31 março 2011

OUTONO DA VIDA

(imagem internet)



Estamos no outono. As folhas das árvores vão ficando amareladas e caem. Nas ruas do meu bairro há muitas delas espalhadas, formando um belo espetáculo visual. Como a natureza é perfeita, as estações se sucedem e as folhas que caem serão, mais tarde, substituídas por outras, verdes e vivas. Outono não é fim, em todos os sentidos. É uma época. Uma fase. E tem grande beleza.

No comércio, é tempo de liquidações. E de boas aquisições, já que vivemos em um país tropical, onde não sofremos com as intempéries do frio. Até diria que, em Belo Horizonte, temos sempre verão. Em raríssimas oportunidades podemos usar os casacos que nós, mulheres, sempre temos nos armários.

Hoje li muitas frases sobre o outono, mas o que realmente buscava eram considerações sobre o outono da vida.

Duas me puderam proporcionar uma analogia, ainda que não perfeita. A primeira, de Nietzsche - " Repara que o outono é mais estação da alma do que da natureza".
A outra, de George Sand - "O outono é um caminhante melancólico e gracioso que prepara admiravelmente o solene adágio do inverno".

Alguns escritores falam do outono como um caminhar para o fim, como um envelhecimento que reduz as esperanças. Falam de aposentadoria, de calmaria. Mas seria esse o outono da vida? Já estou aposentada, mas apenas na profissão de advogada, e não me sinto no fim de nada. Não sou o "caminhante melancólico" referido por George Sand. Quando Nietzsche fala em "estação da alma", concordo plenamente com ele.

Podemos, de fato, estar vivenciando uma época de mudanças, que requer adaptação. Não um encontro com a velhice, com desiluções e desesperanças.  Se nossa alma estiver jovem, atenta, as rugas não nos enlouquecerão. Nosso outono não é fase de cirurgias plásticas, necessariamente. Muitas de nós convivem muito bem com as mudanças físicas. E as correções às quais as mulheres se submetem nada tem a ver com a idade. Na primavera de suas vidas, podem se sentir infelizes e feias. E muitas vezes, quando chegam ao outono, vão perceber que o que seus olhos viam não era o mesmo que as outras pessoas enxergavam. É a luz da alma que as torna mais belas. Aquela beleza que o espelho mostra não é sinal de felicidade garantida.  O que tem valor e torna as pessoas maravilhosas é o que acumulam dentro de si, em experiência e auto confiança.

No outono, até a moda passa por uma transformação estranha. Começamos a ver  nas vitrines roupas mais escuras, pouco importando se o sol brilha, se sentimos calor. Todos os anos é a mesma coisa. Mas não temos a obrigação de seguí-la, nada nos impõe escurecer nossos armários. Essa é uma das vantagens do outono da vida - a autenticidade. Não precisamos impressionar, não precisamos copiar. E sabemos o que nos faz bem, o que nos veste bem, o que nos deixa à vontade em qualquer ambiente. Outro fator que nos distingue e nos torna belas. Já aprendemos a dizer não com um sorriso, a fazer os programas que nos dão prazer, só ou acompanhadas.

Li um poema do português Fernando Ramos, abordando esse tema, do qual muito gostei. Não vou transcrevê-lo inteiro, mas a parte que mais me interessou, pela clareza de suas colocações poéticas:

"...Nem carregue aos ombros o mau humor
Tristezas, ou o nó bem apertado
Da tal melancolia
Que dizem ser do Outono
Ele, é só mais uma Estação, apaixone-se
Seja feliz nele, e isso só depende de si
Mais do que pensa
E verá que o começo do Outono
É só o prenúncio do final do Verão
Nas suas faces belas
Que aparece para perseguir o ciclo da vida
Da sua vida
."


O outono de nossas vidas pode ser a época das suspresas, do amor maduro, da realização profissional e pessoal.
Podemos fazer dele a nossa primavera. Sabemos que as folhas amareladas que caem das árvores já tiveram sua glória e serão substituídas por outras, na estação certa. Mas nós não vamos cair, esmorecer, não temos uma estação definida para ser feliz.

Vou postar aqui o vídeo  daquela música chamada "outono", na voz melodiosa de Djavan. E que nosso outono seja assim, belo como as paisagens nele contidas e como a própria canção.

        



Marilene



Um comentário:

  1. COM CERTEZA, NÓS, MULHERES, "NÃO TEMOS UMA ESTAÇÃO DEFINIDA PARA SER FELIZ"
    BJS.

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