27 março 2011

O PRIMEIRO APARTAMENTO

                                                                                                        
                                                      

O sonho da casa própria é alimentado por todos aqueles que se preocupam com o futuro, que pensam em proporcionar certa tranquilidade à família, que desejam um cantinho seu, personalizado. E os que batalham para conseguí-lo chegam lá. Quando analisamos as pessoas com as quais convivemos, percebemos que algumas, quase sem recursos financeiros, conseguem realizar esse sonho antes de outras que têm um padrão de vida bem superior. Tudo depende das prioridades de cada um. Há os que vivem reclamando e os que vivem trabalhando. Fácil apontar, entre ambos, quem vai ter sucesso.

A moça que presta serviços domésticos para minha irmã faz parte do segundo grupo. Jovem simples que vive apenas do salário como doméstica, conseguiu, ao longo dos anos, comprar um lote, como ela diz, e lá edificou sua casa. Não buscou lugar de luxo e começou com um quartinho. Passou por dificuldades extremas, mas sua força e perseverança a levaram a realizar seu sonho. É certo que obteve ajuda de minha irmã.  Mas quem não se sensibiliza vendo um ser humano com o qual convive, diariamente, precisar de um pequeno financiamento, de uma aquisição de material, e não ter renda suficiente para obter o crédito?  Há uma troca natural. Quando encontramos pessoas batalhadoras temos um impulso maior para o auxílio. Não confio nessas doações feitas a instituições que nem conheço, àqueles que se mostram necessitados e usam a boa fé de terceiros para conseguir benefícios. Sou muito desconfiada quanto a esse tipo de "caridade". E acredito que, muitas vezes, doando dinheiro estamos contribuindo para alimentar vícios, para a exploração de crianças. Infelizmente, é o que acontece na maioria dos casos. Para doar, é preciso conhecer o trabalho que as instituições fazem, comprovar que a ajuda chega ao destinatário final.

Mas não é esse o objetivo de minha postagem. Essa matéria mereceria fundamentada análise, já que até ONGs costumam ser criadas para enriquecimento ilícito.

Também alimentei o sonho da casa própria. Morava em São Paulo, com minhas tias, e precisava ter o meu cantinho. Não podia receber amigos em casa, era sempre cobrada e, de certa forma, lembrada  que não tinha qualquer direito ali. Mas estava cursando a faculdade e meu salário não permitia que assumisse compromisso  para pagamento de prestações. Assim, tentava economizar, todos os meses, uma pequena quantia, já que, com  uma  entrada, as prestações ficariam menores e, depois de formada, poderia, então, ter meu imovel.


(foto primeiro apartamento)
O dia sonhado chegou. O apartamento era minúsculo, mas era meu. Que alegria! Podia sair e chegar a qualquer hora, sem dar satisfações a ninguém. Podia passar a noite inteira lendo ou assistindo televisão, se assim o desejasse. Podia receber meus amigos e minha família que morava em Minas Gerais. Não importava  faltar dinheiro para grandes investimentos. O problema, que constatei depois, é que não possuía qualquer experiência para preencher seu espaço, mesmo pequeno. E fiz muitas bobagens. Procurei uma fábrica que vendia móveis de baixo custo, escolhi os de que gostei e aguardei, ansiosamente, por recebê-los. Hoje só me resta rir da situação. Não eram adequados para o ambiente. Grandes e desconfortáveis. Nada entendia de decoração, mas procurei colocá-los de uma forma que tornasse agradável meu pequeno apartamento. E não me preocupei mais com o fato. O importante era possuir um bem tão almejado e, com ele, minha liberdade, esta, sem preço. Em uma coisa tive muita sorte : o bairro. Morava na zona sul e tinha tudo perto, um privilégio em São Paulo.

Durante muito tempo tive que deixá-lo assim. Comecei, mais uma vez, a juntar meu dinheirinho, até que me propus a trocar aqueles móveis. Aí, mais experiente, fui a um local onde elaboravam projetos e comprei tudo na medida certa. Não havia luxo, mas um ambiente que eu amava. Afinal, morava sozinha e não precisava de muitas coisas.

                                                        
(segunda decoração)
                                                       
O primeiro imóvel é o mais difícil de se adquirir. Depois, para passar a outro, já temos um capital por ele representado, o que significa crédito . Pensei em trocá-lo por um maior,  depois de quitado, mas resolvi voltar para Belo Horizonte e não valia a pena investir em São Paulo.

Aqui, com a ajuda de minhas irmãs, que já moravam em BH,  encontrei meu atual apartamento. Este sim, é o imóvel dos meus sonhos. Ninguém chega na porta e diz que viu tudo, como acontecia com o anterior. É espaçoso, arejado e muito, muito bonito. Também, quando o comprei já era outra pessoa, diferente da jovem que começava a andar com os próprios pés.  Demorei uns dois anos para reformá-lo e decorá-lo. E ainda hoje, quando vejo uma peça bonita, principalmente esculturas, compro.

                                                              
                                                    (Auguste Rodin)

                                                                (Camille Claudel)
                                       
Não tenho uma peça de Auguste Rodin, ou de sua infeliz amante Camille Claudel, mas nosso artesanato é muito rico e existem no mercado obras maravilhosas para se decorar um ambiente.

                                            (foto Marilene)

                                                      (foto Marilene)

Vitórias não chegam por acaso. Partem de um pequeno sonho, que nada custa. Sem sonhos não vamos a parte alguma. Não me refiro à ambição desmedida, mas à busca do que nos vai fazer feliz. Temos que conciliar trabalho (de onde vem nosso sustento, nossa capacidade para ter o que desejamos) e lazer ( uso e gozo do que possuímos). Não se ganha para guardar, para acumular fortunas. Quem irá usufruir delas? Concordo de forma absoluta com o que dizia meu pai, no sentido de que o que vem de graça não tem valor e logo vai embora. Pais que se preocupam em deixar muitos bens para os filhos, abrindo mão, totalmente, de seus pequenos prazeres, podem estar certos de que os filhos os colocarão fora em um piscar de olhos. Não estou sendo pessimista. É uma constatação baseada em exemplos que já vivenciei.  Só com uma formação adequada, os filhos aprenderão a lutar  por seus ideais,  saboreando cada  conquista, independente da condição financeira familiar. E assim saberão valorizar a vida de seus pais e a sua própria.
                                

2 comentários:

  1. INTERESSANTE REVER SEU ANTIGO AP.
    AS ESCULTURAS UTILIZADAS NA POSTAGEM SÃO MARAVILHOSAS.
    E CONCORDO PLENAMENTE COM SUAS CONCLUSÕES ACERCA
    DO TEMA ABORDADO.

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  2. É bacana mesmo rever o ap,as fotos, e a sua elegancia! saudades!!!

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