22 março 2011

PREDADORES







Sou uma pessoa urbana. Gosto de viver em cidades. Tenho amigos cujo maior sonho é morar em sítio ou fazenda. Adoram mato e animais. Podemos ter aspirações diferentes, mas uma preocupação é por todos compartilhada : a segurança.

Hoje se diz que a cidade é uma selva urbana. Se analisarmos a colocação, vamos encontrar vários senões. Na selva estão animais perigosos, plantas venenosas, um aglomerado de troncos, raízes, galhos que assustam, notadamente à noite, onde os ruídos lá ouvidos nos são desconhecidos. Mas uma coisa é certa, há uma convivência até  harmônica entre as espécies, que se respeitam. Os animais matam para saciar a fome, para defender a cria, para definir seu espaço. O poder almejado por alguns da mesma espécie é o de chefiar o bando. Mas o comportamento de todas elas já foi estudado e é conhecido. Os homens sabem quando e porque atacam, quando se reproduzem, quais os que escolhem uma fêmea e só partilham sua vida com ela. Machos e fêmeas têm uma seleção natural a propósito de cuidados e educação da cria e a seguem por instinto, sem necessidade de qualquer orientação, senão a que é, automaticamente, transmitida pela própria espécie.

                                       



Tenho, portanto, como inapropriado, nos referirmos à cidade como selva. O ser humano não age como os animais. Apesar de ser a única espécie reconhecida como dotada de racionalidade, não utilizando apenas o instinto , como as demais,  pratica atos sem similaridade no mundo animal. Entre nós, aumenta a cada dia o número de "predadores", tirando nossa liberdade e fazendo com que convivamos com o medo a todo momento. E o pior, não o medo de uma catástrofe provocada pela natureza que estamos a destruir, mas o medo uns dos outros, de nossa  espécie. "Predadores" que não têm nada peculiar para uma identificação. As faces dos assaltantes, assassinos e demais infratores que vemos nos noticiários em nada diferem das de nossos vizinhos, amigos, colegas de trabalho. E a terrível constatação, costumam estar entre eles, tão perto de nós.

Atualmente, independente da condição financeira, nem sempre podemos ter nossos objetos de desejo, para não despertar a cobiça alheia. Quem ama jóias, por exemplo, e se dispõe a adquirí-las, não pode usá-las. Limita-se a obter reproduções e mantem as autênticas em cofres de aluguel. Que sentido existe nisso? Sempre brinco que, se fosse premiada com uma BMW, Mercedes, Ferrari, o carro nem sairia do lugar onde se encontrasse. Imediatamente o venderia, para não passar a imagem de um poder aquisitivo que não tenho e virar alvo de algum "predador".

A tendência moderna de se morar em condomínios que tudo oferecem, desde escolas, lanchonetes, padarias e até shopping, para fugir da violência urbana, não é a solução. Como as crianças serão preparadas para a vida? Um pequeno grupo social será como uma tribo e estaremos regredindo no tempo. Esses condomínios não oferecerão empregos, experiência, e as crianças, criadas em bolhas, não aprenderão a respirar longe delas, sem o apoio e a proteção existente naquele pequeno círculo social.

Hoje, antes de sair de casa, temos que ocultar qualquer forma de ostentação. Que loucura! Mulheres sem jóias ou bijouterias chamativas, carros que não se distinguem muito, um só cartão de crédito e pouquíssimo dinheiro.  E se pensarmos duas vezes, telefonamos e pedimos o que desejamos, para ficar em segurança.


Exagero????? Basta ver os noticiários. O número dos que ora tenho denominado "predadores" aumenta cada dia mais. Não é só uma questão social, mas de segurança nacional.

 


                                                                                      
Houve uma época em  que "arrastão" era o nome de uma música, gravada, inclusive, pela inesquecível Elis Regina. Agora, só se houve falar em arrastão nas praias, arrastão em prédios e o mais moderno deles, em restaurantes. E não há local específico, pode ser um restaurante de luxo ou simples, basta ter uma boa clientela.  Daqui a pouco, nem para comer poderemos sair. Ou teremos uma indigestão, por ficar atentos e com medo cada vez que entrar um grupo no local. Podem ser "predadores". E sua aparência nada tem de diferente. Pertencem à nossa espécie, vivem em nossa sociedade.



Cada vez que os filhos saem, os pais nem podem dizer: foram apenas jantar fora e não vão demorar. Alí, na lanchonete da esquina, pode estar a fonte de nossos medos. É triste pensar e falar isso, mas a realidade nos tem mostrado  que estamos impotentes  frente aos acontecimentos da atualidade. Minha mãe sempre disse que nossa segurança era garantida por suas orações. E enquanto nossas autoridades, aqueles que elegemos, não se dispuserem a adotar medidas que coibam esse tipo de delito, ficaremos à mercê dos "predadores" modernos, só nos restando orar... infelizmente.

Para não terminar esta postagem com melancolia, vamos ouvir a amada Elis, que tão jovem nos deixou.

                                                        
                                                                                                                                  
                                  

Um comentário:

  1. É VERDADE. VIVEMOS ASSOMBRADOS, A PONTO DE NOS
    RETRAIR DIANTE DA PRÓPRIA SOMBRA.

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