08 setembro 2014

QUANDO O SILÊNCIO NÃO TEM BELEZA


(Advertising Photography by Jan Kriwol)


                                                                   
Não tenho medo do escuro, mas do silêncio. Ele é um tipo de escuridão onde a luz não penetra. Silenciam os que têm poder para influenciar a sociedade, silenciam os que têm sabedoria para dividir, silenciam os que podem mudar situações, revelar fatos escusos , denunciar abusos e crimes. Eles têm medo ou são levados pela comodidade, pelo pensamento de que não têm responsabilidade para com a sociedade.  Nem é preciso chegar à sociedade maior. Esse silêncio está presente nas pequenas e grandes empresas, na família, nas relações de amizade. Um silêncio que, se não tortura quem por eles fez a opção, machuca terceiros por um longo tempo, até que a coragem faça surgir uma voz a ser seguida, um caminho novo a ser partilhado.

Muitos de nossos conhecidos cientistas, descobridores, provocadores de mudanças, só conseguiram seus feitos porque não se mantiveram em silêncio. Foram chamados loucos, sofreram, mas nos deixaram benefícios incontáveis.
                                                     
Mas não precisamos chegar a tanto. Há silêncios que destroem vidas, que amarguram pessoas, que permitem a incompetência, a corrupção, a promiscuidade. Há silêncios que contribuem para a escravidão (dita como não existente), para a dor, para obstrução de caminhos que poderiam levar à cura e à salvação. Silêncios que destroem a esperança.

O vizinho espanca a mulher, mas nada temos com isso. O tio abusa dos sobrinhos, mas o problema não é nosso. O garoto está envolvido em companhias perigosas, sem que a família saiba, mas nada representa para nós. Alguém está se aproveitando de cargos e usufruindo de benefícios indevidos, mas precisamos garantir nosso emprego e fingimos nada ver. Os pais estão maltratando os filhos, mas ver aqueles olhinhos sofridos não provoca o nosso grito de indignação. Optamos pelo silêncio e por cuidar apenas de nossas vidas.

Talvez estejam os homens justos cansados de não ser ouvidos. Alguns até se arriscam, mas são silenciados por meios desconhecidos aos demais. E abafam os gritos da consciência com a justificativa de que, propagando a verdade, serão eles a receber o castigo que deveria ser dado aos culpados. De certa forma, nem podemos proferir juízo de valor, eis que também temos medo de ser totalmente honestos, frente a ocorrências que não nos envolvem, diretamente.

É triste o silêncio, em muitas ocasiões. E o pior é que sabemos não ser ele, sempre, opção, mas imposição advinda da falta de segurança que envolve todos, atualmente. Nossos sentidos não sofrem qualquer dano, mas não vemos, não ouvimos, não falamos. Fazemos como muitos políticos que, ao ser questionados sobre irregularidades praticadas em sua gestão, limitam-se a dizer que nada sabiam, gozando da impunidade...


                                                                 
                                                                      Marilene

   
                                                  

30 comentários:

  1. Olá mana,

    Há silêncios odiosos, como esse objeto de sua crônica.
    É preciso ter coragem para falar quando a situação impõe. É tão importante quanto silenciar quando conveniente e necessário.
    Há silêncios covardes, infelizmente, e há silêncios movidos pelo medo resultante da falta de segurança, conforme você bem salientou.
    Somente denunciando as mazelas conhecidas será possível restabelecer-se a ordem e a justiça.
    Que não silenciemos quando a palavra merecer sair de nossas gargantas.

    Crônica excelente!

    Beijo.


    Aqueles que

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  2. Um silêncio que dá medo!
    Na nossa sociedade, na nossa comunidade, no círculo familiar e de amigos,
    esse silêncio grassa. Resultado muitas vezes da nossa própria cobardia,
    deixamos que vítimas inocentes sofram maus tratos e injustiças.

    Cara Marilene, muito obrigada por trazer este tema a debate.
    Talvez falando e meditando sobre ele as consciências despertem...

    Bjs

    Olinda

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  3. Profundas reflexões, tão bem trazidas! O silêncio, tal qual nos mostraste é o pior possível. è o não fazer, o não agir, o ficar vendo acontecer o que se passa na casa ao lado, na nossa mesmo, no quintal vizinho e claro, nas outras áreas porcas da justiça, política, tudo mais!

    Silenciar em certas horas é danoso.Pode custar vidas, estragar para sempre ! bjs, tudo de bom,chica

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  4. Tocas numa ferida transversal a toda a sociedade. Nem se pode dar mostras de inteligência, de arroubos de verdade. Ficamos logo sob observação. Um dia fui aliciado, numa empresa, a testemunhar um caso a que assisti. Sabia que estava a correr um risco, mas disse: posso testemunhar mas para dizer a verdade.
    Deixei logo de interessar, como testemunha, mas comecei logo a sentir perseguição, que só acabou, quando me despedi.
    A politiquice, mesmo nas empresas, é uma escola de mediocridade!
    bjs

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  5. Pura verdade, Marilene; às vezes, o silêncio é muito triste. Ele é doce, nas horas em que nada é preciso dizer; mas muito amargo quando nada resta a dizer. Boa semana, belo texto!

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  6. A coragem é um local onde poucos se atrevem a ir, e quanto a mim tudo começa na família. Se as famílias são na sua grande maioria disfuncionais, muitas delas fingindo que está tudo bem, como se pode a partir de tais famílias criar futuros seres que combatam pelo essencial e não fechem os olhos às relações de hipocrisia que minam toda a sociedade....?...Como podem certas mães saber de abusos sobre os próprios filhos, perpretados pelos próprios companheiros e fingir que nada acontece?... Como podem as pessoas ver que certos políticos mentem, e continuar a votar neles?! Quando o alto da pirâmide não funciona, como pode funcionar a sua base, e vice-versa; pescadinha de rabo na boca... E silêncio, e escuridão.
    Um grande texto, Marilene!
    Boa semana!
    xx

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  7. Há silêncios e silêncios...
    Certa vez tentei (tentamos) ajudar uma mulher cujo marido lhe batia. Ela o defendeu.
    Mas mesmo assim, a gente tenta...

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  8. Parece paradoxal, mesmo!
    Tantos países democráticos, tanta liberdade e este silêncio ensurdecedor. Parece que nos anestesiaram!
    Mas sabemos que tudo foi sendo preparado para que a inércia tomasse conta das pessoas pensantes. Vai-se falando, alertando, mas há "senhores" donos do mundo, começando pelo poder económico...
    Como entendo este excelente texto, Marilene! Sinto-me cada vez mais irritada!
    Para não me alongar, subscrevo os comentários que já te deixaram).
    Meu beijo (e que o mundo se torne mais aprazível...)

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  9. Oi Marilene,
    Alguns silêncios são realmente ensurdecedores
    e também perigosos...
    e sempre deixam um rastro de omissão.
    Crônica perfeita.
    Bjs!

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  10. Querida Marilene,

    Apreciei a começar pelo título tão apropriado,quando o silêncio não tem beleza, quando
    o silêncio esconde o medo, a violência,a corrupção, a injustiça,o sofrimento (a dor).
    A necessidade do grito que diz não,que pode abrir as portas para a luz da verdade,
    que algumas vezes salvam vidas e sempre recuperam a dignidade daqueles que
    são prisioneiros da ameaça cruel e desumana dos que subjugam e ficam acima
    das leis e gozando da impunidade...
    Belíssima a tua crônica, uma chamada de consciência cada vez tão necessária
    nos nossos dias atualmente.

    Bjos.

    Ps:Quanto a perda (2 meses) da tua mãe, a saudade é muito,muito dorida...
    Dezembro fará 4 anos da morte da minha mãe e compreendo
    profundamente o teu sentir...

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  11. Oi Marilene, como vai querida?
    Existem várias espécies de silêncio, como muito bem salientou!
    O pior deles é o silêncio da omissão, do deixar de agir, mesmo quando há o dever legal de fazê-lo.
    Algumas vezes,o silêncio é até considerado assentimento.. o que o torna ainda mais perigoso!
    Mas o silêncio mais dolorido é o da desconsideração... do abandono... esse machuca demais!!

    Maravilhoso o seu texto Marilene, sempre nos remete a vários e intensos pensamentos!
    Fico encantada como a forma que descreve e nos conduz à conclusão!
    Um grande beijo e uma ótima semana!

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  12. OI QUERIDA
    Muito complicado a palavra silêncio. Diante de certas situações temos que nos manter quietos. Em outras não deixar que o silêncio fale mais alto. Que texto lindo para pensarmos mais. Um beijinho no teu coração.
    Ana

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  13. sim é, concordo contigo, por vezes há um silêncio que nos mata e nos corrói aos poucos....

    :(

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  14. Marilene, um beijo no seu coração. Para emitir uma opinião exata a respeito do silêncio, é preciso primeiro saber de qual tipo de silêncio estamos falando. Você, muito bem soube diferenciá-los aqui. Há o silêncio do medo, do comodismo, da indiferença etc… O único silêncio que faz bem é o da paz e tranquilidade. Aquele que em alguns momentos da vida sempre desejamos.

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  15. Eu não sou daqueles que costumam silenciar quando ver que a coisa está errada. Com relação a minha segurança, diariamente entrego-me a DEUS. Bela crônica! Bastante pertinente aos dias de hoje.

    Abraços,

    Furtado.

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  16. É o crime por omissão, é o ver e deixar pra lá, a nossa sociedade é doentia, egoísta. Também não gosto do silêncio perverso, Marilene.
    Beijos, amiga!

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  17. Boa tarde, o silencio tem varias interpretação, por vezes ele magoa mais que as palavras, melhor será compreender o silencio como o silencio do vento que passa.
    Texto magnifico
    AG
    http://momentosagomes-ag.blogspot.pt/

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  18. Bela crônica marilene. Realmente é assim que acontece em nossa sociedade. Posamos de bons vizinhos, bons amigos, aqueles que não sabem de nada para preservar sua segurança e bem estar. E, na política está acontecendo de novo: o escândalo da Petrobras´rás... minguem sabia de nada... rsss Abcs

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  19. Oi, Marilene, a sociedade compactua quando silencia e torna-se forte quando faz eco, quando se une e manifesta-se. Tivemos há pouco tempo, aquelas manifestações no país inteiro, em que o povo saiu às ruas gritando pelos seus direitos e sobre o que precisava mudar. Aconteceu algo estarrecedor, ninguém imaginou que um dia aconteceria aquilo no Brasil - a juventude levantou, novamente depois de muito adormecida. O silêncio não leva a nada, só fortalece aqueles que nada acrescentam à Nação. Mas acredito que devagar (somos muito lentos) as coisas tomam algum rumo um pouco melhor. Acredito no silêncio quando ele pode mostrar uma verdade. Não acredito quando nos omitimos covardemente de algo na família e com amigos, que temos certeza de algo, e calamos para o nosso benefício. Em suma, o silêncio pode ser nosso inimigo. Verdades não se calam.

    Beijo!.

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  20. Muito bom seu texto, Marilene! E o silêncio é múltiplo, pode guardar mágoas, evitar brigas, armazenar rancor, revelar omissão, ou então simplesmente ajudar a esquecer uma dor. Ótima postagem. bjs e bom fim de semana.

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  21. Olá, Marilene!!!

    Vim aplacar um pouco a saudade que sinto!!
    Que texto contundente!! Tão necessária esta reflexão.
    Nem sempre é fácil saber a hora de calar e a hora de falar. Mas quando paramos para refletir sempre saberemos distinguir uma da outra.
    Infelizmente nem todos gostam de pensar...
    Eu adoro!!!! E adoro você!! Como estas? Espero que você e sua mana( já estou indo lá!rsrs) estejam muito bem!!!
    Beijos e meu carinho!!!!

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  22. A vida é uma luta para que
    eu viva com coragem e consciência de minhas limitações,
    é preciso ter coragem para ser feliz!
    Não é nada fácil termos a coragem de nos atirarmos na luta
    todos os dias para tanto é preciso ter fé e esperança.
    A vida é um caminho a ser percorrido
    infinitamente único e sem atalhos.
    Quantos encontros e desencontros
    vivenciamos beleza risos ,
    mais também temos dificuldades.
    Um pensamento te deixo
    desejando um abençoado final de semana.
    beijos meus.
    Evanir.
    saudades de postar seu belíssimos poemas.

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  23. Olá, Marilene. O silêncio da omissão é triste e se mantém por duas vertentes... não querer assumir a responsabilidade social ou por medo de retaliação. Esses dias em meu serviço voluntário atendi uma pessoa que pensava seriamente em tirar a própria vida para proteger a família da retaliação em um caso onde ele tinha razão... é lamentável quando o silêncio é imposto pelo medo.
    Um abraço!

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  24. Ah, só para acrescentar, de fato estou com problemas no formulário de comentários, alguns aparecem, outros não, já comuniquei o blogger... mesmo assim agradeço sua participação, sempre presente e bem-vinda no Revolta! :) Ótimo domingo!

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  25. Oi Marilene
    Há sempre alguém dando exemplo de omissão_é mais fácil dizer que não sabe, não viu!
    Um texto muito bom para reflexão_ estive um tantinho ofuscada pela cor amarela das letras ,mas consegui ler _ isso acontece com quem precisa do segundo olho- o óculos! rs
    Um blog que não tinha ainda visitado. gostei Marilene
    um abraço

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  26. O silêncio, as vezes dói tanto que sufoc, pode até matar sonhos, ideais.
    Gostei muito do seu texto cara amiga, um abraço.

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  27. Olá Marilene! Passando para te cumprimentar e desejar um ótimo domingo para ti e para os teus.

    Beijos e muita paz para todos.

    Furtado.

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  28. Chega a conter um quê de maldade este silêncio opressor...da justiça, da compaixão, do amor solidário e, o trazemos tão acomodado aos dias que nem percebemos o quanto ele nos sufoca/silencia.Por todos este motivos que a sociedade privilegia, fez-se o silêncio algoz dos inocentes, dos desvalidos, dos injustiçados e segue ainda, pra malgrado nosso ou seria omissão(?), incólume em seus passos inaudíveis, porém pesados.

    Há sempre uma conversa reflexiva e fértil por aqui.Excelente tema, Mari.
    Boa semana.\0/
    Bjkas,
    Calu

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  29. Hay que tener la voz valiente y ganarle al silencio, saludos.

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  30. Olá Marilene! Estou sem palavras para expressar o quanto esse texto falou por mim. O silêncio é a desculpa de muitas pessoas para o não fazer, vejo isso frequentemente. Muitos se calma por temer colocar em prova a própria vida... É complicado. Devemos buscar políticas que resolvem esses problemas, mas o silêncio tema em amordaçar.
    Beijos!
    Monólogo de Julieta

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