19 setembro 2011

O REENCONTRO (poesia em prosa)


                                                               


Ele caminhava pela rua no escuro da noite. Tinha uma única certeza, ela passara por ali.    Podia até sentir seu perfume  inconfundível e identificar seus passos, apressados, na calçada.
Não sabia se a pressa era sinal de perigo, se fugia,    se ia ao encontro de alguém. Ou se, tão somente, buscava um abrigo para  a  chuva que começava a cair.
Quando a avistou, não se conteve. O coração pulsou mais forte. Seu corpo, agora molhado, nem dava sinais de cansaço. Corria ao seu encalço.

Há muito a considerava perdida...

Em outros tempos, a maltratara, a ofendera e humilhara. E naquele relance que nem saberia explicar, a encontrara.


                                                            
Não queria se lembrar das palavras doídas que lhe dissera. Já tentara esquecer, inutilmente, o que que ela por ele fizera, tirando-o , tantas vezes, da dor, com  palavras carinhosas e animadoras, ouvindo em silêncio os seus lamentos, vivendo apenas à espera de seu amor.

Chegou ao fim da rua. Esquina. Perdeu-a de vista. Para todos os lados olhou e... nada.

Ficou ali parado, por algum tempo, sentindo a roupa já encharcada. Uma luz foi acesa no sobrado azul. Através da janela, um vulto de mulher.  Ela!
Armou-se de coragem e a campainha tocou. Em seu íntimo, uma eternidade esperou.
Quando a porta foi aberta, olhou a mulher que os cabelos secava e só conseguiu dizer que a amava.




Ela o fitou, surpresa, sem qualquer demonstração de desejo, saudade ou afeição. Não apresentava sinais de rancor, apenas de indiferença, o que abalou todas as suas crenças.

Após um silêncio insuportável, como um sussurro, ouviu-a dizer:

Nossos laços rompidos não podem ser reconstruídos. Nosso tempo perdido não pode ser reinventado. Nem pronuncie um pedido de perdão. Já esqueci, que um dia, por ele ansiou, loucamente, meu coração.
Nem o havia convidado a entrar. Fechou a porta, lentamente, deu-lhe as costas e continuou a se secar.

                                                                  
Ele ali permaneceu por mais um instante, o suficiente para escutar:
- Quem é, amor?
- Nada importante, querido, logo já vou.


Imagens tiradas da internet . Se, inadvetidamente, estiver ferindo direitos, gentileza comunicar, para imediata correção.

12 comentários:

  1. Que reencontro triste! Mas ele colheu o que plantou. O amor não resiste à ingratidão, à humilhação e ofensas. Simplesmente morre.
    Ela fez bem em dar sentindo à sua vida com outro amor, que provavelmente a valoriza e respeita.
    Bela poesia em prosa!
    Você é demais!
    Beijos.

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  2. Olá Marilene.
    Amei conhecer esse cantinho aqui.
    Um texto profundo e cheio de algo para refletir.

    Beijinho amada.

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  3. Mari querida minha, UAU que texto!!! Uma coisa é fato, temos que tomar cuidado com as atitudes que tomamos diante das pessoas que estão em nossa vida, pois quando erramos feio e demoramos muito a pedir desculpas,podemos chegar tarde demais. E quando a indiferença chega, nenhum sentimento quebrará seu gelo.

    bjokitas com master carinho :)

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  4. Muito legal tua prosa,alguns reencontros são tristes, mas a vida segue...
    Beijos e uma linda tarde!

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  5. Marilene, fiquei encantado com seu conto.
    Tem boa técnica na prosa: sua linguagem e narrativa têm uma virtuosidade ímpar.
    Realmente há poesia em sua prosa, pois tem um colorido especial.

    Parabéns pelos multitalentos!

    Abraços!

    Abraços do amigo de sempre!

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  6. Boa tarde, querida amiga Marilene.

    Nossa... Que encantamento!
    Parabéns!! Um romance contado desse jeito tão especial... Amei!! Inclusive o desfecho.

    Beijos.

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  7. É triste, mais exemplarmente real. O amor é um cristal, que depois de quebrado, não se conseguirá colar jamais. Um beijo, minha querida no seu coração.

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  8. Também digo!
    "Que reencontro triste"!
    Talvez real!... para uma advogada, quem sabe se não conhece histórias identicas a esta! Quem sabe!

    Um beijinho.

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  9. Marilene

    Ia dizer que a tua crónica, mais me parece um conto policial. Como gosto imenso do género e como está bem explanado, li com prazer.
    Foi uma lição para mim.
    Beijos

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  10. É..., nem sei direito o que dizer, já que acredito sim que dá para perdoar, e ao mesmo tempo acho que certas coisas não tem concerto.

    Bom, muito Bom,
    Mari!(gostei do Mari, vou adotar tb, rs)
    =)
    Bjoos!

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  11. Profundo Marilene profundo…chega a um momento em que tudo se desintegra…e precisamos de recomeçar…Bjs.

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