12 setembro 2020

O TEMPO NO TEMPO DA MATURIDADE

               

                                                                (Virginia Palomeque)


Penso no tempo em que tudo chegava envolvido por uma lentidão inquietante. O tempo dos sonhos mirabolantes, dos desejos insensatos, de uma pressa inexplicável. O tempo da inconformância com ordens recebidas, tidas como de outros tempos. O tempo em que pensávamos ter todo o tempo do mundo e que o mundo nos chamava para nos oferecer apenas festivas alegrias. O tempo do futuro, onde queríamos entrar, sem demora. Recusávamos conselhos e a aceitação de que tudo chegaria em seu devido tempo. Não entendíamos que esse caminho, até lá, possuía encantos que não deveríamos perder.
 
Pois bem, o ansiado tempo chega. Olhamos para todos os lados e constatamos que ele não veio com tudo que esperávamos. É cheio de degraus, de espinhos, de vitórias também, mas de perdas. Um tempo bem diferente daquele que habitava os nossos sonhos. Um tempo a exigir experiência e sabedoria, onde cada tombo deixa marcas bem diferentes das de outros tempos, curadas com afagos dos pais e palavras de incentivo e de esperança.
 
Por ironia, muitas vezes gostaríamos de voltar aos tempos primeiros, reaproveitando melhor o tempo da ansiedade, aquele onde desprezamos momentos de aprendizado, de leveza, da oportunidade  de elaboração cuidadosa do enredo que poderia nortear o verdadeiro êxito de nossa jornada.

Mas a adolescência já não cabe no tempo da maturidade.


                                                              Marilene



17 comentários:

  1. Que texto!!
    Sabe, Marilene, eu não gostaria de voltar à adolescência e nem à infância, não! Não por não ter sido feliz, mas porque foram tempos tumultuados, com futuro muito desconhecido e por sermos, nessa idade, ingênuos demais, tempo que a gente sonhava com os pés fora do chão. Com tudo que passamos na maturidade, ainda prefiro viver dentro dela. Os medos da infância eram outros, da adolescência um desassossego de dar inveja, rss. Hoje, me obrigo a ser madura, e a maturidade, Marilene, não tem preço, nos dá a paz que queremos, mesmo sabendo que o tempo está mais curto...
    Quando percebo que trocaste a postagem, venho correndo, sabendo que lerei uma ótima crônica!!
    Um beijo, querida, um bom domingo.

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    1. Tais, nossos horizontes não são mais tão longínquos, mas procuramos ser felizes onde estamos. Não mais desejamos nos embrenhar em caminhos desconhecidos e entendemos bem o sentido de tempo. Isso traz paz, realmente. Sinto saudade é daquela inocência antiga, já que hoje conhecemos o chão por onde passamos. Você é um encanto e sempre me faz feliz com seus comentários. Grande beijo e ótima semana para você!

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  2. O tempo, seja ele qual for, que forma tiver, e o seu significado, tem o poder que nós lhe damos. Descansa nos intervalos das nossas hesitações. E porventura tem a nossa cara nos desejos que emana.
    É o que me faz refletir a sua reflexão.
    Gostei

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    1. Tempo, apenas uma palavra, mas comporta expetativas diversas dependendo da fase que estamos vivendo. E precisamos estar inteiros em cada uma delas rss.

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  3. Barbaridade,Guria! É de tirar o chapéu pra ti ! Escreves como se aqui do lado estivesses falando e algo tão normal, como o tempo... Disseste tudo: nossa pressa na adolescência e infância em querer que chegassem datas, festas, aniversários... Depois, pouco a pouco, por vezes, gostaríamos que o tempo parasse e nos deixasse melhor aproveitar bons momentos.. Adorei te ler! Desde o título, um arraso de tão bom! beijos, linda semana! chica

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    1. Verdade, joaninha querida. Nossos passos são mais lentos na maturidade, já que nossos olhos e nossos corações fazem leituras diferentes da vida. Aquela despreocupação da adolescência se perde e nossas vontades se invertem rss. Não queremos mais que o tempo passe logo. Muito obrigada pelo carinho de sempre. Bjs.

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  4. Adorei seu texto Marilene,vc tem toda razão. Quando eu estava na escola eu dizia que queria estar na faculdade já...uma professora me disse que temos que aproveitar nossa vida em cada fase,pois em todas as fases há coisas ruins e coisas boas...e ainda acrescentou: quando vc estiver na faculdade vai ser muito mais difícil e vc vai sentir saudade dos tempos da escola. Dito e feito! Beijos!

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    1. É assim mesmo, Ane. Mas não adianta dizer isso às crianças e adolescentes. Só com a vivência entenderão o valor de cada fase da vida. Bjs.

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  5. Muito, muito, muito bom texto Marilene; é bem assim mesmo! A verdade é que cada fase da vida tem o seu encanto; mas só quando chega o outono, percebemos o valor da primavera... que, neste caso, já não volta mais. Ainda bem que aprendemos a aproveitar melhor o tempo! :) Meu abraço, amiga; boa semana.

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    1. Nunca saberemos se fazer opções diversas, no antigo tempo, nos traria o hoje que temos. Como só possuímos o de agora, melhor vivê-lo com sabedoria. Abraço.

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  6. Belíssima crônica Marilene. Eu, particularmente, acho que a felicidade está em cada fase da vida, e que depende somente de nós, dos nossos desejos. Para quem nada tem, a felicidade está no pouco que consegue e para quem muito tem, fica feliz com o pouco mais conseguido. Rsrs.

    Abraços e uma ótima semana para ti e para os teus.

    Furtado

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    1. Verdade, Rosemildo. Há um tempo em que não temos os conhecimentos necessários à compreensão. Na maturidade, não mais podemos brincar com o tempo. Abraço.

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  7. Bem verdade isso que diz. Quem dera agora voltar no tempo... mas ele não volta atrás.

    Beijinho.

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  8. Um texto muito lúcido e que nos traz uma maneira de pensar, acho que de quase todos nós.
    Mas a adolescência, já foi.
    E todos os tempos podem e devem ser felizes, temos de saber gerir cada um em seu tempo actual.
    Beijinhos
    :)

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  9. O tempo nos prega peças, por vezes nos tornamos adolescentes já na tenra idade, por vezes crianças. :)

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  10. Sim, tudo parecia transcorrer mais lentos; as férias então, três meses nem se fala, rs,rs. Acho que vivemos cada tempo de acordo com nossas expectativas. Muitos sonhos, muitas inquietações e chegamos cada um no seu tempo, quem sabe?, a maturidade. Ótimo texto bjs

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