27 maio 2011

MAUS EXEMPLOS

                                                               

Já nem me surpreendo quando leio notícias sobre comportamentos ilegais adotados por pessoas públicas, cujas condutas haveriam que servir de exemplo, principalmente quando são, em qualquer de seus aspectos, responsáveis pelo cumprimento de nossas leis.

Esses fatos, somados à nossa natural insegurança quanto à força dos direitos, tão desgastada, são sempre uma nova tempestade a nos assustar e aprisionar.

Há algum tempo, uma de minhas irmãs, que procura ser justa e tomar a atitude certa diante de ocorrências que presencia, viu um ônibus bater em um carro que estava estacionado na esquina da rua onde mora. Inconformada por ele nem sequer ter parado, apesar dos grandes estragos que causou, ela o fez. Foi até o prédio, peguntou quem era o proprietário  e, por ele não se encontrar em casa, deixou um bilhete informando-o que veículo havia batido em seu carro, companhia e placa. O interessado, posteriormente, manteve contato com ela, que se dispôs, inclusive a testemunhar,  afirmando que adotaria as medidas necessárias ao ressarcimento de seus prejuízos. Ficou muito grato.
                                                             

Pouco tempo depois, no mesmo local, um veículo, ao fazer a curva, bateu de frente no carro de minha sobrinha, que  descia a rua. Nosso bairro tem muitas ladeiras. O motorista estava acompanhado de sua namorada, assumiu a responsabilidade, desculpou-se e comprometeu-se a proceder aos reparos. Aquele senhor que, anteriormente, mencionei , também presenciou a cena e  logo retribuiu a gentileza de minha irmã, dispondo-se a testemunhar, caso solicitado.

Normalmente, nesse tipo de acidente, sem vítimas, os motoristas devem ir até uma delegacia e lavrar a ocorrência. Mas... o rapaz que dirigia o carro que bateu era um procurador federal. E logo apareceu um policial para lavrar a ocorrência. Mesmo diante das afirmativas do procurador, no sentido de que era o responsável, o policial tentava, de todas as maneiras, isentá-lo de culpa. Minha sobrinha, sem qualquer experiência, acreditou que tudo estava resolvido.  Quando minha irmã foi buscar a cópia do B.O., percebeu que as declarações do policial eram ambíguas e reticentes. Mas como se tratava de um procurador federal, que, juntamente com sua namorada, afirmara, categoricamente, estarem distraídos, o que ocasionara o acidente, não pensou mais no assunto.

                                                         

Surpresa!!!!!!!!!!!!!!!!! Intimação para responder a um processo judicial. Nem acreditamos. Nessas horas, melhor recorrer a serviços profissionais de terceiros, a fim de que o lado emocional não provoque comportamento não aceitável em uma audiência.

E advinhem o que aconteceu???? O digníssimo procurador negou tudo e afirmou não ter sido sua a culpa, transferindo-a para minha sobrinha. Com o B.O. lavrado daquele jeito, a situação se complicou. Minha sobrinha dirigia um carro simples, antigo, e o rapaz acabara de pegar o seu, um carro novo, caro e todo equipado. Questionado por minha outra irmã, que é aposentada como procuradora federal, ele disse que teve que alterar seu depoimento por exigência da seguradora e se desculpou dizendo que estava sendo praticamente obrigado a isso.
                                                                      

Fiquei, então, pensando: como um profissional desses pode exercer, com dignidade, sua profissão se não a tem na vida pessoal ? Se uma simples seguradora o forçava a mentir, o que não fará ele no campo da justiça?
Não adianta uma pessoa ter diplomas, conhecer leis, ser até mestre, se não tem preparo emocional... e porque não dizer, uma educação adequada. Princípios morais e éticos não são adquiridos na faculdade. Lá, podem os estudantes receber conhecimentos indispensáveis para passar em um concurso, porém, os sem caráter, sempre serão parciais, indignos, levando muitas pessoas a não crer na justiça (que existe), a desacreditar da possibilidade real de vê-la aplicada, principalmente se um dos lados já se apresentar, em princípio, mais forte.






2 comentários:

  1. Marilene, a justiça desse nosso país já me fez desistir da carreira que sonhei (promotora), agora então que vivencio alguns problemas em que precisei recorrer a justiça, me decepciono todos os dias, diante de decisões absurdas e arbitrárias de juízes parciais, totalmente incapazes de julgar ou decidir com inteira isenção, indignos de exercer a profissão que escolheram.
    É o Brasil mostrando sua cara!
    Bj

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  2. Marilene,
    Verdade. É por isso que nunca lanço mão de minha carteira de Procurador Federal. Não quero levar vantagem e prefiro que a justiça se cumpra. O lado mais fraco, que deveria ter uma acolhida mais caridosa,acaba sucumbindo injustamente.
    Ainda acredito na justiça, já que sempre lutei por ela, mas o descaso e o despreparo existe, não posso negar.
    Beijo.

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