorrência de algum distúrbio mental e que se encontram perdidos das respectivas famílias. É uma situação triste, que requer atenção da sociedade e solidariedade humana.
    As questões que você coloca, em termos de resgate ou não, são mesmo complexas a nível do nosso entendimento.

    Beijo.

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  4. Olá Marilene :)
    Muitas vezes uma pessoa (como este homem descrito no texto),
    tem tanto a oferecer.
    Talvez ele domine alguma área e tenha uma série de conhecimentos.
    Difícil saber porque vive nas ruas.
    E é triste ver uma pessoa desperdiçando a vida...
    Bjs \o/


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  5. Oi,Marilene.Não sei como chegou a meu blog,mas agradeço demais a visita e amei o seu!

    Conteúdo excelente do jeitinho que gosto!

    Já a estou seguindo!

    Volte mais vezes a meu espaço e será um prazer tê-la também no meu grupo.

    Beijos e linda semana

    Donetzka

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    1. Como cheguei lá (rss)???? Fui retribuir a visita que me fez. Bjs.

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    2. MARILENE

      COMO SABE,PERDI MEU ANTIGO BLOG E CRIEI OUTRO.


      http://magiadedonetzka.blogspot.com.br/

      SIGA-ME NESSE TB E DIVULGUE,OK?


      BJS E LINDO FIM DE SEMANA

      DONETZKA

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  6. Oi, Marilene, como vai? Cresci em meio ainda ao preconceito, a achar que moradores de rua sempre estão dispostos a fazer o mal. Hoje não penso mais por esse ângulo. O instinto de proteção ainda nos causa uma certa reserva, mas hoje fico pensando qual história pode estar atrás daquele ser humano, em que ponto o fio da meada foi perdido. Não sei o que é mais triste, se quando já se nasce em meio à essa situação, ou quando se é levado para ela pelas mãos da vida.
    Julgar não é uma boa saída e não ajuda a mudar a situação de ninguém.
    Um abraço!

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  7. São perguntas que só Deus para responder, cabe a nós de alguma forma suavizar tanta dor.
    Grande abraço querida Marilene.

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  8. Oi,Marilene. Notei que vc me segue também.


    O problema é que quando o amigo(a) não costuma comentar,esqueço,pois tenho 4 Marilenes com vc.

    Vou colocar seu blog na minha lista de blogs amigos para receber suas atualizações.

    Obrigada pela visita.

    Beijos

    Donetzka

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  9. devemos olhar sempre para esses seres de rua que muitas vezes até tem casa, mas por problemas ficam por ai, gostei do texto maravilhoso bom para refletir
    Abraços com carinho
    Rita!!!

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  10. Essa situação que vemos, por certo nos abala. Aí fico a pensar o tanto que poderia ser feito por eles com os bilhões gastos em coisas que nunca serão prioridade. Todos os dias vejo isso, e nada mais surpreende. Ao contrário, fico cada vez mais indignada. Mas infelizmente é o país que nascemos e que eu, particularmente, não acredito em mudanças.
    Gostei do enfoque.
    Beijos, Marilene!

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  11. Hoje sente-se a pobreza nas nossas ruas e nas nossas aldeias.
    As pessoas ficaram sem emprego e cada dia existem mais impostos e taxas a pagar.
    Muitos não têm em uma côdea de pão para enganar a fome.
    Alguns por vergonha deixaram a sua família por não terem nada para lhes dar. Outros oferecem os filhos às instituições.
    Os políticos andam cegos e riem deles e de nós todos...Tanta hipocrisia...

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  12. Bom dia,Marilene!!

    Quando nos deparamos com estas cenas é impossível não pensar nas escolhas que fazemos, né?! Comigo sempre acontece. Temos tanto ainda o que aprender com a vida.Tão pouco podemos fazer por estes que sofrem no mundo. Mas podemos fazer tanto, com o pouco...atitude, postura e coerência podem ajudar muito. Ao menos fazer a nossa parte, no ambiente em que vivemos e entre aqueles que nos cercam. Se todos fizessem isso....

    Lindo texto,minha amiga! Tão talentosa, seja em verso ou prosa!

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  13. Olá, querida amiga Marilene
    Pois é... Tenho visto alguns andarilhos e me pasmado com a situação deles e a a nossa... (de meros expectadores)... o que fazer??? Orar??? Ajudar?? Alguns nem podemos... não querem...
    É um dilema grande ser observador atento do que se passa ao nosso redor... a consciência pesa demais...
    Bjm de paz e bem

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  14. Boa tarde, Marilene. Triste e impactante texto, puramente real.
    Como você, também não sei as respostas, mas tenho muito medo dessa condição de "vida", muito!
    Espero em Deus que nos livre desse mal e que possa dar uma outra chance para essas pessoas.
    Todos os motivos sociais e familiares podem sim fazer com que a pessoa chegue a esse estado de degradação.
    Vivemos em uma sociedade que em nada é igualitária, tampouco humana.
    Não deveriam existir pessoas abandonadas, sei dos abrigos, mas eles não funcionam bem.
    Pergunto o porquê que os desvalidos preferem a rua, ao invés de um lugar seguro que possam recomeçar.
    Sei que muitos querem deixar essa vida e em alguns casos conseguem, graças a Deus.
    De qualquer modo, são cenas que chocam demais e eu não quero isso para ninguém!
    Quanto aos usuários de drogas, sempre penso que o melhor caminho para não acabar com suas vidas e nem a dos familiares, era sequer experimentar algo que todos sabemos ser nocivo e destruidor!
    Não existe droga leve, existe DROGA e suas consequências!
    Beijos na alma e fique na paz!

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  15. Oi amiga, vim lhe desejar um excelente final e semana, beijos e fica com eus!

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  16. É o que vc falou, sobre o aspecto espiritual existe uma justificativa e para mim já basta.
    Mas essa é uma cena que nos coloca em reflexão mesmo, inevitável!
    Esse teu post me tocou, me inspirou co.ter a historia de um morador de rua que eu conheci.

    Obrigada!

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  17. Oi Marilene,
    Lindo texto. Eu sempre penso nisso quando vejo moradores de rua, penso no que aconteceu com aquela pessoa. É um visão muito triste.
    Beijos
    Chris
    http://inventandocomamamae.blogspot.com.br/

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  18. Boa reflexão, Marilene! E essas pessoas sempre são ignoradas por todo mundo, são praticamente fantasmas vagando... Mas cada uma tem sua história mesmo. E, claro, que falo e me preocupo com essas pessoas e não com aquelas que se aproveitam para assaltar inocentes. PS: me surpreendi com a Locadora. Aqui no Rj quase todas, uma pena, faliram. bjs e bom fim de semana.

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  19. Visitando pela primeira vez seu blog e me deparo com essa sensibilidade com o ser humano, hoje tão incomum. Realmente esta é uma época do ano que muito me toca em relação aos moradores de rua dormindo ao relento expostos ao frio, fome e tb maldades de tantos. Há tanta injustiça e tanta maldade. somos uma pequena gota de oceanonesse lodaçal todo. Façamos a nossa parte, por pequena que seja. Abcs.

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  20. Bom dia!!!
    Desejo um bom domingo e um
    inicio de semana cheio de paz
    Bjuss
    Rita!!!

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  21. Mari depois de ler essa sua narrativa fiquei comovida e aqui em Sampa há essas pessoas aos montes - sabe-se lá de onde vieram e porque estão nas ruas.

    As histórias e os caminhos... São tantos!
    Enxergar com os olhos do espírito nos faz ver além daquilo que ali está, pode prestar atenção.

    Mas este em especial que descreveu, quen seria? Nossa, fiquei intrigada...
    Um filho de Deus, é... É isso que ele é e Deus cuida dele como cuida das aves do céu.
    beijo terno minha linda amiga de grande sensibilidade.

    boa semana cara mia
    :)

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  22. Um excelente texto revelando uma grande sensibilidade ! É muito triste ver nas ruas os "sem abrigo " Quando passo por esta pobre gente , sinto-me triste e penso porque não terá esta gente direito a um mínimo de conforto ? Um problema que o Governo devia resolver e ninguem pode ficar indiferente a esta triste realidade !

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  23. Ja li que algumas pessoas vão para as ruas por não quererem se adaptar aos habitos familiares... daí pros vicios é um pulo :/

    Até mais
    =^.^=

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