(François Fressinier - La Serenissima) |
Percebi que ela se aproximava. Vinha confiante e determinada, conhecedora de sua capacidade para entrar em qualquer ambiente e se instalar. Uma velha conhecida, visitante inesperada, que fazia uso de momentos de fraqueza, para se impor. Remexia lembranças, levava as pessoas ao que desejavam esquecer, tocava em pontos não cicatrizados e neles fazia estragos ainda maiores.
Ela tem um belo nome, que não é pronunciado com prazer. Não costuma ser chamada, abraçada, acarinhada. Quem a tem por perto anseia por uma despedida, eis que sufoca e até provoca lágrimas.
Tem seus admiradores, aqueles que fizeram opção por fugir do presente, por não fazer planos, por não alimentar sonhos. Aqueles que pensam já ter vivido o que poderia ser belo, e que nadam na descrença e na desilusão, ansiando por se afogar.
Observo seus passos firmes e me regozijo, interiormente. Não temos mais assunto para qualquer diálogo. Minhas gavetas estão vazias das memórias que são seu alimento, há muito substituídas por cores, flores e perfume, dos quais foge, imediatamente.
Quando chega perto, ainda ousa sussurrar em meus ouvidos, tentando vencer barreiras. Ouço-a sem qualquer emoção. Ela resolve cantar as músicas que já me levavam a um triste passeio pelo ontem, mas continuo a sorrir. Mostra-me uma linda tela e tenta fazer com que, mais uma vez, eu nela entre. Frustrada, vê que usei pincéis e tintas novas para colorir meus dias, que aprendi a desenhar o sol em nuvens cinzentas, que hoje ouço melodias que eu mesma toco em instrumentos invisíveis, saboreando a vida.
Em derradeira tentativa, me oferece os braços, tentando me tocar. E eu me afasto contente, dizendo bem alto seu nome, sem pestanejar. Desta vez não, saudade, já estou em outra margem. Pode passar!
Marilene
Marilene
ResponderExcluirJá de si, o tema escolhido é poético. Porém o tratamento dado à crónica, lê-se como poesia. É verdadeiramente, prosa poética. É o que chamo a poética das palavras.
beijos
Com essas cores novas
ResponderExcluirpinta-me as saudades do futuro
espero todos os dias
a sua visita
(o passado,
também me passa ao lado)
:))
Lindo texto e a danada da saudade vai se aproximando e quer nos pegar! Melhor ficar só com a parte boa dela! bjs, lindo fds! chica
ResponderExcluirQue lindo Marilene. Uma leitura que nos envolve do começo ao fim. Que bom qdo descobrimos que podemos tocar a vida sem olhar para trás . "Esquecer-se do presente " e fixar-se no passado" só atrasa a vida. Porque a vida é movimento constante e exige ação, atitudes. Sinta-se livre , sempre ! Pintar a vida com novas cores é estimulante. Bjs .
ResponderExcluirOi Marilene,
ResponderExcluirExiste saudade boa, de algo ou alguém,
pois tudo que nos marca positivamente um dia vira saudade...
E tem aquela que gosta mesmo é de sufocar a gente,
mas não podemos permitir que nos paralise e roube o
colorido dos nossos dias.
Excelente fim de semanal!
Bjs!
Que visita inconsequente Marilene, com estas cores sombrias, sorrisos de ontem.
ResponderExcluirQue visita mais chata que vem querer revirar gavetas, que jã não tem chaves.
Um show de inspiração e decisão perfeita.
Não como receber bem uma visita que vem perdida num passado esquecível.
Gostei e aplaudi.
Beijo
Texto maravilhoso sobre saudade, Marilene. Traduziu tudo e mais um pouco. Li até duas vezes. Bjs e bom fim de semana.
ResponderExcluirSe dermos chance ela se aloja em nós e nos destrói.
ResponderExcluirEla é linda para poetizar, apenas para poetizar, mas senti-la dentro do peito, ai que dor!
Um abraço cara amiga.
Nossa!! Que lindo texto, uma verdadeira prosa poética. Marilene, um dos mais belos textos que li no seu blog.
ResponderExcluirTiro o chapéu, aplaudo de pé! Não preciso falar nada.
Grande beijo.
Uma grande inspiração e um texto muito bem escrito!
ResponderExcluirFocando aquele aspecto negativo da saudade incómoda e prepotente, que não nos permite abraçar o presente plenamente, de quando se vive em função do passado. Uma saudade redutora, de quando se fica agarrado ao ontem, como se nada de mais importante pudesse acontecer hoje. Mas o que passou, passou e não volta mais.
Mas existe uma saudade saudável, não oportunista, que surge como elo de vida, veículo de transmissão de bons sentimentos e memórias imprescindíveis. Uma saudade bem educada que só surge quando convidada, e não abusa dos nossos afazeres...:-)
Gostei muito da forma de abordagem, tão poética!...Um texto de excelência.
Bom fim de semana, Marilene!
xx
Amiga Marilene deliciei-me com este seu maravilhoso texto poético.
ResponderExcluirDeixar passar a saudade sem olhar para trás é algo muito difícil de alcançar, pois ela é tentadora e nos alicia constantemente.
Serenidade, como nos mostra no lindo quadro, é a postura perfeita.
beijinho
Fê
Beleza de texto, mana.
ResponderExcluirQuisera eu agir dessa forma diante dessa indigesta visita. Claro que quando ela chega não a convido para entrar e nem lhe ofereço uma cadeira para ela se acomodar, mas a simples aproximação dela já me perturba. Há saudades que trazem boas lembranças, mas há outras que machucam. Essas últimas são mais insistentes e é preciso força de vontade para refreá-las ou dar-lhe as costas para que a vida possa prosseguir com serenidade e com o brilho que ela requer.
Linda a imagem.
Beijo.
Querida Marilene sabe o que mais me prende nos teus textos é o "saborear" lentamente a leitura e percorrendo cada parágrafo tentar advinhar o que vem no final. Saudade! Corajosa e instigante sua colocação, ousada até , pois é realmente uma "visita" inesperada e que sempre nos empurra para um passado que muitas vezes nos cristaliza no presente. Amei! Como sempre. beijos.
ResponderExcluirÉ uma visita inoportuna que tenta chegar muitas vezes em momentos de alguma fragilidade. Nem sempre temos forças suficientes no sentido de não entrar na sua teia. Mas há que nos rebelarmos e olhar em frente. O passado poderá servir em muitos casos para contrabalançar o presente, mas somente dentro daquilo que não nos manieta. Há caminhos muito interessantes à nossa espera.
ResponderExcluirBela prosa com um tema muito interessante.
Cara Marilene, um bom resto de domingo.
Bjs
Olinda
Marilene: Amei ler sempre postas lindos e belos textos que eu adoro ler. Bom domingo
ResponderExcluirBeijos
Santa Cruz
A vida é contarditória nos seus meandros...e os relacionamentos humanos não escapam aos narcisismos do ego...sem moralismos, a literatura nas suas diversas vertentes é um sim á vida, ao amor, ao que passa e se repetirá mas nunca da mesma forma...seu texto suscita polémica. Interressante, sobretudo por essa abrangência na tipologia da personalidade humana. deixo-lhe o meu abraço, com apreço.
ResponderExcluirMarilene, como vai?
ResponderExcluirSaudade... é uma palavrinha dúbia. Há a saudade do que ou de quem se foi e não volta, que deixou marcas doídas, essa machuca muito e torna tudo sem cor. Há também a saudade boa, do que foi bom e não deixou marcas dolorosas, do que ou de quem pode voltar e então a saudade é só a espera do regresso. Em ambos os casos, procurar dar cor aos dias e à vida é uma escolha inteligente e importante para que a vida continue seu rumo da melhor maneira possível. Afinal, é bom voltar para a alegria, não é mesmo? Um abraço!
Oi Marilene! É verdade que não devemos ficar presos ao passado, e sim, vivermos o presente encarando o futuro com otimismo e determinação. Mas eu, particularmente, gosto de sentir saudade, pois somente sinto saudade das coisas boas do passado. Lembrar das coisas ruins, para mim é pesadelo, e esse eu procuro descartá-lo imediatamente pensando em coisas boas. Rsrs. Linda crônica amiga.
ResponderExcluirAbraços, uma bela noite deste domingo e uma ótima semana para ti e para os teus.
Furtado.
belíssimo e sensível texto...
ResponderExcluirgostei muito.
beijo
Bonito texto. Quem dera poder dizer o mesmo.
ResponderExcluirUm abraço e uma boa semana
Olá, querida Marilene
ResponderExcluirÉ tão bom quando passamos pra margens mais profundas!!!
Bjm fraterno
Talvez a melhor descrição que li, até hoje, dessa companheira de todas as minhas horas, dia e noite!
ResponderExcluirMas não sei se gostaria que ela se afastasse... Se ela o fizesse... como poderia eu continuar a viver? De que alimentaria a minha alma? A alma precisa ser alimentada...
Obrigada, querida Marilene, pela belíssima partilha.
Uma óptima semana para si.
Beijinhos
A CASA DA MARIQUINHAS
Belissimo texto!
ResponderExcluirbeijinhos.
Marilene, texto como sempre ocorre nas suas publicações aqui, inteligente e muito bem preparado. Um beijo no seu coração.
ResponderExcluirBelíssimo texto, grande vitória. Como é difícil vencer uma saudade! Boa semana, Marilene.
ResponderExcluirUm texto muito interessante, minha querida amiga.
ResponderExcluirEscreve muitíssimo bem. E tem uma grande capacidade de criação.
Bjs.
Irene Alves
Marilene muito belo o que escreveu.
ResponderExcluirDifícil fugir da saudade.
Você finalizou esse texto de uma forma espetacular.
Seus textos são muito bem construído, valiosos.
Deixo um beijo e desejo de ótima semana.
Belíssimo texto e criativo na abordagem à temática. E subscrevo-o na sua mensagem. A saudade deve estar connosco mas como companhia que nos faz sorrir. Claro que há saudades que doem mais. Mas que elas não façam de nós suas hospedeiras!
ResponderExcluirAqui há uns tempos escrevi um poema (que vc também comentou) sobre saudade. Mas dei-lhe asas...
(Só para relembrar - http://portate-mal.blogspot.pt/2014/07/a-uma-certa-saudade.html)
Meu bjo, Marilene :)
Oi Marilene! Passando para agradecer a tua visita e gentil comentário, assim como desejar uma ótima quarta-feira com muita saúde e paz para ti e para os teus.
ResponderExcluirAbraços,
Furtado.
Oi, Marilene!
ResponderExcluirVisita como essa... Quem nunca!
Apesar do "passar reto" ao final :D fez uma elegante prosa.
:)
Beijus,
Adorei o escrito, bela visita...
ResponderExcluirOs seguidores do Café entre amigos elegeram os melhores blogs de 2014, parabéns o seu está entre os vencedores. Convido com muito carinho para vi conferir o post e receber o selo especialmente criado para os eleitos.
http://www.cafeentreamigos.com/2014/12/seguidores-do-cafe-entre-amigos-elegem.html
Olá Marilene! Adorei o texto...bem com aquele Q de suspense de um conto. Eu adoroooo e confesso que logo fui embalada pelas suas linhas e naveguei até o fim. Quando ia saboreando as causas já ia me dando conta da visitante. Ela e os sintomas...
ResponderExcluirBeijos!
Monólogo de Julieta
Que mistério e suspense, a visita chegou devagar e eu pude imaginar ela ao meu encontro. Todas as característica que você fez sobre ela só torna a visita mais real.
ResponderExcluirBeijos.
Olá, Marilene, como vai? Volto em breve para ler e comentar... passei para pedir que me envie seu endereço para que eu possa enviar o livro do projeto 12 meses, 12 livros! Pode deixar um comentário no blog que não será publicado ou no e-mail revoltaeromance@hotmail.com. Obrigada, abraços!
ResponderExcluirGente... que texto fantástico!
ResponderExcluirAs pessoas, principalmente os poetas, possuem uma veia beeem masoquista em colocá-la no pedestal né?
É algo masoquista e sádico ao mesmo tempo, por despertar coisas que não tem mais porque serem despertas nos demais.
Esse relato é o relato da verdadeira superação.
Magnifíco Marilene.
Beijos.
A saudade de alguém que partiu para uma outra dimensão e já não se encontra fisicamente entre nós, faz-nos sentir a sua presença espiritual e por vezes acredito que esta presença é real e está connosco mais que nunca.
ResponderExcluirÉ a minha interpretação do seu texto, isto é, a minha sensibilidade e conhecimento.
Parabéns, Marilene!
ZCH
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ResponderExcluirAmanhã, 17, farei uma brincadeira
com relação a terceirização e gos-
taria de contar com a sua leitura.
Ah, como gostei do seu blog, vou
segui-lo. Espere que goste do meu.
Um abraço e obrigado.
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