29 abril 2011

COMO SUPERAR PERDAS ?



                                                                   

Não somos preparados para lidar com perdas. Cada uma delas, não importando sua natureza, traz um enorme sofrimento. Mas algumas não são passíveis desse sentimento. Mas nós o alimentamos mesmo assim, criando dificuldades inexistentes.

Quando uma criança perde ou quebra um brinquedo, chora. Reação natural. O consolo, no entanto, vem com a promessa de substituição. Mas nem tudo na vida pode ser substituído. O afeto não muda de objeto com essa simplicidade. E as crianças crescem com a sensação de que não passarão por perdas, já que tudo tem um preço. Um engano que acarretará, sim, falta de energia para vencer os desafios futuros.

Estive pensando nisso hoje por causa de algumas lembranças me que surgiram do nada. Quando me mudei de São Paulo para Belo Horizonte, perdi duas amigas, não pela distância, mas pela incompreensão. Posso até dizer, por egoismo e falta de respeito para com os sentimentos alheios. Uma delas ficou magoada porque não me despedi. Mais tarde, se casou com um amigo nosso e nem me convidou. Cortou o contato. Despedidas não são fáceis e quando me afastei, não queria dizer adeus a ninguém. Pensei que, mesmo à distância, os contatos seriam mantidos, como o são, com a maioria dos amigos que fiz, de quem muito gosto e que continuam morando lá. A outra, por estarmos sempre saindo juntas, ouvindo desabafos e nos consolando, reciprocamente, nas decepções, principalmente afetivas, sentiu-se abandonada. Disse-me que, se fosse realmente sua amiga, não iria embora. Dividimos tantos momentos , viagens, risos... e ela passou a ter um comportamento frio. Acredito que ainda carrega a mágoa. Infelizmente.


                                                        
As reações humanas são surpreendentes, mesmo quando julgamos ter grande conhecimento do íntimo das pessoas. Essas são perdas superáveis, embora incompreensíveis. Ninguém pode se sentir dono de outras pessoas, tentar decidir seus caminhos  visando a própria  satisfação.

Perdemos, de verdade, quando alguém morre. Até para isso deveríamos ser preparados. Nunca pensamos que as pessoas queridas vão um dia nos abandonar para sempre. E até aí entra o egoísmo, porque não sofremos por essas pessoas terem perdido a vida, mas por nós perdermos a convivência com elas.

Já perdi uma amiga assim. Um dia estava boa e no outro desenganada pelos médicos. Fui visitá-la uma única vez, quando hospitalizada. E me lembro que ela chorou, dizendo que não sentia mais o sabor dos alimentos, do café com leite e pão com manteiga que tantas vezes saboreamos juntas. Fugi. Não tive coragem de voltar. Não fui ao  enterro e não visitei mais a família dela. Posso imaginar o quanto os magoei, mas não queria falar sobre ela, por quem nutria um enorme afeto, e nem queria guardar na lembrança um corpo sem vida.


                                                               
Por isso digo que não somos preparados para perdas. Será que poderia haver uma educação diferente, nesse sentido? Será que, quando crianças, deveríamos ter conhecimento claro de que as pessoas não vivem para sempre?  Percebo em filmes, em livros, entre conhecidos, a revolta que alimentam os filhos que perdem cedo seus pais. O sentimento de abandono que carregam, injustificadamente, porque pais jamais perderiam a oportunidade de ver seus filhos crescerem e chegarem àquele ponto em que podem caminhar com os próprios pés.

Os profissionais que atuam  na área da psicologia e da psiquiatria afirmam que a dor tem prazo de duração. Ultrapassado seu limite, há que os "sofredores" buscarem ajuda médica.

O mesmo acontece no amor. Algumas pessoas, frente ao fim de um relacionamento, não mais se recuperam. Passam a viver no passado e não se dão qualquer chance para a superação. Destroem-se, principalmente quando o objeto de seu amor seguiu outros caminhos.

                                                                        
Deveria fazer parte de nossa educação esse lado da vida. Deveríamos receber orientação que nos levasse a não dar às perdas tamanho valor. A maioria delas independe de nossa vontade. E só vejo uma estrada para a superação: a fé. Pessoas que abraçam uma religião têm mais força para lidar com fracassos e perdas. Essa força vem de Deus. E isso é tão certo que os próprios médicos não encontram, em muitas situações, uma explicação científica para resultados observados nos enfermos que estão sob seus cuidados e nas reações de suas famílias .

Há sempre janela abertas.  Nós é que não as vemos, quando nos trancamos e vendamos nossos olhos. Mas se tivermos o coração aberto, por essa porta entrará a luz , tanto a do sol que nos aquecerá novamente, quanto a divina, que nos propiciará continuar a caminhada, além e apesar do sofrimento.


4 comentários:

  1. Nossas vidas são permeadas de perdas e infelizmente, por vezes não as enfrentamos de frente...Vamos nos esquivando de encará-las e seguimos.Nunca rsolvemos isso e aí, erramos...

    Um tema complexo!

    beijos,lindo fds!chica

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  2. PARA ENFRENTARMOS AS PERDAS INEVITÁVEIS, DEPENDEMOS, SEM DÚVIDA, DA FÉ. ESTA NOS AMPARA,
    CONSOLA E NOS ENCORAJA A PROSSEGUIR.
    QUANTO A AFASTAMENTO DE AMIGOS DECORRENTES DE ESCOLHAS DE CAMINHOS DIFERENTES, A INCOMPREENSÃO É FRUTO DO EGOÍSMO.
    ACREDITO QUE DEVEMOS SEMPRE ENCARAR O QUE NOS AMEDRONTA. HÁ TEMPO CERTO PARA TUDO.
    BEIJOCA.

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  3. Emocionante seu texto, realmente não estamos preparados para perdas, mas elas existem e de várias formas e se somos abandonados também abandonamos, beijos.

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  4. Acredito que por mais que tentemos.. nunca conseguiremos lidar perfeitamente com a perda.

    Beijocas super em seu coração Marilene!

    Verinha

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