13 janeiro 2021

DESENCAIXE

                                                                   (Alex-Alemany )

                                                             

 
Meus pensamentos borbulham, mas não se encaixam. Buscam uma forma coordenada de existir, mas não encontram lugar para se firmarem com tranquilidade. Estou com a mente tão cansada!

Gostaria de poder desligá-la ao meu bel prazer. Nesse ínterim, só me ocuparia com o belo, o visível, o agradável. Do jeito que está, se faço uma pequena caminhada pelo bairro, admirando as flores que a primavera nos trouxe, penso nas queimadas, na destruição da natureza, nas decisões incompreensíveis que nos chegam lá de cima. Esse lá de cima não se prende aos céus. Quando o mencionamos, mais pensamentos nos machucam, eis que as decisões não nos propiciam paz. Lá, não se entendem, pois cada um tem seus próprios objetivos, ignorando a coletividade.

Quando encontro pessoas revirando o lixo, muitos que sequer conseguiram o auxílio emergencial, sei que políticas voltadas aos mais carentes não são delineadas com justiça. Por vezes, parece que eles não existem, de tanto que são ignorados. 

Passei alguns momentos comemorando a redução de mortes e contaminações pela covid, mas isso não durou muito. É certo que a própria população vem contribuindo para esse resultado, mas quando ouço aquelas vozes lá de cima fazendo afirmações contestáveis e negligenciando as providências requeridas para uma vacinação satisfatória, fico pasma. São insensíveis???  Ah, não! É que o crédito tem que a eles ser atribuído, como garantia de vitória nas próximas eleições.

Percebo que não temos ninguém, nem em uma situação tão drástica, que nos proteja , que se interesse, de fato, pelo bem maior, que é a vida. A hora pode ser H , D , C , ou qualquer letra que lhe queiram dar, mas seu significado real é inquestionável. Premente é a necessidade de se evitar males maiores,  e nos vemos diante daquele negacionismo abraçado por brasileiros em todos os cantos do país.  O fatídico exemplo também vem lá de cima. Nossos Anjos da Guarda devem estar se descabelando diante de tantos pedidos de proteção e diante do comportamento de outros tantos que não os ouvem.
 
E assim vai...
 
Só desligando os botões do raciocínio, do entendimento, do próprio pensar, conseguiremos ver o céu como céu, o lá em cima como a força superior de Deus, as flores como riqueza da primavera, a chuva como necessidade da terra... as palavras como instrumento para o desenho de uma poesia.

Continuam girando, com a costumeira indiferença, os ponteiros dos relógios.  Nossos ouvidos porém, dotados de sensibilidade,  anseiam por saborear aquele esperado e maravilhoso estrondo advindo da quebra das correntes.


                                                                Marilene



26 comentários:

  1. Assim se passa nestes inglórios tempos a nível global. Parece não se ver luz ao fundo do túnel. As cabeças fervilham em pensamentos desencontrados e inquietos.
    Deus nos acuda, que os governantes andam desgovernados.

    Beijinhos.

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    1. Os governantes, por aqui, estão mesmo sem rumo. E nós aguentamos as nefastas consequências de suas decisões (não decisões) . Bjs.

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    2. Fá Maior, sim porque de menor
      não tens nada. Eu também acho
      que vejo daqui de onde estou
      uma luz tão pequenina num túnel
      muito cumprido que as vezes
      penso se tratar de namoro de
      vagalumes. O povo precisa se
      ajudar para não espantar os
      bichinhos. Um beijo.
      MARILENE, um beijo também pelo
      espaço.

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  2. Marilene, lindo teu texto e desafabo...Há vezes que nos sentimos desencaixadas no contexto que nos rodeia e depois, quando paramos pra melhor ver, eles são os desencaixados...A coisa tá danada,né? beijos, boa note, chica

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    1. O que é dito é desdito sem constrangimento. As promessas são ignoradas sem constrangimento. E nós, esperando uma luz que não chega. Bjs.

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  3. Os desabafos fazem bem ao ego. "Oferecer" ao papel a tinta dos nossos pensamentos e sentimentos é fascinante. Se a tinta seca o melhor é olhar o branco papel, sorrir, e deixar a escrita para outro dia

    Felicidades

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    1. Ricardo, podemos, por vezes, até incomodar com nossos desabafos. Mas eles nos fazem bem. Obrigada por sua visita a esse meu espaço. Abraço.

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  4. É preciso desligar frequentemente... É imprescindível desligar a bem da nossa sanidade mental...
    Escrever e poetizar ajudam muito. Beijinhos, querida Marilene.
    ~~~~~~~~~~~~~~~

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    1. Majo, além de lidar com a insegurança reinante temos, de fato, de cuidar da saúde mental rss, tentando espairecer com o que nos dá prazer. Grande abraço.

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  5. Querida Marilene,
    Li o seu texto, arrepiada!
    Como desejava também ignorar o que vejo, o que sinto. Por vezes parece-me que vivo numa alternativa paralela, pois como é possível que só eu veja isto, questiono-me...
    Temos assistido a "coisas" vindas dessa alto, que fala, que nunca, nem nos nossos maiores pesadelos imaginaríamos.

    Resta-nos felizmente, ainda, a capacidade de descodificação, que alimenta a esperança em melhores dias.

    Um beijinho

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    1. Não fosse a esperança, "apesar de", seríamos engolidos pelas ondas gigantes que nos circundam. Os governantes perderam o senso de razão. Obrigada, querida, por seu comentário. Bjs.

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  6. Boa noite Marilene querida.7Menina que texto soberbo, por vezes nos sentimos fora da casinha mesmo, e o que nos leva a esse desencontro com a gente mesmo é toda essa desigualdade. Parabéns pelo oportuno grito!
    Bjs e boa noite

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    1. Estamos dentro de casa, observando uma realidade que nos assusta. Obrigada, Diná, por suas palavras. Bjs.

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  7. Querida Marilene

    Um privilégio ler este seu texto. Faz eco das nossas preocupações
    neste tempo incerto e tão cruel para os mais desprotegidos.
    Os governantes decidem do alto da sua comodidade e daquilo que
    representa os seus interesses. A desigualdade campeia e não
    sei se a tão propolada fraternidade será realidade, algum dia,
    neste mundo conturbado.
    Bom fim de semana, minha amiga.
    Beijos
    Olinda



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    1. Belas considerações, Olinda! Além de vivermos tão desolados pela incerteza, ainda temos que ver sofrimento imenso nos que lutam para existir aos olhos dos governantes. Obrigada, querida! Bjs.

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  8. Identifiquei me muito com seu texto. Há momentos que os acontecimentos ficam tão imcompreensíveis para mim pela tamanha indiferença e egoismo humano. A mente se conterce e busco um pouco de alívio no que me apraz, mas a realidade é desajustadora de nossa paz. Bom sábado

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    1. O alívio deve estar no desconhecimento do que acontece, na forma que acontece. É impossível não sermos atingidos, emocionalmente, pelo que hoje vemos e ouvimos. Obrigada, Norma. Bjs.

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  9. Nestes tempos que atravessamos tão dolorosos e estranhos, é normal que todos nós sentimos esse estado em que a Marilene tão bem soube escrever.
    É um desabafo que contem verdade e dor.
    Só a esperança e a fé nos podem ajudar.
    Bom domingo
    Beijinhos
    :)

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    1. E nos agarramos a elas, fortemente. Obrigada pela apreciação, querida. Bjs.

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  10. Lúcido e indiscutível. Realmente, estamos vivendo um tempo em que nada parece se encaixar com a lógica e os sentimentos ditos "humanos". Todos estamos ansiosos pela quebra das correntes! Belo post, amiga; meu abraço, boa semana.

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    1. Muitíssimo obrigada por suas palavras, meu amigo. Ótima semana para você! Abraço.

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  11. Bah, não sei como deixei passar esse teu belo texto! Foram os dias que não me envolvi muito com o pc.
    Marilene, a tua onda é a minha, a nossa, estamos no mesmo barco. Sinto esse pouco caso do governo, toda a força para denegrir e conspirar contra as vacinas; o pouco que a população em geral vale.
    Que coisa... tua crônica é um grito de indignação!
    Gostei muito de ler! Penso igual.
    Beijinho, uma boa semana. As vacinas chegaram, vi toda a festa. Aqui chegarão daqui umas 2 horas! Mas serão poucas vacinas, serve para o chute inicial. Saíram de São Paulo!!!

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    1. Tais, também eu estou mais devagar rss. A situação do Amazonas acabou comigo. Impossível não nos vermos dentro dela e não sofrermos com os que a enfrentam.
      Hoje houve comemoração por todos os lados, mas sabemos que estamos ainda engatinhando. Enquanto isso, há quem só pense em eleições, em cédulas de papel, deixando de lado suas obrigações, como se fossem papéis sem importância. Eu gostei muito de sua crônica, pois estamos vivendo as mesmas emoções. Que elas passem a nos trazer sorrisos. Linda semana para você! Bjs.

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  12. Puro fascínio de escrita
    Parabéns!
    Consegue passar em palavras aquilo que sente

    Começo por agradecer a visita aos meus blogues
    foi uma surpresa vê-la por lá
    vim retribuir a visita e, por curiosidade
    ver os seus espaços.

    Falar da situação da pandemia
    já estou evitando pois fico muito stressada quando escrevo sobre isso
    revoltada com injustiças
    enfim....melhor nem lembrar

    Fique bem, Tulipa/Kalinka

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    1. Kalinka, muito obrigada por retribuir a visita. Gostei dos seus espaços. Realmente, nossos dias têm sido estressantes. São muitas e nada agradáveis as notícias que nos chegam. Bjs.

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  13. Olá, querida amiga Lena!
    uma pequena caminhada pelo bairro...

    Eu as faço no alvorecer e desligo de tudo. E um momento de restaurar meu ser.
    Sua reflexão é pertinente. Estamos vivendo um caos. Duro de ficarmos ilesas.
    Esteja bem, amiga.
    Beijinhos

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