02 abril 2011

SOLIDÃO




Quando as mulheres moram sozinhas, frequentemente notam um olhar de surpresa nas pessoas ao mencionar o fato. Está havendo uma circunstancial mudança com relação a isso, mas já passei pela situação inúmeras vezes.  Em certa ocasião, realizando entrevista para o curso da ADESG/SP - Associação dos Diplomados da Escola Superior de Guerra, estranhei quando me questionaram o motivo de ser solteira. Não perguntam aos casados porque optaram pelo casamento. Óbviamente responderiam que o fizeram por encontrar a pessoa com quem desejavam dividir sua vida. Mas, solteira?????  Não fosse a seriedade atribuída ao curso, até teria dito que ninguém quis se casar comigo. Nunca havia pensado que poderia existir preconceito contra solteiros. Como o curso é frequentado, na maioria, por homens, acredito que o entrevistador poderia estar pensando que eu lá estava para procurar marido. Só rindo mesmo. Eu não procurei a ADESG, fui indicada pelo Superintendente da empresa onde trabalhava e não me arrependo de ter dele participado. Éramos umas quinze mulheres em um grupo de cento e vinte pessoas. Nem todos chegaram ao fim do curso porque todos exerciam atividades profissionais e algumas delas dificultavam, sobremaneira, o cumprimento das tarefas impostas. E outros não se adequaram às normas comportamentais estabelecidas.

Voltando à matéria de minha postagem, há uma grande distância entre estar só e sofrer de solidão. Essa solidão pode até existir e ser passageira, quando há uma separação amorosa, por exemplo. Mas as pessoas continuam seus caminhos e o sentimento se perde em outras relações. Perfeitamente normal.



Mas viver só e estar solteira não significa ser solitária. Isso só acontece na mente de pessoas que não passaram por essa vivência ou que têm medo de ficar sós. Às vezes, carregam por toda a vida uma relação que não lhes dá prazer, em nome desse medo, da dificuldade de abrir novos caminhos, de conviver consigo mesmas. Aliás, já foi devidamente provado que só podemos ser boas companhias para terceiros quando o somos para nós mesmos.

Moro só há muitos anos e vários dos meus amigos fizeram essa opção, mesmo residindo na cidade onde estão seus familiares. Gostam do seu espaço e de sua independência. Não são solitários, apenas usam a faculdade de só dividir momentos com  alguém de sua escolha, participar de programas que são de seu interesse. Não se trata de um comportamento egoísta, mas autêntico. Por isso mesmo, quando resolvem viver com alguém, a decisão foi medida, considerada e tida como dotada de prazer, o que, em muito, facilitará o relacionamento.



Algumas imagens nos mostram o sentido exato da solidão. Pessoas abandonadas pela família, sem teto, sem cuidados, sem trabalho. Se tentam se aproximar de alguém ainda são vistos como perigosos. Todos os olham e passam adiante. Ficam por aí, jogados, sem ajuda das instituições chamadas beneficentes e do próprio governo. Eles sabem o que é solidão, o sofrimento de se sentir sozinho no mundo.

Da mesma forma se sentem as cianças abandonadas, rejeitadas, muitas vezes desde o nascimento. Não conhecem a vida familiar e por ela anseiam. As que vivem em instituições ainda têm uma reserva de esperança. Mas e as que vivem nas ruas?  A solidão une umas às outras e , na maioria das vezes, para um caminho destruidor, fruto do abuso de adultos sem qualquer escrúpulo. Daí, chegam às drogas e ao crime. Há quem discorde, porém a falta de amor é o pior incentivador do comportamento por elas adotado.




Não conhecem  a chamada felicidade . Elas sim, não são sós, mas solitáriasAristótelis disse :      
Quem encontra prazer na solidão, ou é fera selvagem ou é Deus.

E temos também a citação de Josh Bilings, bastante significativa: 
Solidão: um lugar bom de visitar uma vez ou outra, mas ruim de adotar como morada.

A solidão é bela quando serve de inspiração aos poetas. Clarice Lispector usou muito bem a palavra: 
...Que minha solidão me sirva de companhia
que eu tenha a coragem de me enfrentar
que eu saiba ficar com o nada
e mesmo assim me sentir
como se estivesse plena de tudo
.

Fernando Pessoa faz uma colocação divina sobre a solidão:

Enquanto não atravessarmos
a dor de nossa própria solidão,
continuaremos
a nos buscar em outras metades.
Para viver a dois, antes, é
necessário ser um.


                                                           

Vamos, portanto, nos comunicar, fazer amigos, ajudar - dentro de nossas possibilidades - àqueles que entraram nesse processo e nele estão a se afogar. Essa ajuda pode até ser indireta, mas o importante é que o objetivo seja alcançado. E mais, parar de pensar que as pessoas sós estão nesse escuro buraco. A pior solidão é aquela em que  temos, literalmente, com quem dividir tudo, mas nos tornamos  invisíveis para essa pessoa.

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