10 junho 2011

DESINFORMAÇÃO


                                                       

Muito se tem lido, nos últimos tempos, sobre homofobia, em vista dos horríveis atos que estão no noticiário, praticados por pessoas que poderíamos julgar incapazes de fazê-lo. O que leva essas pessoas, na maioria jovens, a agir com tamanha maldade? A não respeitar seus semelhantes? As crianças nascem puras, sem qualquer noção de diferença. Por isso, creio que está na má educação a origem desses procedimentos. Pais passam para os filhos suas convicções equivocadas e preconceituosas.

Quando a filha de uma amiga tinha uns três anos, ficou surpresa com uma menina negra que encontrou no shopping. Ela apontava e dizia sem parar: ela é preta. Crianças não têm policiamento e não dizia isso com qualquer significado reprovável, mas apenas por surpresa. E foi nesse momento que sua mãe proveitou para lhe mostrar que a outra menina era igualzinha a ela, só possuía a cor da pele diferente.
                                              

Eu me lembro que, criada em uma pequena cidade do interior, ouvi tantas bobagens sobre homossexuais, desquitados (termo da época), religião, que tinha pensamentos conflitantes sobre tudo que não se encaixava no meu padrão familiar. Todos sabem que em pequenas comunidades, e há algum tempo, não existia a abertura e a informação de hoje. Aprendemos com a vida. No colégio de freiras não se discutia esses assuntos. Tudo era tabu. E em casa não era diferente. Não havia abertura para o diálogo. As mães deixavam esse tipo de educação para a escola. E a escola a deixava para as mães. Consequência, muitas informações erradas assimiladas na rua.

Quando me mudei para SP, bastante jovem, levei essa carga de desinformação. Mulheres tinham que se cuidar para não ficar faladas, não se pode conceder qualquer tipo de liberdade, jamais se pode ir para a cama no início do relacionamento... e muito mais. Mas lá aprendi que existe um único Deus, que todas as religiões são belas, que não há diferença entre os seres humanos, em razão de suas opções pessoais.

                                                          
Mas foi difícil. Tímida e reservada, não falava sobre esses assuntos e só observava. E fui colhendo outros aspectos diferentes dos que conhecia, aperfeiçoando meus valores e jogando fora o peso inútil do medo de conviver com o diferente, de demonstrar emoções, de arriscar.
Certa vez, fui com amigos assistir ao filme "Minha Adorável Lavanderia". Ficou marcado em minha memória porque jamais havia visto dois homens se beijando. Confesso que, naquela época, não sabia onde me esconder. Devo ter mudado de cor. Quando saímos do cinema, meus amigos faziam brincadeiras porque me conheciam bem. E tinham uma visão completamente diferente. Aliás, entre eles havia alguns de opção sexual diferente da minha e me eram queridos. Foi muito boa a experiência porque começaram a abrir meus olhos para uma realidade sobre a qual eu nada conhecia.

                                                            
                                                                       
Convivi com pessoas muito diferentes de mim e melhores que eu. Tinham mais cultura, conheciam outros países, tinham respeito pelos semelhantes, praticavam atos de auxílio aos necessitados. E comecei a amá-los, indistintamente. Hoje, posso dizer que não tenho qualquer preconceito e não permito que o demonstrem se estou perto. O mandamento "amar ao próximo como a si mesmo" é fundamental para que a humanidade não se destrua, para uma convivência harmoniosa, para que, nesta vida, saibamos caminhar ao lado de quem quer que seja e sermos felizes. A mão que ampara não tem cor, religião, opção sexual. É, simplesmente, a mão de um espírito igual ao nosso e, muitas vezes, bem mais iluminado, por já ter experimentado um número maior de desafios, decorrentes da ignorância humana.



7 comentários:

  1. Fantástica a forma como você usou para falar do tema Marilene.. saber respeitar as diferenças é fundamental.. e ainda hoje, em um mundo tão informatizado ainda nos deparamos com frequencia com os vários tipos de descriminação.. infelizmente.

    Um beijo em seu coração e um ótimo fim de semana para você!

    Verinha

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  2. É linda a experiência do crescimento a fazer com que percebamos nós como somos e as pessoas que nos rodeiam como são.
    Cadinho RoCo

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  3. Ótima abordagem.
    Não consigo entender os preconceitos. Acredito mesmo que seja um problema cultural.
    Os pais passam para os filhos seus conceitos e estes tendem a segui-los como norma.
    Todos somos iguais; todos somos irmãos: Deus é o mesmo em todas as religiões.
    Espero que um dia todos caminhem de mãos dadas.
    Bitokas.

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  4. Bom dia!
    Andava eu a navegar na Net quando me deparei com este blog e resolvi entrar.
    Desculpe, nem sequer bati à porta... :)

    Gostei imenso desta sua reflexão.
    Eu também estudei em colégio de freiras e enfrentei alguns problemas de afirmação...
    Felizmente ultrapassei todos, e hoje revolta-me imenso toda e qualquer manifestação de homofobia.
    O que motiva esta onda de intolerância?
    A casa (ou descaso) dos pais terá o seu peso; mas a sociedade em que vivemos, com convulsões nos quatro cantos do mundo, contribui também em grande parte.

    Desejo para amanhã um feliz Dia dos Namorados:)

    Bom Fim de semana. Beijinhos

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  5. O conhecimento nos amarra ou liberta e a educação do respeito ao próximo e sem preconceitos é um desafio da humanidade.
    Belo texto e rica experiência de exercício de conhecer o outro e mudanças de paradigmas, o que não é nada fácil...Minha educação foi como a sua no interior de MInas Marilene. A gente vai crecendo e aprendendo para melhor.
    Lindo!
    Beijos e bom final de semana!!
    Carla

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  6. Bela reflexão, minha amiga.Considero a intolerância produto da ignorância.A individualidade, as opções e escolhas são o direto de todos.A concientização faz parte do crescimento.Confio que aos poucos a humanidade olhará seus semelhante como iguais.Bom final de semana.Um grande abraço

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