07 maio 2015

PODER PÚBLICO

(Virginia Palomeque )

                                                           

É preciso ter cuidado com os sonhos. E também com o verbo acreditar. Muitos se iludem com palavras que não chegam acompanhadas de atitudes capazes de plantar, com verdade, a esperança nos corações.

Vemos as frustrações no campo do amor, das amizades, das relações profissionais... Por vezes, somos nós a criar o engano, eis que nos seguramos em galhos que nunca foram fortes e que estão prestes a ir ao chão. Abraçamos uma primavera inexistente e reclamamos das flores mortas espalhadas pelos caminhos, que ninguém se dispôs, sequer, a varrer. A colheita exige cuidadoso plantio e terreno propício. 

Por vezes, a aridez não se mostra facilmente. Daí a necessidade de dedicarmos tempo à análise do solo, antes de investirmos nele. As horas tidas como em branco não serão perdidas quando forem úteis à nossa escolha, ainda que tenhamos estagnado um pouco antes de prosseguir, de agir, de optar.

A ânsia pelo poder e a busca tresloucada da felicidade têm levado muitos a uma vida de ansiedade, de estresse, de desequilíbrio emocional. Parece uma obrigação ser feliz. E o pior, dentro dos conceitos de outros, que estabelecem parâmetros não enquadrados em nossas reais expectativas, as que nascem de nossos corações. Copia-se, segue-se, busca-se uma superioridade de alicerces duvidosos, como se a inclusão e o bem estar dependessem disso. E esses conceitos se alastram, abraçando dos pequenos aos grandes grupos sociais, e chegando ao topo das nações.

Parece-me que o pódio tem fantoches. E o povo um dia os aplaudiu. Nem eles sabem como se comportar naquele degrau. Brigam entre si como crianças pirracentas. O comportamento atual deles pode ser resumido em uma frase:  você não me deu isso e não lhe darei aquilo. Tudo é troca de favores, em prol de benefícios próprios. Mas alguém os colocou lá. E não querem sair, para agonia da população que sofre com as consequências de suas escolhas.

Eles sonharam com o poder. Lutaram por ele. Ludibriaram os crédulos, que não fizeram prévia análise do terreno e entregaram suas sementes, gratuitamente ( ou não), para a plantação. E não há nada para colher, senão a desilusão. 

Mais uma vez, evidente está que não se pode seguir a procissão só porque se ouviu dizer que à frente existe um arco-íris e muitos potes de ouro.

Exercer o poder com dignidade é para poucos. É preciso ler, atentamente, uma procuração, antes de firmá-la. Mandatos da natureza não são rescindidos com facilidade. E seu tempo de duração é longo.


                                                               Marilene




19 comentários:

  1. Nada mais lúcido do que essas tuas palavras. estar atentos e muiiiiiito na hora de dar as procurações, sejam elas no campo judicial, sejam através dos votos... Há de tudo! Olhos abertos pois depois a coisa é bem mais feia e demorada e temos que engolir ...bjs, lindo dia! chica

    ResponderExcluir
  2. Uma excelente crónica, primorosamente escrita. Sobre as dificuldades dos relacionamentos inter-pessoais , sociais, e por fim em relação ao poder político que tão mal escolhemos por vezes, devido à nossa própria inconsequência.
    Temos tendência a creditar no que nos dizem, e a ter esperança que as situações ás se revertam e que tudo melhore. Criamos expectativas pessoais e grupais, (porque parecemos precisar do espírito de rebanho para tomar decisões), cujos objectivos tendem a nunca realizar-se. Ao escolher quem nos representa, optamos por soluções fáceis de quem mente melhor, quem é mais convincente na mentira, mas a verdade é que desilusão após desilusão, em vez de sentirmos a nossa própria responsabilidade individual e colectiva, se volta a depositar o voto naqueles que nos voltarão a enganar com falsas promessas.
    Somos tão irresponsáveis, no entanto o grande problema é que não há muito por onde escolher. Parece que a política em vez de de ser essa causa nobre da defesa da res publica, se tornou apenas um meio para que cada político use a coisa publica em seu próprio benefício.
    Gostei muito, Marilene!
    xx

    ResponderExcluir
  3. Pois é, Marilene, e entra ano, sai ano, os mesmos fazendo as mesmas peripécias e eis que... os mesmos se elegem!! Política é um emprego vitalício! Não consigo entender isso, mas é a tal coisa, deixe o povo analfabeto que tudo fica como o diabo gosta. Costumo ver tudo, mesmo que resolve não votar. E esse seu texto serve para as relações pessoais, de amizade, e como! Espero que um dia a gente aprenda...
    Beleza de texto, como sempre. Vamos aguardar que alguns explodam.
    Beijo grande.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Eu quis dizer que mesmo que eu 'resolva' não votar, vejo os debates, fico a par da porcalhada.
      beijo.

      Excluir
  4. Muito bem colocado, mana.
    O povo se ilude com palavras bonitas, discursos envolventes e não se preocupa em checar a vida pregressa de um político para certificar-se de que ele honrou com sua plataforma política. Muitos seguem a maioria ou se deixam subornar, sem pensar nas consequências de uma decisão equivocada. Os políticos se agarram no poder, como se fosse sua razão de viver. Se fosse por idealismo, seria aceitável, mas a maioria traz consigo interesses escusos. Não só na política, mas também nas demais relações interpessoais e até na fé, o 'acreditar', sem raciocinar, leva a consequências frustrantes. Precisamos alargar nosso olhar e a nossa percepção para não cairmos em armadilhas sem salvação,

    Excelente sua crônica.

    Beijão.

    ResponderExcluir
  5. olá, gostei muito do teu blog e já te sigo. tua crônica está impecável e verdadeira. em todos os campos só existe desilusão para os que antes se iludiram, na esperança de ver no outro o que desejavam. bjs

    http://metamorfosearsemmedo.blogspot.com.br/

    ResponderExcluir
  6. Amiga Marilene:
    Primeiro os meus olhos fixaram-se na beleza da tela de V.Palomeque.
    Depois na lucidez e verdade das suas palavras. Se todos seguissem estes ensinamentos decerto o poder público estava melhor distribuído e não havia tanta corrupção e ganância pelo poder.
    Acho que o poder elimina a moral dos homens.

    Um beijinho e bom fim e semana

    ResponderExcluir
  7. A "dignidade" vai sendo qualidade rara... tens razão!

    ... e não apenas na política!

    excelente crónica! o meu aplauso. de pé...

    beijo

    ResponderExcluir
  8. Passei para deixar um grande abraço e felicitá-la por este dia no qual é dedicado a todas as mães. Mães, mesmo que não tenha gerado no ventre mas tem um coração de mãe. Mãe educadora, mãe protetora, mãe amiga, mãe de luz, mãe amável... Mulher, ser escolhido por Deus para ser mãe e todos nós fomos gerados(as )por este ser maravilhoso, MÃE.
    Feliz dia das mães!
    Lourdes Duarte, sua amiga.
    http://filosofandonavidaproflourdes.blogspot.com.br/

    ResponderExcluir
  9. Temos que aprender todos a ser mais desconfiados...Cá em Portugal existe um proverbio que diz "quando a esmola é grande o santo desconfia"

    ResponderExcluir
  10. Olá Marilene! São facções aparentemente opostas, que vivem se digladiando com os mais diversos tipos de ofensas, e no final, se unem e comem no mesmo prato. O pior é que tem gente que fica à espera da época, para conseguir deles aquilo que lhe falta, óculos, dentadura, tijolo, telha, feira, emprego, dinheiro, etc. Bela cronica amiga.

    Beijosd e uma ótima semana para ti e para os teus.

    Furtado.

    ResponderExcluir
  11. Marilene, boa análise de como somos, como nos entregamos sem nos aprofundarmos, como acabamos aceitando as coisas como são, independentemente de podermos modificá-las.
    Vamos à luta, para ver se conseguimos encontrar uma saída.
    Bom estar com vc.
    Beijo.

    ResponderExcluir
  12. Lucido analisis, hay que llevar el poder con dignidad, saludos.

    ResponderExcluir
  13. Oi, Marilene!
    A sociedade precisa evoluir junto para pensar no que realmente é bom para ela e não no que vai de imediato sanar suas dores. Esse curativo não nos serve mais, precisamos de uma intervenção cirúrgica.
    Estamos cansados de maus exemplos, mas não perco as minhas esperanças. Acredito que ainda existam pessoas que não pensam apenas em si mesmas, mesmo sabendo que existam muitas que vendem os seus votos, mesmo que indiretamente, pois sabem que tal candidato as beneficiará de alguma forma.
    Na semana que passa, o prefeito da cidade em que moro deu um bom exemplo e fez o inesperado, pq viu que o povo que lhe deu votos estava se sentindo lesado e ele se sentiu enganado. Pediu afastamento da prefeitura por tempo indeterminado, colocou o secretário em seu lugar e assumiu a secretaria da saúde. Quer saber para onde anda a verba que a prefeitura destina para a área, pois as contas não batem. Despediu toda a secretaria. No que sabemos a saúde no Brasil não está bem. São pessoas morrendo em corredores de hospitais, mas essa realidade era remediada no município com o dinheiro local, para não ser totalmente dependente do governo federal que é oposição e por isso quer enfraquecer a gestão atual. Mais essa politicagem para convivermos! Um presidente deveria assumir e esquecer a que partido pertence. O que vemos é uma presidenta que coloca pessoas para fazer política em seu lugar, que não assume a administração e que fala somente abobrinhas. Se temos uma presidenta que não assume o seu papel, como cobrar de seus subordinados qualquer ação em prol da população? Estão ali por interesses próprios e tem chegado apenas paulada. Não sei onde isso irá dar, mas como está não dá mais. O povo está revoltado, direitos conquistados sendo cortados, empresas despedindo seus funcionários´para não abrir falência, inflação crescente... Sonhos? Acho que o brasileiro também está perdendo a alegria de sonhar.
    :)
    Beijus,

    ResponderExcluir
  14. Cara Marilene

    É a nossa realidade, qualquer que seja a sociedade, qualquer que seja o ponto do mundo. O poder tornou-se um vício. Isso e a troca de favores, uma rede de que nem conseguimos ver o princípio. Uma coisa emaranhada de compadrios, tráfico de influências, cunhas.
    Tenho em rascunho uma pequena reflexão sobre a "roda do poder" que publicarei um dia destes.
    Obrigada por este texto, onde mostra grande preocupação por um tema, dos nossos dias e de sempre, que parece submergir-nos.

    Bjo

    Olinda

    ResponderExcluir
  15. Excelente texto! Muito bem desenvolvido e rico literariamente. Detenho-me no que concerne ao exercício de cargos públicos. Infelizmente, muita gente é levada ao engano porque as estratégias são muito bem gizadas. Outra, não formação de base para ajuizar... Enfim, muito haveria a dizer...
    Rematarei dizendo que a diferença, em qualquer cargo público, faz-se pela pessoa que o exerce. Mas, cada vez mais, os mandatários eleitos servem os interesses pessoais ou de grupos económicos e financeiros, em vez da "res publica".
    BJO, Marilene

    ResponderExcluir
  16. Todo cuidado é pouco na hora de assinar uma procuração.
    Belíssimo texto, Marilene.
    Um abraço querida.

    ResponderExcluir
  17. Esse texto que vc escreveu merecia ser colado em vários locais públicos, Marilene. Vale a pena ler e reler. E vivemos mesmo um mundo de estresse, desiquilíbrio emocional e ansiedade extrema. Bjsss

    ResponderExcluir
  18. Olá, Marilene.
    Uma primorosa análise acerca do acreditar nos sonhos e em quem nos induz a sonhar. Seja a que nível for, passando pelo pessoal, profissional e até ao social, há que usar de lupa e discernimento para saber ler, não só as famosas "letras miúdas", como o que fica entrelinhas.
    A política é um jogo em que ganha quem melhor souber ludibriar e não tiver boa memória.
    Acredito que haja muitos que se iniciam por essas veredas por verdadeira motivação para as ditas causas sociais e nobreza de espírito q.b.. Mas os caminhos estreitos, em que têm que seguir, obriga a contorcionismo do caráter. E, quando chegados às largas avenidas, o trânsito é tanto e, que atordoa o discernimento, A adrenalina instiga à disputa e, na corrida desenfreada perde-se, pelo caminho, a motivação inicial. Entretanto, descobre-se que quebrar regras, afinal, é fácil. Prevaricar nem é tão grave, bem vistas as coisas. Descobre-se que, pode-se viver com mais e melhor do que o que se julgava. Esquece-se do antigo eu, que já sumiu do espelho.
    Quantos, já não testemunhamos, para nossa indignação, ao nosso lado, mudanças do género?

    bj amg

    ResponderExcluir

Marque presença! Ficarei feliz com seu comentário.