18 novembro 2020

BEM ESTAR

                                                                      ( Kay Ruane)

                                                            

Há pessoas que se aventuram pelo mundo, sempre inquietas, ansiosas por novas descobertas. Talvez estejam buscando a si mesmas, na ânsia de encontrar o que lhes pede o espírito, para cumprimento de suas missões.  E há as que amam cada objeto, cada canto da casa onde vivem, as calçadas por onde passam, os conhecidos caminhos... e que não desejam estar em outro lugar. Costuma-se dizer que os primeiros sabem viver e que os outros são acomodados. Não se pode generalizar ou banalizar o sentido de bem estar, acorrentando-o a convenções e sentires outros que não os nossos.

Nunca ouvi um chamado da vida com enorme abrangência. Sair de uma pequena cidade do interior para a capital, com vistas à realização profissional, não me colocou no primeiro grupo. Não sou aventureira e até admiro os que abraçam riscos sem qualquer preocupação. Encontro em meu lar, na família por perto, no meu universo particular cheio de livros e escritos, a seiva que me alimenta. Se de minhas janelas não vejo rios ou florestas, se nenhuma estrela cadente pretende nelas descansar, não importa. As ruas arborizadas e os prédios que me rodeiam são suficientes para que meu horizonte me deixe feliz. Aqueles longínquos, que alguns anseiam conquistar, não me acenam.

Gosto do porto seguro que eu mesma me proporcionei. Não há solidão ou qualquer frustração em desenhar pequenos os limites dos meus passos. Não preciso rodar o mundo para conhecer outras culturas e estar ciente de tudo que acontece. Aspirações diferentes motivam os seres humanos. E nenhuma delas pode ser considerada melhor que as outras, fora do contexto individual. Rótulos só são apropriados para produtos, eis que precisamos saber o que estamos a adquirir, sem nos enganarmos pelas embalagens.


                                                                                      Marilene


                                                                                       "E é tão puro o silêncio agora! "
                                                                                                  (Mário Quintana)



35 comentários:

  1. Perfeitas tuas colocações. Também não tenho que me sentir DO e NO munfdo todo. Não consigo mais me ver em grandes viagens ,visitando metrópoles..Nem pensar.Tanto que temos um filho em Dubai e nem de perto faz parte de nossos sonhos itr até lá. Prefiro o que temos por perto,. Aliás, no m eomento mais ainda, sonho em sair dos limites da casa apenas para ir para uma praia ou natureza. Porém nesse verão, isso está fora de cogitação. Assim, vamos ser felizes com o que temos e agradecemos por poder ver belezas das janelas...beijos, tudo de bom,chica

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    1. Meu amor pelo mar é como o seu, Chica, mas até para escolher onde vou verifico se não há uma aventura pelos caminhos rss. Se quando tinha 18 anos não me senti atraída pelos horizontes longínquos, não é agora que vou atender qualquer chamado deles. Também agradeço o que tenho por perto. E me sinto bem assim. Grande beijo! E que tudo esteja caminhando bem para vocês.

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  2. Também sou assim, mas gosto de algumas 'voltas' breves, para sítios tranquilos.
    Goste de a ler e, afinal, conhecer mais um pouco de si.

    Retribuindo cumprimentos do Refúgio dos Poetas.
    Tudo pelo melhor. Bjs
    ~~~~~~~

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    1. Majo, essas voltinhas são restauradoras e nos fazem muito bem. Não exigem grandes saltos rss. Gosto de ter os pés no chão e só voar nas palavras. Muito obrigada, querida, pelo comentário. Bjs.

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  3. Boa noite. Gosto de viajar sim, mas para lugares tranquilos. Adoro a paz...Boa postagem.

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    1. Nada como a tranquilidade, o saber onde vamos pisar. Obrigada pela visita e comentário. Bjs.

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  4. Mas essa crônica linda vem ao encontro da minha vida, também! Sou feliz ao caminhar nas ruas arborizadas do meu bairro, nos parques, no Bric (antiguidades) da minha cidade e ir nos diversos shoppings que gosto, conhecer a dona disso e daquilo, e lançamentos de arte, livros. Moro num bairro que parece um bairro familiar, uma vez que meus avós residiram na mesma rua, a 100 metros de onde moro. Meus pais e nós, filhos, moramos quando solteiros a 200 metros de onde moro, meus tios idem. Também não preciso fazer grandes viagens, conheço poucos países e leio sobre muitos, viajo muito pelos documentários, lindos, sim, mas agora me sinto ótima com o que faço e por onde ando. Minhas escolhas vem amadurecendo até que chegaram a um ponto sereno. Sem modismos. No entanto, não opino na vida dos que gostam de viajar anualmente. Viajam porque gostam e ponto. rss
    Adorável essa crônica, Marilene!
    Beijinho, só aplausos pra você!!
    Uma boa semana!

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    1. Esportes radicas, viagens aventureiras, caminhos cheios de interrogações... nunca me atraíram. Você descreve uma vida de tranquilidade, de um gostar também ligado a raízes e família. Estamos viajando no mesmo barco rss. Você tem uma forte ligação com a arte e isso é maravilhoso. Em qualquer lugar convive com ela, sem necessidade de extravagâncias. Há pessoas que nem com o passar dos anos se acomodam. Como a Chica, gosto de ir ali rss, ver o mar. No mais, onde estou me sinto feliz. Muitíssimo obrigada pelo constante estímulo. Grande beijo!

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  5. Gostei muito deste seu texto, e com ele me identifiquei. Gosto de novas descobertas, mas aprecio muito o meu pequeno mundo.

    Beijos.

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    1. O mundo que construímos para nós é muito precioso. Ele nos abraça e conforta. Bjs.

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  6. Oi Mari
    Não poderíamos viver sem visões femininas_ são sempre muito oportunas e falamos do óbvio com poesia e muita maturidade.
    Algumas vezes ouço essas comparações entre acomodações de vida. E ,como gosto de ser acomodada ! Gosto do silêncio tanto quanto o poeta.
    Amo viajar também, mas voltar ao meu refugio é tão necessário quanto amar. E se não viajo, aproveito para viajar 'pra dentro' como agora nessa pandemia. Só me fez mal pela total inquietação na saúde de todos, e não me perdi em angústias por 'ficar em casa'.
    Adorei sua crônica. Parabéns!
    e beijos

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    1. Lis, viajar é gostoso, mas voltar ao lar é algo que nos faz um bem enorme. Precisamos nos apegar a esse conforto que não traz solidão, mas paz. Já me chamaram de acomodada rss, mas que importa além do meu próprio bem estar, esse que a ninguém incomoda? Eu me apego à grandiosa simplicidade do meu apartamento, do meu bairro, da minha família por perto. Grande beijo!

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  7. Cada ser é único, fazer julgamos é priorizar suas próprias referências. O bem estar deve ser o rota do caminhar. bjs

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  8. Certíssima, Norma! Cada um deve procurar estar onde se sente bem. E isso varia de pessoa para pessoa. Bjs.

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  9. AZ experiências de vida como únicas, independentemente de serem mais ou menos abrangentes
    Gostei

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    1. Realmente. Somos diferentes, daí a variedade de escolhas. Obrigada, poeta. Abraço.

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  10. Sim, a uns a vontade de estarem recolhidos no aconchego do lar e a outros
    o apelo das viagens, a confusão dos aviões, comboios, hotéis.

    Eu gostaria de estar no meio termo, mas a minha tendência é quase quase para estar confortavelmente em casa embora lute comigo para alterar as coisas. :))

    Na verdade, somos complexos e diferentes...

    Gostei muito do seu texto e do tema, querida Marilene.

    Beijo
    Olinda

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    1. Somos mesmo diferentes, Olinda! Eu também gosto do aconchego do lar. Viagens me atraem quando posso ver o mar rss, mas retornar é sempre prazeroso. Grande beijo!

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  11. Taí uma reflexão que muita gente deveria parar pra ler, Marilene.

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  12. MArilene
    Eu sou aventureira, gosto de descobrir e exlorar coisas novas.
    mas gostar de estar e ser feliz no seu lugar de conforto não é defeito é qualidade e sensatez.
    Mais um texto bastante interessante.
    Boa semana.
    Beijinhos
    :)

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    1. Piedade, admiro e aplaudo os aventureiros. Eles nos dão muitas respostas. O estilo de vida depende do sentir de cada um. Grande beijo!

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  13. Gostei muito, Marilene! Talvez porque também sou assim: gosto da minha rotina, das coisas que me cercam, da vida que levo. Nunca fui apaixonado por aventuras... embora, verdade se diga, tenha vivido algumas e viajado por um bom número de lugares! :) Belo post, boa semana; meu abraço.

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    1. Eu não me arrependo de gostar do perto, de estar com a família, da simplicidade do dia a dia. Aventuras não são para mim rss. Muito obrigada pela presença e comentário. Abraço.

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  14. Houve época em que trabalhava como instrutor de vendas de numa grande empresa, e todo final de semana estava dentro de um avião para dar treinamento nas capitais brasileiras. Hoje, prefiro os passeios curtos, e com esta pandemia saio somente o estritamente necessário. Bela crônica Marilene. Parabéns!

    Abraços e uma ótima semana para ti e para os teus.

    Furtado

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    1. É o que nos pede a vida, atualmente rss. Sossego!!!! Abraço.

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  15. Na minha vida laborativa como profissional da saúde e do serviço Público Federal, trabalhei em várias capitais, senti uma fome de conhecer lugares e novas culturas, mas sempre com estrutura pra me estabelecer onde quer que eu fosse morar. Sou meio cigana, mas sempre temi o incerto.
    Uma crônica que gostei muito de ler. Parabéns!

    Bom fim semana.
    Bkjss

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    1. No campo profissional, muitas vezes temos que estar em lugares diferentes, Diná.
      Mas não perdemos a necessidade de um porto seguro. Para alguns, é certo que ele não é necessário, pois amam o desconhecido. Bjs.

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  16. Pois é, minha amiga Marilene, comigo também acontece algo semelhante, no que diz respeito à fruição de belos momentos passados numa pequena cidade, como por exemplo Gramado ou Canela, cidades serranas gaúchas, que há muito tempo acolhem a mim e a Taís, e anos atrás os filhos na infância e adolescência. Nessas cidades fazemos grandes viagens em pensamento, sentados embaixo de uma árvore frondosa e muitos outros passeios em contato com a natureza. Claro que há pessoas que sentem a necessidade de fazer grandes viagens, conhecer grandes centros na esperança de ali se encontrarem. Mas, quanto a essas pessoas lembro-me do que escreveu Ronald de Carvalho, num de seus estudos literários:" Mudamos de lugar, mas não mudamos de mundo".
    Bela crônica!
    Um bom domingo.
    Abraços

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    1. Essa colocação de Ronald de Carvalho é perfeita, Pedro. Onde vamos, levamos junto a bagagem. O conhecimento de nós mesmos se dá onde encontramos paz. Muitíssimo obrigada por seu comentário. Você e Tais caminham juntos e amam raízes, o que é belo. Lindo domingo para vocês!

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  17. Em sintonia , Marilene . E se puder ter o “ meu” conforto junto das minhas flores e abraçar cada árvore pela manhã , é dádiva . E se não fizer as viagens de sonho por que tantos anseiam , pois que voem . Prefiro o meu sossego e deixar navegar a minha imaginação.
    Como gostei de a ler !
    Beijinho

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    1. Manuela, parece que escolhemos caminhos semelhantes. Que outros voem e sejam felizes. Meu bem estar está aqui, bem próximo . Talvez possa até tocá-lo rss. Grande beijo!

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