16 setembro 2011

BODAS DE PRATA

                                                            

Ela o recebeu de um jeito diferente. Sorriso aberto, beijo nos lábios. Ele percebeu as flores sobre a mesa e um doce perfume no ar. Perguntou pelo filho e soube que ia dormir na casa de um amigo. Após tantos anos de união, ficou remoendo o que poderia estar acontecendo e se dirigiu ao banho. Seus pensamentos estavam confusos. Será que ela havia feito alguma coisa errada e pretendia  se desculpar? Será que exagerara nos gastos com o cartão de crédito? Será que desconfiava que ele andava observando demais a nova secretária da diretoria? Enquanto a água caía sobre seu corpo, tudo lhe passava pela mente. Não conseguia relaxar, tentando advinhar o que estava por vir.

Ouviu que chamava seu nome, com doçura. Meu Deus, pensava, será que ela se apaixonou por outro e vai falar sobre separação, na forma delicada com que trata tudo? Terminou o banho, vestiu-se e desceu para jantar. Ouviu música e a encontrou com duas taças na mão. O que estava ela pretendendo? Não tinha o hábito de seduzí-lo, já estavam juntos há tanto tempo!
Ela o convidou para um brinde. Notou, então, que havia se trocado , mas permanecia sem maquiagem, como sempre. Elegante e discreta.
Quando recebeu o convite para dançar, sentiu-se dentro da Valsinha de Chico Buarque. Chegou a pensar que estava sonhando.
Tomaram o vinho, dançaram, jantaram. Conversaram sobre banalidades. Em nenhum momento ele perguntou o motivo de tudo naquela noite que sentia ser especial.  Será que estava grávida de novo?


                                                         
De tanto conversar consigo mesmo, nem aproveitou, devidamente, o que lhe estava sendo oferecido. A rotina os havia afastado de ocasiões como essa e não conseguia encontrar uma explicação para tamanha demonstração de afeto.
Já no quarto, ela o envolveu e, docemente, fizeram amor. Nenhuma loucura, um encontro de corpos que se conheciam. Um prazer amigo e companheiro. 
Quando acordou, percebeu seus olhos inchados. Notou os sinais das lágrimas e da insônia.  Perguntou porque ela estava triste, tão diferente da forma como se comportou na noite anterior. Nenhuma resposta.
Preparava-se para um novo dia de trabalho, quando o filho chegou. Sorria. E então, como foi a comemoração?  Desconsertado, questionou o que havia para ser comemorado.  Percebeu a decepção naqueles olhos que o fitavam desoladamente. Sentiu-se angustiado. O que deixara passar? De que data não se lembrara?

                                                           
Voltou ao quarto e encontrou, sobre a cama, uma caixinha. A mulher estava no banho. Ao abrí-la, viu um par de alianças com friso de prata. E seu mundo desmoronou. Nada que pudesse dizer apagaria a dor que ela devia estar sentindo. Ao vê-la sair do banho só conseguiu abraçá-la e chorar. Essa era a lembrança que carregaria por toda a vida, como recordação de seus vinte e cinco anos de casamento.


Imagens tiradas da internet . Se, inadvetidamente, estiver ferindo direitos, gentileza comunicar, para imediata correção.

17 comentários:

  1. Oh Mari, que texto hein! Fiquei sem ar me colocando no lugar dela... Fiquei constrangida me colocando no lugar dele...

    São momentos como estes que, uma vez perdidos, nunca mais voltam, ficam lá presos num lugar triste da nossa memória.

    Que sentimento será pior? A culpa ou a decepção?

    Se é amor, ele supera. Não apaga, mas supera.

    Bjs linda, como sempre um texto que nos remexe por dentro.

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  2. Ma..adorei ... Poxa.. vc caminha lindam,ente em todos os ti´pos de escrita!!

    Me colqouei no lugar da personagem...

    Machuca certas coisas..mas acabando esquecendo..ou fingindo esquecer..

    Um beijo....

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  3. Nossa Mari, que baita decepção. Acho isso tão complicado, damos tanta importância a alguns detalhes que outras pessoas não ligam. Eu tento sempre não criar expectativas em cima dos outros para não me decepcionar depois, mas eu sou humana né to caminhando, tentando acertar o caminho.

    bjokitas com master carinho, lindo findi querida.

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  4. Marilene
    Ai... Os homens!... Há mesmo os que esquecem datas marcantes de uma união. Esquecer isso, é não recordar o quanto sensibilizam a veia romântica feminina.
    Beijos

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  5. Show de bola..muito interessante..!! mais nem sempre ne.rsrsrsrs!!!!
    so achei bem grande!

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  6. Very interesting thread; I too agree with the list, though I would add a few more events to it.

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  7. Nossa, você escreve bem hein menina? bom demais ler teus textos.
    Triste isso de não se lembrar de datas e os homens são mestres em fazer isso, nem todos é claro, mas a grande maioria.
    Beijos e lindo sábado pra ti!

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  8. Bom dia,Marilene!!

    Nossa...foste fundo nos sentimentos!!A leitura me absorveu por completo, e chorei!!Se meu marido esquecesse...dói até pensar!!(*ainda bem que ela não sabe os pensamentos dele...a decepção seria bem maior!!de olho na secretária!Que coisa!)
    Amei seu conto!!!
    Beijos pra ti querida!!
    Tenha um ótimo sábado!!

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  9. É mais comum os homens esquecerem datas como essa.
    Me lembrei da mãe do meu tio, casado com minha tia materna. Era a comemoração, creio q bodas de prata, ela fez uma festa, uma festa surpresa. Ele, o marido, chegou quanto não havia mais "festa", bêbado...

    É, muitos homens não sabem dar valor á mulher q tem.

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  10. Aiiii...Mari,homem é fogo né..rs?
    Pra evitar essa decepção eu já vou avisando uns dias antes dos nossos nivers..rs!!! Tomara que eu chegue la, desde que felizmente claro!!
    Que texto bonito e sensível Mari!!!
    Beijocas!!

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  11. Oi MANA,
    Um lindo conto. Você foi divina na narração.
    Ela arriscou se decepcionar. A maioria dos homens não se liga a datas. Creio que teria sido mais oportuno que tivessem planejado a comemoração. Surpresas assim costumam surpreender negativamente (rsrsrs).
    Beijos.

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  12. Marilene, conseguiu no texto penetrar profundamente nas emoções do sentimento. Falta a nós homens o jeito feminino de ser, no que se refere aos sentimentos. Um beijo no seu coração.

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  13. Os homens não fazem isso por mal...
    Está na sua natureza esquecer determinados detalhes...
    Há que saber perdoá-los.
    Também sou esquecido... rsrs...
    O texto é muito bom e traduz muito bem o que poderia ser chamado de "cenas da vida real"...
    Beijos, querida amiga Marlene.

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  14. Lindo, lindo, lindo!!!
    E muito comum entre os homens que nunca prestam atenção nesses detalhes fundamentais.
    Beijos!!

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  15. Entre tantas vantagens de as mulheres estarem conquistando mais e mais espaço no nosso mundo está a de nos ensinar um pouco mais das coisas sensíveis, delicadas e, de fato importantes entre as pessoas , especialmente as que se amam e vivem juntas. Foi uma triste comemorração, é fato, mas acho que o homem jamais voltará a se esquecer dos seus melhores momentos.
    Abraços, Marilene e ótima semana.

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  16. Ihhhh, vou dar uma de macho insensível...
    Eu não ligo muito para datas não...
    Eu no lugar dela, certamente teria feito uma draminha cômico sobre a situação, mas para rir do que para chorar, mas entendo que para alguns isso gera uma mágoa sem tamanho.
    Acho muito mais frustante, aquele cara que nos dias comuns e rotineiros, não se faz presente para a "dança"...

    Bjoos!

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