16 novembro 2015

GARGALHADAS

(arquivo pessoal)




- Dindinha, vem brincar comigo?
- Onde??
- Lá em baixo.
Decidido, pega minha mão e sai me puxando até o elevador. Aperta o botão para chamá-lo e, ao entrarmos, já marca o andar correto. O condomínio onde reside é grande e não sei andar por lá. Descendo, corre um pouco, olha para trás e me diz:
- Anda, vem!
Sigo-o até o a área onde está o parquinho e algumas aparelhos para exercícios. Ele vai para o pula-pula e se diverte. Logo se cansa e segue em direção a uma das barras, a mais alta.
- Me levanta, dindinha! Eu não alcanço!
- Tá louco!! Se cair vou ter que recolher os pedacinhos. 
Ouço, então,  uma sonora gargalhada.
- Vamos para a pequena, digo. 
Ele corre, coloca as mãozinhas na barra e se joga, como se fosse um atleta. Meu coração bate forte, pois se sua perna subir muito alto , perderá o controle e girará no espaço. Coloco-me na frente dele e, quando toma impulso e levanta os pés, eu os seguro e grito:
- Ai!!! Você é muito forte e não consigo segurá-lo!!
Mais uma vez, a sonora gargalhada.
- Anda, Tia Ene, de novo, pede rindo. E de novo, de novo, de novo...
Fico ali por uns instantes e alego que chegou minha vez. Vou para a barra alta, coloco nelas minhas mãos e... valha-me Deus,  meus pés não saem do chão. Não consigo fazer o mesmo que ele e só ouço suas sonoras gargalhadas.

Será que algum dia gargalhei assim, despudoradamente e feliz? Entro no campo de minhas lembranças, vou à infância e nada encontro. Passo para o período da adolescência e já percebo uma pequena melhora, risinhos abafados quando levávamos bronca de minha mãe, por chegarmos depois da hora marcada, e íamos para o quarto, rapidamente. Lá, começávamos a rir, mas com cuidado para não sermos apanhadas. O que eu procurava, no entanto, eram as gargalhadas. Continuei remexendo nas memórias e cheguei aos meus primeiros anos de trabalho, em São Paulo. Fiz algumas amigas na empresa e costumávamos sair juntas. Todas estávamos descobrindo a cidade e a liberdade . Algumas vezes, nos divertíamos até tarde, comíamos cachorro-quente na madrugada e dormíamos umas nas casas das outras, para nenhuma voltar sozinha para casa. No dia seguinte, mal nos aguentávamos de sono, mas chegávamos na hora certa ao trabalho. Quando nos encontrávamos, para almoçar,  relembrávamos as "loucuras" (só o eram em nossas cabeças interioranas) e então gargalhávamos. Eita!!! Lá estavam elas e as encontrei. Ríamos de tudo e mantínhamos um olhar de cumplicidade quando nos encontrávamos pelos corredores. Chegávamos a sair a semana inteira, sem cansaço ou preocupação, como adolescentes deslumbradas. E mantínhamos a seriedade necessária na realização de nossas tarefas profissionais.

- Tia Ene, vem!!!!

Desperto, feliz, de meu passeio pelo ontem. Ufa, encontrei as gargalhadas! Por que as deixamos pelos caminhos, não as mantendo, na idade adulta? É uma pena! 

E continuo a brincar com ele, me divertindo com as suas, frequentes, sonoras e encantadoras.


                                                          Marilene



Vou deixar este meu espaço descansando por algum tempo. Infelizmente, não há essa opção no blogger e, quando ocultamos algum, quem tenta acessá-lo encontra um aviso de que está aberto apenas para leitores convidados, o que não é real. Ele vai ficar, literalmente, fechado, ok??

                                                                    Marilene






22 comentários:

  1. Delícia de sobrinho, mana.
    Passar momentos com ele e o irmão é extremamente revigorante. Não há como não sorrir diante de suas inocentes peripécias.
    Gargalhadas já dei muitas e continuo gargalhando. Não me lembro delas na infância, é verdade, pois fomos criadas num regime de muita severidade, mas a partir da adolescência elas foram e continuam sendo parte integrante de mim. Adoro uma sonora gargalhada. É desopiladora-rsrs.
    Um passeio ao passado deliciosamente narrado através desta saborosa crônica.

    Você faz bem em deixar este espaço descansar um pouco, embora suas crônicas sejam sempre bem elaboradas e prazerosas de ler. Afinal, você já possui mais dois blogs e é cansativo administrar três blogs, principalmente no final do ano, quando o tempo parece ficar mais escasso.

    Beijo.

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  2. São os pequenos momentos que nos trazem felicidade!

    Isabel Sá
    http://brilhos-da-moda.blogspot.pt

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  3. Tomara que ele conserve suas gargalhadas ao longo da vida adulta!
    Também não sou muito de gargalhadas, nunca fui. Meu riso é discreto, baixinho.

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  4. Cara Marilene

    Com este maravilhoso post despede-se de nós, neste blog. Vou ter saudades dos seus artigos, das suas reflexões. Tanta coisa aprendi aqui. Muita dúvida afastou da minha cabeça com a sua forma de escrever ágil e conhecedora.
    Pois é, as gargalhadas!!! Tantas vezes as deixamos pelo caminho da vida. Depois queremos reencontrá-las e torna-se difícil. Em algum momento quedaram-se para trás e nós avançámos mancando, sem a sua luz. Tal como a minha amiga, impõe-se que paremos e as procuremos, fazendo delas, de novo, a nossa companhia privilegiada.

    Bem haja, Marilene.

    Bj
    Olinda

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  5. Oi Marilene :)
    Fase boa é a infância, onde só a diversão importa.
    Bom seria se as gargalhadas nos acompanhacem
    com a mesma leveza e intensidade de outras épocas!
    Beijos!

    P.S.: Depois do descanso necessário, espero que este espaço
    tão querido e aconchegante volte :)

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  6. As crianças desinquietam a nossa sobriedade, e que bom que isso é! Com isso fazem-nos voltar atrás, com uma alegria irreverente que nos faz perguntarmo-nos onde terão ficado as nossas gargalhadas.
    Porque nos tornamos tão sisudos na idade adulta?...O trabalho, as responsabilidades, sim, talvez. Mas talvez também o esquecimento de actividades lúdicas e encontros com amigos que nos possibilitariam um ambiente de descontracção e um "não pensar em nada". Pensar muito pode tornar-nos tristes, ou pelo menos, um pouco desiludidos com o que se possa passar à nossa volta.
    Eu sou de lágrima fácil e de gargalhada fácil! Enfim, uma tresloucada...:-)
    Teu sobrinho é lindo!
    xx
    Sinto muito que feches este teu blog de crónicas por um certo tempo, porque gosto imenso das tuas crónicas, escritas sempre com muita inteligência e sensibilidade. Identifico-me com muito que escreves, sobretudo ao nível das temáticas sociais, e a tua escrita é sublime. Continuarei contudo a seguir os teus passos através dos teus maravilhosos "Olhares Silenciosos".

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  7. Um belo texto e são destas "pequenas" coisas que nos confortam e dão alento para viver em felicidade.
    É pena fechar o blog mas é uma opção da minha amiga.
    Um abraço e continuação de uma boa semana.

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  8. Ainda li ontem esta ternurenta e reflexiva crónica mas não houve tempo para a comentar. Na verdade, não há como as crianças para nos arrancarem verdadeiros momentos de felicidade, seja pelo gargalhar, seja pelo que dizem, seja pela participação nas brincadeiras. E elas adoram ver-nos a entrar no seu jogo! E como foi poética a descrição deste momento, Marilene! Depois, a viagem pela tua vivência, procurando pelos momentos das gargalhadas, acabou por trazer à tona, momentos que viveste. Gostei muito deste processo!
    Quanto ao blog, de vez em quando há necessidade de fazer pausas. Eu, no verão, pelo calor excessivo e outras razões, também espacei as postagens e, mesmo agora, ainda não consigo seguir, a tempo, as postagens dos amigos devido à necessidade de apoio à mãe. Consequentemente, respeito a tua decisão. Ficou-me a dúvida se fazias uma pausa ou se ficava encerrado. Espero que seja apenas uma pausa. Se for encerramento, podes, no outro blog, intervalar a tipologia de textos. Fica mais fácil de gerir.
    Bjo, Marilene :)

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  9. Querida Marilene, espero sinceramente que este descanso decerto merecido, seja por pouco tempo.
    Aprecio demais a sua escrita, sincera, conhecedora da vida e sempre com um forte conteúdo emocional.
    Este delicioso texto isso reflecte.
    A cumplicidade linda entre tia e sobrinho, trouxe-lhe boas recordações!

    Até breve minha amiga !

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  10. Amei sua crônica e estou cá buscando minhas sonoras gargalhadas, que graças a Deus continuam até hoje, mas me lembro em especial de uma frase de papai para mamãe:"Escuta só a gargalhada da nossa menina, que ela nunca perca esta alegria e esta gargalhada tão gostosa de ouivir".
    Meu marido fala, amo sua gargalhada, ela alegra ainda mais a nossa casa.
    Estou aqui sorrindo do que estou a escrever, rsrsrs.
    Grande beijo no coração e breve regresso, se divirta.

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  11. beijo.

    gostei muito da crónica. belíssima aguarela de vida....

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  12. OI MARILENE!
    VERDADE, ONDE DEIXAMOS NOSSAS GARGALHADAS, FELIZES E DESPREOCUPADAS? SE PROCURARMOS, AS ENCONTRAREMOS TAMBÉM, AÍ, PORQUE NÃO EXERCITÁ-LAS NOVAMENTE? SEMPRE É TEMPO PARA RESGATAR COISAS BOAS NÉ AMIGA?
    LINDA CRÔNICA.
    ATÉ BREVE.
    ABRÇS

    http://zilanicelia.blogspot.com.br/

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  13. Minha querida,

    Não me canso de expressar o quanto adoro passear na
    sua arte literária; esta crônica além do humor,
    existe uma profundidade na sensibilidade "dorida" e muito bela...

    Respeito a sua decisão, mas continuarei de mãos dadas com
    a tua arte na partilha dos seus outros espaços.
    Beijo e abraço afetuoso!

    Sem pressão, quando puder volta, viu?...rss

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  14. Beleza de crônica, Marilene, gargalhadas são resultados de descontração das mais gostosas e autênticas! Adoro gargalhar, sinto um efeito de liberdade, de um não levar a vida muito a sério.
    Mas fechar como o blog? Não pense nisso, o máximo seria para um descanso temporário! Vai desperdiçar talento? Descanse e volte, sei o que é administrar mais de um blog. No 'Das Artes' tomei uma atitude um pouco diferente, mas está andando...
    Beijos!

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  15. Que lindo poster, Que doce os sorrisos das crianças. Lindo... e o pequeno a gargalhar trazem doces recordações. Amei ler tudo isso. Parabéns pelo blog. Bjs

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  16. Que lindo poster, Que doce os sorrisos das crianças. Lindo... e o pequeno a gargalhar trazem doces recordações. Amei ler tudo isso. Parabéns pelo blog. Bjs

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  17. Son una maravilla..un beso desde Murcia...

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  18. Son una maravilla..un beso desde Murcia...

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  19. Até eu daqui
    dei boas gargalhadas de seu belo texto Mari.
    Risos...
    Essas crianças chegam a surpreender de tanta garra em tudo.
    Os meus fazem a mesma coisa por aqui rsrsr.
    Mas sabe? Eles são os nossos motivos de gargalhar
    do jeito que conseguimos. No ritmo deles é fenomenal .
    Amei teu jeito de narrar tudo.

    Beijinho querida

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    1. Querida e sensível Fernanda, muito obrigada pelo carinho da visita. Você conhece bem o que é conviver com crianças rsss. Grande abraço!!

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