30 outubro 2020

APENAS UMA COMPRINHA

(Gerry Toler )
         
                                                 

Será que existe alguém que nunca saiu por aí e fez uma compra impensada?? Sou mestra nisso. Não posso ir ao shopping para um simples passeio porque volto para casa com uma sacolinha. E muitas vezes acabo nem usando o que adquiri, passando-o adiante.

Convivi, durante algum tempo, com famílias estrangeiras. O comportamento deles era bem diferente do nosso, embora não se possa generalizar.  Quando iam a um shopping tinham objetivo definido, ou seja, um cinema, um lanche, uma compra específica. Nada de ficar namorando vitrines ou adquirindo algo supérfluo.  Mas não incorporei esse jeito de ser, embora muito o aprecie. Mostra sensatez.

Estamos em época de crise e a economia não vai bem. Portas estão sendo fechadas e o desemprego assusta.  Precisando vender, todas as lojas exibem anúncios de liquidação e oferecem descontos altos, muitos deles ilusórios, para atrair clientes. Os homens são mais comedidos quanto a roupas e sua atenção se volta para equipamentos . Mas pesquisam, anteriormente, os preços, pela internet. Assim se comportam os que conheço .

Belo Horizonte tem ótimo clima e todo o cuidado é pouco, nessa época de liquidações. As peças de inverno ficam baratas e me coço toda de vontade de adquirir jaquetas e casacos, embora sequer tenha oportunidade de usar os que já possuo. Basta ver um detalhe diferente e meus olhos brilham. Talvez, por ter residido em São Paulo por muitos anos, passando por temperaturas baixas, tenha adquirido uma ligação forte com as elegantes roupas da estação.  Mas aqui, de nada me servem. Não sinto frio para me encapotar.

Outro dia, passeando por um site, vi um roupão vermelho lindo, com capuz e gola cáqui. Gosto dos meus, que são brancos e leves, mas o bendito me chamou de tal forma a atenção que não resisti. Estava muito barato . Comprei. Na primeira oportunidade que a temperatura caiu, entrei nele e fiquei quietinha, para ver um filme. Estava chovendo e me senti aquecida. Quando me levantei do sofá fiquei assustada com o peso que tinha nas costas. Vixe!!

Resolvi lavá-lo, acreditando que esse incômodo passaria. Que tormento! Pela combinação de cores, percebi, de imediato, que soltaria tinta e que não o poderia deixar de molho. No tanque, molhado, ficou ainda mais pesado. A ginástica que me obrigou a fazer acabou com meu pobre corpo, despreparado para tamanho exercício. Não conseguia torcê-lo e fui obrigada a transferir para  a máquina a tarefa de o enxaguar.  Quando o tirei de lá havia pelo em grande quantidade e ele foi se espalhando pelo piso branco da área de serviço. Sacudi-o várias vezes, para que caísse todo aquele pelo de uma vez, mas não adiantou. Quem sofreu foram meus pobres braços. Usei até uma escova para tirar o resto, principalmente o vermelho que ficara grudado na gola cáqui. Para colocá-lo no varal, outra ginástica, sem contar que pensei que ele não suportaria tal peso. E quando secou percebi que ainda havia pelo para tirar. Uma peça linda que não me pertencia.  Não passo mais, de jeito nenhum,  por essa trabalheira. Não dou conta. Sou frágil.

O impulso na hora da compra de roupas nos leva a fazer bobagem, principalmente via internet, já que as informações costumam ser precárias para quem não conhece o produto.  E nem olhamos as orientações de lavagem que o INMETRO obriga o fabricante a colocar. Daí, aquela encomenda que recebemos pulando de alegria, chega como um inesperado explosivo que nos vai destroçar. Bendito roupão, que me tirou do sério!  Que sua nova dona, a quem o doei, seja mais prendada que eu e dê um jeito nele. Se isso for possível.

                                                               
                                                                      Marilene




30 comentários:

  1. rsssssssssssssssss... Ri muito dessa tua COMPRINHA,rs...Esse roupão deu o que fazer e falar. Imagino bem a cena. Que sujeirada, sem contar no peso dele ainda seco,rs...Imagino parecia estar carregando um colchão,rs... Muito legal te ler! E sabes, não sou de comprar nada que não preciso... Sou bem focada ! beijos, chica

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    1. Chica, a imagem do colchão foi muito adequada kkkkk. Preciso reduzir o consumismo, que você, sabiamente, não abraça. Bjs.

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  2. rssssssss, muito boa tua crônica! Confesso que eu era assim, comprava por impulso e ficava atolada com roupas que ficavam com etiqueta 2 anos!! Depois de anos deu-me um negócio de esvaziar meu roupeiro de tudo que eu não usava e nem usaria. Uma dona de loja há muitos anos me disse algo que guardei até agora e guardarei sempre. Vou passar pra você:
    "Taisinha, se você não usa uma roupa em dois anos, pode passar adiante porque você jamais vai usa-la, não gostou!"
    Marilene, eu tinha um terninho que comprei com etiqueta, e faziam 2 anos; tinha roupa guardada há uns 10 anos... dei tudo, fiquei alucinada! Hoje tenho pouca roupa, não compro o que não vou usar, foi uma lição e tanto! Não imaginas a leveza no roupeiro e no meu espírito! E isso se estende a outras coisas, toalhas, coisas de cozinha, uma porção de coisas que comprava por impulso, principalmente coisas de decoração de casa, antiguidades - hoje muita coisa dentro de meus baús!! Não dou porque são caros, e meus filhos não estão a fim!!! rssss
    Adorei, beijo, um ótimo feriadão!

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    1. Tais, quantas coisas guardadas!! O que serve para minhas irmãs e sobrinhas, dou imediatamente, ainda que goste. Todas as vezes que estão aqui vou mostrando o que penso que vai agradar a elas e acabam por ir embora com várias sacolas. Trabalhei a vida inteira com roupas mais formais. E caras. Nem é fácil doá-las. Quanto mais tiro, mais vejo que ainda há muito para me desfazer. Posso imaginar seu alívio. Preciso, urgentemente, fazer uma faxina dessas. Costumo dizer que gosto mais do prazer de comprar do que do de usar kkk. E olha que dou as coisas sem nenhum arrependimento. Fico até feliz. Grande beijo e um ótimo final de semana para você.

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  3. Marilene boa crónica de coisas de mulher; de muitas mulheres! Mas apreciei, como apreciei a liçõo de português do Brasil. Sobretudo a palavra vixe, que sei se traduzir por virgem. De qualquer modo, sou muito "brasileirão", porque curiosamente, onde tive melhores condições de trabalho foi numa empresa de um grupo do Rio de Janeiro, onde convivi com bastantes amigos do Brasil. Bjs

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    1. Olá Daniel!! Você já faz parte do Brasil e tem muitos amigos aqui que lhe desejam bem. Obrigada pela presença. Abraço.

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  4. Por vezes também caio nissoe me arrependo depois. Outras, não compro e arrependo-me também.

    Beijos.

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  5. Acho que todas já passámos por situações muito semelhantes...
    Eu, que nem lavo roupa de inverno, mando tudo para lavandaria,
    ficava louca com esse roupão, mas também adoro a combinação de
    caqui ou bege com vermelho. Acho que também cairia na tentação.
    Srrrssssss...
    Grata pelos momentos bem divertidos.
    Tudo pelo melhor. Beijos
    ~~~~~~~~~~~~

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    1. Para a lavanderia, só casacos rss. Eu lavo, Majo, todas as minhas malhas de inverno. E estão sempre novinhas. Aqui, usamos muito pouco esse tipo de roupa. Normalmente, faz calor. Mas que o fatídico roupão era bonito, tenho que admitir rss. Lindo domingo para você! Bjs.

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    2. Também lavo lãs... É um trabalhão para as secar, sem sol e com chuva...
      e o calor estraga-as...
      Srrsssss... Bjs

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  6. Bom dia , chega a ser um trágico/cômico, tive que expressar um sorriso, pois vc teve que fazer tantos esforços que o brilho da compra se foi; isto muito acontece, não sou tão consumistas, mas há atrações por determinadas coisas, e quem resiste?bjs

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    1. Foi o brilho e foi a compra kkk. Tenho que admitir que não resisto diante de certas peças. Estou me policiando muito e a quarentena tem ajudado rss. Ótima semana para você, Norma. Bjs.

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  7. Amiga Marilene, por natureza nunca fui fã de compras, principalmente de roupas, fico deprimida (;Confidencio-lhe que estou há mais de dois anos sem as comprar.
    Não sou mesmo uma incentivadora da economia neste particular.

    Beijinho

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    1. Fernanda, você tem sabedoria. Sempre fui apaixonada por roupas. Como já tive loja, me acostumei a pesquisar tendências e visito muitos sites. É uma grande tentação. Fico deprimida é depois da compra, quando não encontro uma oportunidade para usar o que adquiri rss. Grade beijo, minha querida amiga.

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  8. O consumo como ópio verdadeiro do povo.
    Ilude de tanta coisa
    😊
    Gostei do tom de confissão do texto

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    1. É verdade, meu amigo. Penso que o impulso da compra esteja ligado a outras carências rss. Abraço.

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  9. Marilene
    Sou como vocÊ.
    Adoro ir ao shoping e ver as montras mexer e remexer e comprar (sempre precisar)
    está na massa do sangue.
    compro e venho para casa com trapos e alma cheia.
    Ah Ah Ah
    Boa semana.
    Beijinhos
    :)

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    1. kkkkkkkkkkkkkkkkk É muito bom, né???? Linda semana também para você!! Bjs.

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  10. Várias verdades alinhadas no interessante e bem escrito texto, Marilene Verdade que todos fazemos, às vezes, compras por impulso; verdade que os homens são mais chegados a equipamentos e que pesquisamos muito pela internet, onde compro também, mas nunca comprei roupas, porque temo problemas no tamanho e no caimento. Quanto ao seu roupão... foi uma verdadeira aventura, né? :) Meu abraço, amiga; boa semana.

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    1. Mulheres são mais impulsivas nesse quesito rss. Meu cunhado também não compra roupas, pois é minha irmã que o faz. E nem sempre acerta com tamanho kkk. Linda semana para você! Abraço.

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  11. A sua forma de agir, caiu aqui que nem um a luva !
    E se fizer às compras com um a filha amorosa que nos impulsiona ainda mais ?
    Uma autêntica aventura ,Marilene !
    E agora que não saio como antes , o que fazer com tanta peça ainda com etiqueta ?
    Agora, caso resolvido. O vírus resolveu o problema . Não comprei mais nada
    Uma realidade tão comum😊
    Beijinho grande

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    1. Manuela, você me fez rir. Não temos onde ir e o armário tem roupas novinhas kkk. Parece que sua filha a estimula, o que acho formidável. Sinal de muito afeto. Só um vírus mesmo para nos aprisionar e conseguir a façanha de nos desestimular, no tocante a compras. Grande beijo!

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  12. As promoções e os "saldos" atraem por demais.
    Por mim falo. A procura de peças em conta é uma
    tentação para mim. Claro que nessas ocasiões
    com tudo já escolhido o resultado é que nem tudo
    o que compro me serve às mil maravilhas.
    As peripécias com o seu roupão lembrou-me
    dissabores de que tenho a minha conta.

    Bela crónica, Marilene.

    Beijo
    Olinda

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    1. Olinda, é difícil resistir rss. Quando algo dá errado, prometo a mim mesma que controlarei o impulso, mas...
      Grande beijo, querida.

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  13. Todas as mulheres passam por esse frenesim, essa vontade indomável de comprar roupa, e se for em saldos, não só a 6ª feira é black, como todos os outros dias da semana.
    Os homens são mais ponderados e determinados, nesse aspeto. Vão diretos àquilo que querem.
    Ah, seu roupão vermelho lhe deu uma trabalheira! Já me têm acontecido situações semelhantes, mas eu na hora de comprar, não raciocino.
    Que faça bom proveito à nova dona!
    Beijos e bom final de semana, Marilene.

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  14. Este comentário foi removido pelo autor.

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  15. Achei muito estranho, Marilene!!
    ~~~~~~~~~

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