25 março 2011

LIBERDADE E RESPONSABILIDADE



                                                             
Sempre que falo com amigas ou ouço conversas entre mulheres, observo que muitas de nós tem atração excessiva por determinados objetos. Algumas não podem passar diante de uma casa de calçados, outras de bolsas, outras de óculos e por aí vai. Acabam colecionando esses bens, mesmo sabendo que não seriam capazes de usar todos eles em curto espaço de tempo. Costumamos até rir disso.

Eu já fui apaixonada por lingerie. No shopping, uma certa amiga me "empurrava" quando íamos passar por uma loja que vende tais produtos, porque, certamente, eu ia entrar e lá ficar por um longo tempo. Não que ela não aprecie roupas íntimas, mas seus objetos de desejo são os cosméticos e perfumes.  Quando vai ao exterior, então, faz a festa. Essa minha "doença" passou. Como? Ao me aposentar, minhas irmãs e eu abrimos uma loja de lingerie. E com o tempo, olhando peças íntimas todos os dias e sabendo que, se precisasse, as teria às mãos, com facilidade, aquele meu interesse excessivo acabou.

Não quero dizer que fui curada. Apenas transferi minha obsessão para outra coisa, as roupas de cama. Já fui a alegria de algumas lojas do ramo. Se passasse pela porta era logo colocada para dentro pelas vendedoras que me conheciam. Falo que meu apartamento tem poucos armários, mas na verdade a maior parte deles é ocupada por roupas de cama, que têm volume. Comprava os coordenados e tenho uma satisfação indescritível ao ver minha cama sempre linda. Até a internet era um perigo para mim. Não podia entrar nos sites que vendem esses produtos porque ficava um tempo enorme olhando-os, analisando sua qualidade, detalhes... me controlando para não comprar . Não sou daquelas pessoas que adquirem o que não podem pagar, apenas amo roupas de cama. Mas encerrei esse tipo de compra porque sei que não tenho necessidade de possuir mais  jogos. E costumo, também, doar os mais antigos para quem não tem, como auxiliares domésticas.

Perdi essa compulsão. Talvez a tenha adquirido porque, durante muito tempo, possuí apenas dois coordenados. Não tinha como comprar mais, meu salário era totalmente comprometido com as despesas usuais, condomínio, luz, telefone... faculdade.  Assim, quando me mudei para Belo Horizonte, já na qualidade de advogada da empresa, pude me dar ao luxo de satisfazer meu desejo de sempre dormir em uma cama linda.

O que tenho visto, no entanto, é que os jovens, mesmo vivendo de mesada, estão se comprometendo excessivamente. O cartão de crédito, que é um facilitador para nossas vidas, pode ser um problema de grandes proporções para quem não tem controle sobre seu uso.  Quando falei de nossa atração por determinados objetos, não mencionei impossibilidade de aquisição. Podemos namorar um sapato, uma bolsa, mas só vamos comprar se nosso orçamento permitir, pois estou me referindo a mulheres maduras e conscientes de suas responsabilidades.

De um lado, os pais economizam, as mães muitas vezes se privam de prazeres até pequenos, para que nada falte aos filhos. Mas deixam um espaço muito grande para eles, que passam a ter tudo que desejam, não valorizando o que recebem. Minha geração não teve essa facilidade e, por isso mesmo, conseguiu sua independência financeira para usufruir da chamada liberdade.  Os jovens de hoje recebem essa liberdade sem nenhum custo e não alcançam o mais importante, a independência financeira.

A cultura brasileira é diferente de outras. Americanos e europeus não mantêm seus filhos sob sua dependência depois que alcançam certa idade. Eles têm que se virar e correr atrás de seus ideais. A família brasileira costuma ceder tanto que filhos com mais de trinta, trinta e cinco anos aindam estão ali, na casa paterna, sem assumir suas responsabilidades. Esse é um aspecto negativo de uma educação paternalista. Óbvio que não estou generalizando e que as oportunidades no mundo de hoje exigem mais preparo e competência.                                       
                                                     

É preciso investir no intelecto, na formação do caráter, fazer com que, desde cedo, as crianças saibam compreender que não podem ter tudo que a mídia lhes mostra e que terão que ter capacidade para assumir uma profissão, entrar na competitividade do mercado em condições de vencer. E essa preparação está nas mãos dos pais. A moderação e o equilíbrio dependem das noções recebidas em casa, dos limites impostos. E cabe às mulheres  uma parcela significativa nesse processo. As mães não podem aceitar a vontade dos filhos sem questioná-los, sem lhes mostrar o real valor de cada coisa, nem permitir que os pais o façam. A mulher é educadora e mediadora e sempre está preparada para isso. Muitas vezes, é importante deixar sangrar o coração e dizer "não", para poder sorrir mais tarde.                                                         



Um comentário:

  1. Querida Marilene,ganhei um ótimo tempo lendo suas postagens,admirando suas fotos,e que cama linda.Porém focando mais sobre a profundidade do texto,tomo a liberdade de afirmar que realmente só o amor é real.Como mães,educadoras,formadoras de caráter precisamos estar psicologicamente muito bem preparadas para com firmeza dizer "Não"em várias situações,isto porque a dor de negar algo a um ente amado torna-se mais duro dentro de nós.Um texto extremamente interessante.Parabéns.Um grande abraço!

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