14 setembro 2011

FESTA NO ARMÁRIO

                                                       
(imagem internet)
        


Quando o inverno chegou, minhas roupas  para o frio  ficaram em alvoroço. Os casacos batiam palmas, ansiosos pela liberdade. Já imaginavam quando iam desfilar sua elegância e discutiam, entre si, para saber em que ordem seriam usados. O preto, julgando-se o mais charmoso, exibia seus botões dourados, seu comprimento discreto, seu corte impecável. Lembrava-se de sua aquisição preciosa, na fria São Paulo. Sabia que poderia ser usado sobre qualquer traje, sem perder o brilho. Enquanto contava suas vantagens, o vermelho começou a dançar. Sua lã encantadora, seu porte conservador, seu tom nada estravagante, apenas iluminado, faziam-no crer ser o escolhido para o primeiro passeio. Em suas memórias, o auge de sua utilização, em Campos do Jordão, onde tivera oportunidade de estar em lindos restaurantes, observando as pessoas a tomar vinho e saborear maravilhosas massas. O xadrez em preto e branco, que estava em um dos cantos, sorriu. Ninguém o venceria no quesito modernidade. Com o passar dos anos, nada perdeu em charme e seria presença obrigatória sobre calças , eis que ainda trazia um colete decorado com rendas, ideal para vestir  uma camisa branca. O sobretudo creme tudo observava em silêncio. Sua majestade não seria vencida por nenhum dos outros. Já estivera em cursos e reuniões, sobre terninhos e conjuntos, a demonstrar o quanto aquecia, sem pesar, e o quanto embelezava, mesmo ao ser displicentemente colocado sobre uma cadeira. As jaquetas de couro conheciam seu poder e sua utilidade e estavam certas de que seus passeios seriam mais constantes, na informalidade do dia a dia.
                                                                 

Todos foram retirados e arejados. Brincavam com os raios mornos do sol, aguardando a oportunidade de sair de casa e percorrer as  ruas, recebendo os costumeiros elogios.

O inverno avançava, mas continuavam, tão somente, com seus banhos de ar e  luz. O que estava acontecendo, se perguntavam? Porque não teriam ainda sido usados? Será que haviam sido substituídos por outros, guardados em lugar diverso?  A cada dia, mais se sentiam agoniados, desejosos de se exibirem, de serem expostos, de abandonarem, por um tempo, aquele espaço onde se encontravam, mesmo sendo ele aconchegante.
                                                               

Faziam as contas e percebiam que a estação já estava terminando. Logo as flores brotariam, iluminando a natureza e escondendo o vento frio. Mas onde estava esse vento frio que não balançava galhos, não fazia as janelas tremerem, não levava as pessoas a sentirem necessidade de se agasalhar?  Depois de muito conversarem, concluíram que ele não chegou a Belo Horizonte. Estavam tão lindos, tão limpos, tão arejados!!! Mas ficariam, outra vez, naquele armário, aguardando um novo inverno.

Percebendo a realidade, deixaram a vaidade de lado e voltaram-se uns para os outros, relembrando seus áureos tempos, vividos na cidade de São Paulo.





13 comentários:

  1. Também no Rio sentiram a mesma coisa, pois o inverno passa longe.Beijos.

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  2. Oi Marilene, se eles tivessem vindo passar uns tempos aqui teriam passeado e muito rsss o inverno aqui tem sido duro e mesmo ás portas da primavera ele ainda não foi embora.
    Adorei a maneira como escreveu, muito criativo.
    Beijos e bom dia!

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  3. Que lindo Marilene a forma com que brinca com os trajes. Muito interessante as comparações, gostei! Espero que quem ficou sem uso nao tenha se sentido menosprezado, pq tudo tem seu tempo.rs
    Aqui fez um friozinho, eu sou friorenta(será que tá certo essa palavra?) rs E sinto um ventinho, ja quero colocar blusa de manga comprida.
    Mas não é tão frio qt São paulo ou BH.
    Beijos e um bom dia pra voce kerida!

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  4. Mari querida, adorei o texto! Aqui em Lins, no interior de Sampa fez um frio danado, se eles viessem por aqui íam ter até que conhecer um tal de cachecol. Amiga, eu amooo o frio!!! :)
    bjokitas com master carinho pessoa que tanto gosto.

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  5. Marilene

    Belíssima crónica!... Que imaginação! Coitados dos vestidos e outros adornos, já estavam fora de prazo para acentuar a figura de uma beldade!
    Adorei.
    Outra questão: pensei em dedicar-te o POEMA MARILENE, aceitas e envias foto? Diz para danielcosta@optimus.clix.pt? Podes enviar mais do que uma. Diz, sim?
    Beijos

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  6. OLÁ MARILENE!!!
    INTERESSANTE ESTE TEU TEMA, ONDE COLOCAS E DEMONSTRAS A TUA CRIATIVIDADE NA BELEZA DE TUA ESCRITA. NÃO SOU TÃO ADEPTO DO FRIO COMO TUAS ROUPAS. NASCI EM LUANDA-ANGOLA, TERRA DO CALOR, EMBORA ESTEJA ADAPTADO AO FRIO POR VIVER CÁ EM PORTUGAL . MAS É COMO TE DIGO, ANGOLANO NÃO É PINGUIM, NEM FOCA. ÓPTIMO DIA. BEIJOS...

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  7. MARILENE, com o tempo maluco dos dias de hoje, até nos Estados do Sul o frio já viveu seus melhore dias. Um beijo no seu doce coração.

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  8. Marilene,
    Adorei seu texto, criativo e divertido.
    Esta festa aconteceu também nos armários daqui de casa. O pior é que resolvi trocar as roupas de inverno de lugar (de volta ao arquivo) e até agora não consegui "botar ordem no recinto" (rsrsrs).
    Beijos.

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  9. O meus casacos e blusas não estão tendo esta oportunidade , ou melhor estão tendo todas as oportunidades. rsrs. De uns tempos pra cá, tornei-me friento, coisa que não acontecia nunca comigo. Acho que é da idade. rsrs. Hoje tenho mais roupas de frio do que de calor, mesmo com BH tendo esse clima ameno. Abraços, Marilene. Paz e bem.

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  10. Aqui em salvador faz calor quase o ano inteiro, a sensação de frio é muitas vezes bem rápida, não dura muito.
    Aqui nos vestimos bem a vontade, sem roupas de frio, mas quando chove usamos algumas...
    Como é grande e diversificado nosso Brasil, isso é muito lindo e de certa forma curioso..
    :)

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  11. KKKKKKKKKK... amei Marilene!!
    Muito bom. Viajei com as roupas todas... cada uma tem sua vez.
    Beijos!!

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  12. Achei este diálogo um encanto, criativo! Nossas roupas, modernas, arrojadas, exibidas, até, numa conversa de vizinhas! E lembrei logo das minhas que, algumas, nem sabem mais o que é passear...Coitadinhas, foram esquecidas! Vou arrumar esta situação.
    Grande beijo, amiga.
    Tais Luso

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  13. rsrsrs... as imagens são do Google! Pensei: "Nossa, que armário arrumadinho!" E senti vergonha do meu hoje. Linda crônica!

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